Danza della pace 2/2

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  -Chegamos! Finalmente, não estava mais aguentando esse cheiro fétido, lá dentro é bem cheiroso, a senhorita vai gostar.

  -Imagino que sim, Romeu... -suas palavras distantes concordavam mais por instinto do que por razão- Ateliê agradável... Não seria melhor que ele estivesse no centro? As vendas aumentariam muito.

  -Ele é muito talentoso, conquistou um bom dinheiro com seu trabalho, mas ainda não é o bastante para se mudar daqui, ele tem tantos gastos com a irmã, o máximo que conseguiu foi deixar seu local de trabalho habitável. Agora vamos, vamos, não podemos demorar, quero sair daqui o mais rápido possível.

  Eles entraram, Liza constatou que o cocheiro não estava mentindo em relação ao odor, a fragrância de um incenso, que lembrava alfazemas, infestava o local. De uma porta nos fundos saiu um homem baixo, seu cabelo era curto e preto, porte físico imponente.

  -Pelo brasão na carruagem presumo que foram enviados pela realeza.

  -Eu sou a dama de companhia da princesa, vim encomendar os vestidos para o baile.

  -Me siga, por favor, meu “verdadeiro” local de trabalho é lá atrás, aqui é apenas para receber os clientes -Ele deu uma risada enquanto retornava para a pequena sala de onde saiu, acompanhado de Elizabeth- Pela demora achei que não mais precisassem de meus serviços.

  -O senhor é muito bem visto como costureiro, Luna fez questão.

  -É sempre um prazer servir a coroa! Bom, o vestido da princesa será bem trabalhoso, vou demorar para completá-lo, para que não fique esperando horas e mais horas, vamos começar pelo seu. -Ele caminhou até um canto escuro da sala, abaixou-se e pegou um antigo baú que estava praticamente camuflado em meio a tantas tralhas, abriu-o com velocidade e retirou seu conteúdo: tecidos de diversas tonalidades de azul- Cores vibrantes são uma boa pedida, quero que minhas clientes se destaquem!

  Sem nenhum objeção aparente ele continuou seu trabalho,experimentou várias combinações com os panos, seu olhar crítico não deixava passar o mínimo detalhe, sua criatividade permitiu o uso, até mesmo, de uma renda branca que cobria a parte frontal e só cessava na cintura.
 
  A dama de companhia real apenas observava extasiada a criação de um vestido longo rodado que imitava com perfeição um céu claro e sem nuvens.

  -É...Simplesmente lindo, me sinto quase uma rainha.

  -Que bom, fico feliz por você, pelo menos alguém por aqui foi agraciado com os prazeres da sorte.

  Ela franziu a testa ao sentir certa mágoa em sua voz.

  -O que quer dizer com isso?

  -A senhorita sabe muito bem, não acho que seja necessário explicar.

  Um silêncio profundo se firmou no ambiente durante alguns segundos, o costureiro continuava alinhavando a peça que produzia, dessa vez esboçando reação nenhuma.

-Sua irmã, o nome dela é Sandra, não é?- A garota disse quebrando a calmaria

  -É

  E esse foi o último som ouvido durante as próximas duas horas, até que o pequeno homem constatou que poderia terminar seu serviço sem a presença de Liza, e que esta poderia retornar ao castelo. Ambos conversaram apenas o necessário para combinar o valor que seria pago, apesar dele estar agindo com uma incrível naturalidade, a jovem não conseguia tirar de sua cabeça o  episódio que ocorrera mais cedo, ele tinha ódio por algum motivo que ela não entendia, seria por conta da sorte de não ter parentes debilitados? Ela também sofreu com o medo de perder alguém, não era justo ser considerada sortuda.

  Para Eliza, o caminho de volta já não parecia mais tão alegre, as ruas não eram tão atrativas. Logo entendeu que não era a paisagem que tinha mudado.

Atenciosamente, Elizabeth: O trono de nenúfar (Livro Pausado)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora