Capítulo 6

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A conversa com o pai não havia sido exatamente o que Elizabeth esperava. Quando o duque entrara em seu escritório mostrara enorme insatisfação em encontrar Elizabeth ali, principalmente porque estava desacompanhada.

Não era característico de Lizzie seguir convenções sociais, mas seu pai era fiel a elas e não aceitava o comportamento da filha mais velha. Como consequência, Elizabeth ouviu um discurso irritado que durou cerca de quarenta minutos após o pai fazê-la esperar do lado de fora do escritório até que sua reunião de negócios terminasse.

Ficara claro para Elizabeth que o fato de ter entrado primeiro no escritório do pai não importara de nada para ele, afinal, não fora uma convidada, ao contrário do irritante senhor que a fitou com um sorrisinho satisfeito quando o pai ordenou que se retirasse até que seus compromissos já tivessem acabado.

Como consequência, Elizabeth fora confrontar o pai em um estado de humor péssimo, e o encontrara não mais feliz que ela. Ouvira-lo dizer por diversas vezes que fizera um péssimo trabalho educando-a e que tal comportamento mostrado naquele dia por ela só faziam reforçar nele a certeza de que era melhor que se casasse o mais rápido possível.

Sendo assim, o pai lhe negara um adiamento do prazo para que escolhesse um noivo.

"Como se não bastasse me embaraçar na frente dos nossos convidados, agora faz o mesmo na frente dos empregados!" O duque bradara, visivelmente possesso "Pelo menos o Sr. Bolton teve a cortesia de fingir que nada demais estava acontecendo... Juro que vou mandá-la para um convento, Elizabeth...!"

Mas as ameaças dele Elizabeth já não ouvia mais. Tudo que ela conseguira ouvir fora "Senhor Bolton" e realização de que não se tratava de um artista renomado da Itália, mas sim de um simples empregado do ducado, provavelmente um arrendatário de terra ou chefe dos estábulos...

A ira subiu ao rosto de Elizabeth, colorindo sua face de vermelha. Quem aquele homem achava que era, dirigindo-se a ela com toda aquela intimidade? Elizabeth estava tão irada que mal teve tempo de se dar conta que não tinha uma razão sólida para odiá-lo. Tirando a ironia com a qual a tratara, em momento nenhum fora mal educado ou descortês.

Mas eram o tom condescendente e o sorrisinho arrogante dele que faziam Elizabeth perder a cabeça!

Depois de alguns minutos respirando fundo e refletindo com razão, perguntou-se porque estava gastando tantas energias pensando em um simples arrendatário de terra. Jamais voltaria a ver o Sr. Bolton e seus penetrantes olhos cor de âmbar novamente. Devia focar toda sua atenção em um assunto muito mais urgente: Pensar em um marido adequado o mais rápido possível.

Jamie escoltou o Duque pela recém pintada igreja, mostrando os detalhes que ainda estavam pendentes.

- Não deve demorar mais que uma semana, eu suponho – o imponente senhor afirmou, em tom de aprovação – Bom trabalho, Bolton.

Jamie assentiu, sabendo que vindo do exigente Duque, aquele era um enorme elogio.

Durante o resto da manhã, visitaram os estábulos e a propriedade perto do rio, onde o senhor planejava construir um complexo sistema de irrigação no futuro. O duque havia mencionado tal projeto para Jamie, mas até este momento nunca entrara em detalhes. Após ditar algumas ordens para seu secretário pessoal que os acompanhava, o Duque dirigiu sua total atenção à Jamie. Contou sobre as características do rio, a conformação da terra e suas idéias para planejar um sistema de irrigação.

- Quero saber quais são seus planos, Sr Bolton – O Duque foi direto ao assunto, como de costume – Planejo iniciar este projeto muito em breve e quero que esteja à frente dele.

- Vossa Graça, seria um enorme prazer – Jamie confessou honestamente – Mas tenho que informá-lo novamente que não sou formalmente...

- Besteira – o Duque cortou-o – Quero um projeto na minha mesa até o final da semana.

Com isso, o Duque retirou-se, deixando Jamie sozinho com seus pensamentos. Um brilho de excitação surgiu em seus olhos. O Duque realmente o colocara a frente de um projeto enorme, que demandava conhecimentos técnicos de alto grau e Jamie não estaria apenas executando-o, mas também planejando-o.

Com a cabeça fervendo de idéias, Jamie apertou o passo aproximando-se do rio. Precisava conhecer as terras, as características do solo. Complicadas equações sobre sistemas hidráulicos preenchiam diversas folhas em sua cama horas depois. Após reclamações veementes de Erik e dos outros homens sobre as luzes de vela dentro do quarto que dividiam, Jamie finalmente cedeu aos apelos dos homens e deitou-se, mas demorou para pegar no sono.

Na manhã seguinte, levou um esboço do seu projeto para o Duque, que surpreso com a velocidade de resposta de Jamie, convidou-o para juntar-se a ele para um copo de conhaque em seu escritório.

O Duque de Inswood notara o grande potencial que Jamie Bolton mostrava em seu primeiro encontro, e sua suspeitas se confirmavam após cada projeto finalizado. Bolton era um bom trabalhador, com braços fortes, uma mente ágil e sempre acrescentava excelentes sugestões aos projetos de renovação ou construção que o Duque lhe apresentava.

Desta vez, ao invés de contratar um engenheiro estrangeiro, o Duque decidira mais uma vez seguir seus instintos e convocara Jamie Bolton para um teste. Menos de 24 horas, provara mais uma vez porque sempre dava ouvido aos seus sentidos.

Levou o jovem até o seu escritório, onde com um copo de conhaque na mão, extraiu dele detalhes sobre toda sua vida. Pôde ver no rosto de Jamie Bolton que o mesmo não sentia-se confortável compartilhando tantos detalhes sobre sua vida, porém precisava saber tudo sobre o rapaz se realmente planejava delegar a ele uma função tão importante.

Durante os relatos de Jamie sobre a morte de seus pais, seu tempo trabalhando no porto, o roubo de seus projetos e como finalmente decidira trabalhar com construção o Duque manteve-se rígido, com a postura e a expressão facial inalteradas. Seu grosso bigode meticulosamente escovado e seus olhos escuros mantiveram-se firmes durante todo o relato de Jamie, interrompendo-o apenas para fazer mais perguntas.

- Pois bem – o Duque terminou a conversa, levantando-se, obrigando Jamie a fazer o mesmo – A biblioteca desta casa é bem estocada com livros dos mais diversos temas, como já bem sabe, Bolton. E, infelizmente, quase não recebe visitas – O duque ponderou, sabendo que os filhos em geral tinham preferência em atividades ao ar livre ou entretinham-se na sala de jogos, reservando a leitura para quando recolhiam-se à privacidade de seus quartos - É novamente bem vindo para explorá-la. Arranjarei para que seja instalada uma mesa onde o senhor possa trabalhar sem incomodar seus colegas.

- Obrigado, vossa Graça – Jamie mal pode acreditar.

- Em breve veremos o que fazer em relação às suas instalações. Preciso que esteja à minha disposição o tempo todo. Quero que concentre-se neste projeto inteiramente a partir de agora. Diga àquele nórdico...er.. Bork?

- Bjorn, senhor.

- Sim – o Duque abotou as vestes – Diga a ele que é o novo responsável pela finalização das obras da Igreja e espero uma conclusão das mesmas até o final desta semana.

Jamie mal teve tempo de digerir todas aquelas informações. Em menos de uma hora, sua vida dera uma enorme reviravolta. Erik soube das novidades pelo amigo e propôs que comemorassem a nova fase da vida de Jaime com vinho e mulheres da estalagem do vilarejo, mas a cabeça de Jamie estava fervilhando com idéias. Suas mãos coçavam para ilustrá-las no papel.

O Duque cumprira sua promessa e menos de dois dias depois, Jamie já estava instalado na biblioteca da enorme casa ducal. Em breve, o duque o instalaria em um escritório próprio, mas no momento Jamie precisava de acesso aos livros e não podia sentir-se mais em casa do que no ambiente rodeado por estantes que alcançavam o teto.

E foi com revigorada paixão e uma enorme sede de se provar que Jamie Bolton iniciou o primeiro passo para todas as novidades que mudariam para sempre a sua vida.

A Filha do DuqueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora