— Tudo bem... Me conta. — pedi. Daquela vez, eu iria ouvir.

Suspirou algumas vezes, mas logo levou sua mão até meu ombro e apertou um pouco, começando:

— Tudo bem... Bem... M-minha tia... — Sua voz rouca gaguejou e seus dedos me apertaram. — Ela não era de fato... Malvada quando estava por aqui-

— Espera, hyung... — abri meus olhos, encontrando os seus. — Quem... Quem criou você? Como e por que que sua mãe estava presente quando você tinha onze anos para... Para... — Tentar te matar. Era o que eu queria dizer, mas não consegui.

Fechou seus olhos.

— Fui criado por minha mãe até meus onze anos de idade. — sussurra. — Mas não me lembro de sequer um dia ao lado dela... Só me lembro da minha tia. — A mão em meu ombro se encolheu. — Jeongguk, é por isso que não tive infância. Literalmente... Não tive uma. Entende que só me lembro... De depois?

Engulo em seco antes de sussurrar:

— Entendo... Tudo bem... Continue.

Balançou a cabeça, se aconchegou um pouco, mas continuou:

— Certo... Hum, minha tia não era do tipo cruel, ela só me ignorava. Às vezes me ofendia, mas nunca... Nunca era muito sério. — comecei a acariciar seu pescoço, me focando ali enquanto ele falava e eu ouvia. — Só que teve um tempo que piorou... E piorou... Ela começou a me culpar pelo o que aconteceu com a minha mãe, ela também sempre odiou o fato de eu não ser 100% coreano. O cabelo loiro, nunca definitivamente o tive antes de ela ir embora.

— Como assim?

— Ela me levava para pintar quase toda semana... Minha cabeça parecia uma aberração pra ela. — disse, sem ânimo. — Sempre fiquei de cabeça baixa e obedeci. Mas... Ela começou a ficar muito violenta, ela... Ela é psicótica. Teve um tempo que não aguentei mais ficar aqui. Passei a semana na casa de Taemin, e quando voltei, ela tinha ido embora... Eu nunca mais a vi desde então, só... Só fiquei sabendo pelo pai do Minjae...

— Quando? — me olhou. — Quando ela foi embora?

Ponderou um pouco, porém, disse:

— Foi... Quatro meses antes de eu ir para o ensino médio. — respondeu.

— Entendo... — deixei-me esparramar-me ainda mais no colchão, me sentindo melancólico. — Eu sinto muito... — fitei-o, acariciando suas bochechas.

Aquelas coisas eram tão maldosas, pareciam quase surreais para mim. Era o tipo de tragédia que, até então, eu só via acontecer em filmes de televisão. Nunca conheci ou encontrei alguém que tivesse passado por coisas do tipo, não sabia como reagir, ainda mais por ser Jimin. Eu estava chocado, um pouco incrédulo e muito triste; mas... Me sentia necessitado também. Queria abraçá-lo até o fim, até tudo acabar... Queria que tudo pudesse acabar, e que ele apenas não pensasse mais no passado.

Eu quero muito ficar com ele!  Ainda mais agora.

É impossível não sentir vontade de estar e cuidar dele agora. Sempre senti, só que... Muito mais agora. Quero mostrá-lo o que é ser realmente amado.

Oh, Deus...

— É-é que... — A voz, a voz carregada se fez presente e logo pressionei os lábios, me sentindo amuado. — É q-que às vezes é difícil sentir q-que desde o começo, fui um erro... — ele soltou meu ombro, juntando as mãos em seu rosto, cobrindo-se. — Porque toda a f-família que tenho sempre só tentou m-me agredir, me machucar... O que eu deveria p-pensar, além de que é o que mereço ou que é verdade? V-você pode entender como me sinto?

Meu amigo não tão imaginário {jikook} EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora