Capítulo 5

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Elizabeth acordou mais cedo naquela manhã. Geralmente dormia até o meio da manhã, mas ainda não eram nem oito horas e já estava de pé, andando de um lado pro outro do quarto, ansiosamente.

Janet, sua criada pessoal, entrou apressada no quarto após ser solicitada pela jovem Lady. Ajudou Elizabeth a sair de sua camisola branca e vestiu-a com um belo vestido azul claro, ideal para o início da manhã. Tirou cuidadosamente os grampos do cabelo de Lizzie e arrumou-os para cima, presos nas laterais.

Apesar de ainda não serem moças casadas, Lauren e Elizabeth haviam ganhado do pai o privilégio de terem cada uma sua própria criada pessoal. Janet estava com Elizabeth já há alguns anos e sabia de todas as preferências da jovem, como por exemplo a aversão da jovem lady a vestidos amarelos, ou sua preferência por presilhas de cabelo ao invés de laços.

Naquela manhã, Elizabeth recebeu sua primeira refeicão do dia na cama por opção própria. O pai geralmente acordava mais cedo que os filhos e tinha o costume de tomar seu desjejum em seus aposentos. Lizzie deu um gole rápido no leite quente com chocolate e após uma mordida na torrada, saiu apressada do quarto, esperando surpreender o pai quando o mesmo chegasse ao escritório.

Para sua grata surpresa, não havia ninguém lá, apesar de o relógio apontar que faltavam dez minutos para as nove horas. Sem cerimônias, entrou no cômodo de trabalho do pai e fechou a porta atrás de si. Era muito mais conveniente aguardá-lo ali.

Apesar de negar para si mesmo, Elizabeth estava nervosa. O duque de Inswood era um homem sério, controlador e exigente. Durante toda sua infância e adolescência, Elizabeth tivera atritos com o pai pois, ao contrário dos irmãos, se dava o direito de discordar dele.

Mas, apesar de se considerar uma jovem bem resolvida e forte, sabia até onde sua liberdade podia ir. A verdade era que era totalmente dependente de seu pai, finaceira e socialmente, e tinha certeza que a decisão final na questão do casamento seria dele.

Nesses casos, a melhor estratégia não era bater de frente com o duque, mas sim adoçá-lo com uma conversa serena e racional. O pai era um homem íntegro e decidido, mas amava os filhos com todo seu coração. Um pouco de bajulação também ajudaria.

Animando-se com seus próprios pensamentos, Elizabeth olhou ao seu redor e sentou na enorme cadeira onde o duque passava muitas das suas horas todos os dias. Na enorme mesa de mogno, dentre tantos objetos que ilustravam a ostentação com a qual o homem vivia, uma pequena moldura chamou sua atenção.

Num quadro já um pouco gasto, estava a imagem dela acompanhada de George, Lucas e Lauren. Elizabeth não se lembrava de ter posado para aquela pintura, mas não devia ter mais que dez ou doze anos quando a ilustração fora feita. Foi tomada por um aperto no coração ao se deparar que o pai os mantinha ali perto de si, no seu lugar mais reservado.

Sentiu um acreéscimo de ternura pelo duque que a deixou desconcertada. Sendo racional, tinha que admitir: de sua própria maneira, o duque tinha sido um pai melhor que o esperado.

Entre os membros da ton, alta sociedade da época, era incomum que familiares demonstrassem afeto abertamente. O duque sempre fora um homem rígido e por algumas vezes até ríspido,e apesar da morte precoce da eposa tê-lo deixado profundamente entristecido, jamais faltara com respeito ou consideração aos filhos. Demonstrava genuino interesse em como estavam, ou quais atividades lhes interessava no momento.

Elizabeth lembrava-se que durante toda sua infância e juventude, ao menos uma vez por semana era chamada naquele mesmo escritório onde se encontrava no momento. O pai a sentava de frente para ele e conversava com ela durante horas, fazendo-lhe perguntas e mostrando verdadeira disposição em ouvir as respostas. Ele queria saber o que Elizabeth estava aprendendo com a tutora, quais assuntos mais gostava de estudar, como estavam suas aulas de desenho, de música, de idiomas, de etiqueta... George, Lucas e Lauren também tinham suas sessões particulares, embora fosse George, como herdeiro do ducado, quem passasse mais horas por semanas no escritório do pai, aprendendo desde muito cedo a incrível tarefa de administrar uma propriedade.

A Filha do DuqueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora