Prólogo

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"No céu de Alexandria
as estrelas falam
mitologia"
-Eugénia Tabosa

  Já se passava das cinco da tarde quando o garoto de apenas sete anos brincava entre as árvores, seus cabelos negros balançavam com a brisa suave e seus olhos azuis brilhavam em contraste com a floresta, na sua mão, uma espada de madeira com um cabo detalhado de metal, reluzia sobre o pôr do sol.

Correndo pela grama rasa, Isaac foi adentrando a floresta, esquecendo-se completamente dos avisos de fronteira. As temidas ninfas habitavam aquele lugar e os acordos com o rei eram claros, elas permaneceriam ali, sem ferir ou atrair nenhum humano, contanto que eles não ousassem perturba-lás, entretanto, o menino era jovem, movido pelas estórias criadas em sua cabeça, cobiçava o desejo de apreciar uma ninfa.

Ele correu.
Atravessando os limites, sentiu o clima mudar, daquele lado da floresta o vento era fresco, batia em suas bochechas proporcionado um carinho deleitoso, o céu era mais azul, banhado por nuvens brancas, os campos eram mais verdes e recheados das mais belas flores. Isaac, entretido com toda aquela paisagem, caminhou até à margem do rio admirando suas águas transparentes. Se ajoelhou e esticou a pequena mão sobre a superfície, ouvindo ao fundo a voz de Nathaniel, o guarda designado por seu pai para observá-lo enquanto brincasse na floresta, mas o garoto com toda sua esperteza conseguiu despista-lo, todavia, parecia que o mesmo se aproximava e logo encontraria Isaac no lado proibido.

Levado pela ansiedade, Isaac não pensou duas vezes, afundou sua mão sentindo a água gelada contra seus dedos, era um sensação agradável e que espalhava arrepios pelo seu corpo. Subitamente, algo o agarrou, uma mão entrelaçou-se na sua e antes que o garoto pudesse gritar, foi puxado para o fundo, sentindo a água encher seus pulmões.
Ele se debatia, sentindo suas forças se esvaírem, se soltou e conseguiu subir até a superfície segurando com dificuldade em um tronco que boiava. O menino ainda com medo do que o tinha puxado olhou para os lados enquanto tentava controlar sua respiração. O outro lado do tronco pesou, uma menina de cabelos dourados e ondulados que iam até a cintura, pele branca dourada como os raios de sol e olhos verdes, porém, acinzentados como um nevoeiro o encarava com um sorriso traquino nos lábios.

— Você não deveria estar aqui..-Balbuciou a garota sentando com agilidade no tronco enquanto balançava as pequenas pernas sobre a água- Minha mãe ficará furiosa quando souber que um humano apareceu por aqui.

Isaac não conseguia proferir uma palavra, era verídico o que seus pais falavam, as ninfas possuíam uma beleza inebriante, uma voz aveludada que deixaria qualquer pessoa inerte imaginando se tudo aquilo era apenas um sonho, até um menino de sete anos.

—Nunca tinha visto um humano-Continuou a menina ninfa dando de ombros- Vocês não são tão amedrontadores assim, mamãe me disse que vocês eram horrendos, o próprio mal.

Isaac empinou o nariz parecendo completamente irritado com aquele comentário da garota, rapidamente ele se esticou até alcançar a beirada do rio e ficou em pé sacudindo suas roupas molhadas.

—Pois o que você sabe é mentira, meu pai me contou. Falou que todas as ninfas são do mal, perigosas, que eu não deveria me aproximar de vocês. São tão más que só podem viver aqui, nessa floresta.

A menina ficou séria, aparentemente o conflito entre os humanos e os seres mágicos atingiram até mesmo as crianças que nem ao menos presenciaram a guerra ou sabiam o motivo para tanto rancor de ambos os lados.
Mas desde que ambos se lembre, era assim, na floresta de Scrinnfel moravam as ninfas e todos os outros seres mágicos, desde fadas até duendes, enquanto os humanos viviam do outro lado, próximos ao litoral, comandados pelo Rei Fillipe, pai de Isaac. Os dois mundos não se misturavam e viviam naquele conflito eterno.

—Eu sou a princesa Ariadne, humano. Cuidado com as suas palavras, saiba que eu poderia contar tudo para minha mãe. Você ficaria aqui, preso e pagaria por tudo o que seu povo já fez para nós. Por culpa de vocês, meu pai...ele..eu não o tenho mais comigo. Vocês o tiraram..

A menina não pode terminar a fala, uma flecha passou por ela, raspando seu rosto, deixando um pequeno risco em sua face límpida, fazendo com o que o sangue escorresse e caísse nas águas daquele rio, avisando para todas as ninfas que uma das suas tinha sido ferida
Ariadne colocou a mão no rosto assustada e Isaac se virou a tempo de ver Nathaniel em cima de uma grande pedra, próximo às fronteiras. Ele gritou, mandando Isaac retornar, o menino olhou duvidoso para a ninfa machucada e por um momento quis ir até ela ajudar, mas sabia que já estava muito encrencado apenas por ter entrado na floresta proibida.
Quando deu apenas alguns passos em direção a Nathaniel, ouviu um barulho alto, como algo emergindo. Ao se virar, pode ver uma mulher alta, de cabelos dourados e escorridos, segurando um cetro prata com uma pedra verde na sua ponta olhar-ló duramente e com apenas ódio.

—Vejo que ousam quebrar os acordos. Vejo que ousam invadir o meu território, ainda por cima, tiveram a ousadia de ferir a minha filha..-Sua voz era seca, mas protetora como uma mãe deveria ser, os olhos dela recaíram sobre Nathaniel- Se for esperto, pegará está criança e irá embora neste exato momento. Sou fiel aos acordos até certo ponto, e levando em conta suas violações, não serei amável em aplicar as punições que merece.

Nathaniel desceu de onde estava, caminhou a passos rápido até Isaac, com uma reverência rápida se desculpou por acertar a jovem princesa, jamais machucaria uma criança, mesmo uma ninfa, apenas queria afastá-la de Isaac para garantir sua segurança.
O menino foi arrastado, sendo levado de volta pelas entranhas da floresta para a sua casa, saberia que uma punição o aguardaria quando chegasse, e a última coisa de que se lembrava era dos olhos acusatórios de Ariadne enquanto ele adentrava e já ia embora, ainda escutando a voz dela em sua cabeça "Por culpa de vocês, o meu pai...ele..eu não o tenho mais comigo. Vocês o tiraram.."

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