[01] cheiro de saudade

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— Como você ta' rapaz? – papai fala e não escuto Rafael responder, pois coloco meus fones novamente e dou play em uma playlist aleatória no volume máximo.

Corto mais um pedaço gordo de bolo, coloco em meu prato e subo escadas para o meu antigo quarto e assim como tudo na casa, eles estão do mesmo jeito que o deixei na última vez. Minha cama parada em baixo da janela que tem a vista para a piscina, meu velho edredom de borboletas e meus antigos quadros de princesa ainda presos nas paredes. O pequeno jarro com duas flores brancas, que estava em uma das prateleiras que cercava o quarto, denunciava que Tia Ana esteve ali.

Sento-me na cama com as pernas cruzadas e saboreio os meu pedaço de bolo enquanto eu sentia a brisa do mar bater em minhas costas. Quando termino de comer, pego meu celular e olho minhas ultimas mensagens. Duas da minha melhor amiga e nenhuma do meu namorado.

"Cheguei" Encaminho para os dois e jogo o celular sobre a cama. Caminho até uma das minhas malas que papai já trouxe para cima e troco de roupa. Praia nenhuma combina com calça jeans e blusa de manga longa. Visto um biquíni preto e depois um vestido por cima, calço meus chinelos e desço para a piscina e para encontrar tia Ana e mamãe. As duas estão na cozinha conversando animadas e preparando o que parece ser o nosso almoço.

— Obrigado pelas flores, tia Ana – digo enquanto sento-me na mesa e observo a duas.

— Que bom que você gostou, Rafa. Agora me diz, animada para a faculdade?

Animada não era bem a palavra certa. Eu estava era mesmo assustada. Não imaginava nem um pouco como que seria dali para frente, ensino médio é igual a todo o ensino fundamental, agora faculdade para mim parecia ser um bicho de sete cabeças.

— Assustada, isso sim – digo arrancando sorriso das duas.

— Ela não para de falar no início das aulas e como vai sofrer sem a amiga do lado – mamãe diz me fazendo lembrar que Sarah escolheu um curso totalmente diferente do meu.

— Nem me lembre – comento. Só de imaginar que eu e Sarah não nos veríamos mais com frequência me chateava.

— Mas assim vocês irão ter mais assuntos para conversar, Rafa. Pensa por esse lado. – tia Ana falou a mesma coisa que minha mãe tinha comentado quando cheguei chorando por conta que não iria mais estudar com Sarah.

As observo por mais um tempo antes de sair de casa e ir para a área da piscina. Vou até a grade que separa a o deck de um grande campo livre um pouco abaixo da casa e sinto o cheiro do mar. O cheiro que eu tanto senti saudades. Tiro meus chinelos e o vestido antes de pular na piscina.

Dou um mergulho e nado por baixo da agua toda a extensão da piscina.

— Ual, belo mergulho nadadora. – escuto sua voz em minhas costas mais uma vez naquele dia e apenas o ignoro, assim como fiz pela manhã. Mergulho novamente e dessa vez paro no meio da piscina. Procuro Rafael com o olhar e o encontro em uma cadeira de sol com meu vestido em seu rosto.

— Até pensei que poderia sentir saudades de mim, mas não do meu cheiro. – Mergulho de novo, mas dessa vez só para molhar o cabelo mais um pouco e depois sorrio para ele, que me olha irritado.

— Então quer dizer que anda pensando em mim?

Não respondo, apenas mergulho novamente e nado até o final da piscina. 

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Saio do meu quarto com o mesmo vestido de mais cedo e com uma toalha em volta da cabeça. Desço para a cozinha sentindo o cheiro da maravilhosa comida da Tia Ana, já que em minha casa o bom cheiro de comida é pertencente à dona Regina, nossa empregada.

Desço e encontro os três mosquiteiros rindo no sofá com uma garrafa de vinho pela metade no chão. Papai, mamãe e Tia Ana.

— O almoço já está pronto? – pergunto.

— Ta' servido na parte de fora, querida. – papai me fala depois de se recuperar de uma crise de risos causada por algum acontecimento do passado. Era sempre assim quando eles se encontravam, iam embora várias garrafas de vinho e um bom tempo de conversa se lembrando do passado.

Os deixo na sala se divertindo e vou para a pequena varada que o almoço estava servido. Encontro com Rafael atacando as panelas e sento a sua frente. Coloco meu almoço e tento comer calada, mas ele por incrível que pareça, faz tudo para me irritar.

— Pra qual faculdade você passou? – fala com a boca ainda cheia de comida me fazendo ter ânsia com sua má educação.

— Design e você? – pergunto por educação e um pouco de curiosidade.

— Direito

Faço careta com sua resposta. Rafael sempre detestou direito e todo o mundo burocrático que o envolve.

— Mas você não era você que não queria ser que nem seu pai? – falo e Rafael me responde com um movimento de ombros. Não insisto mais na conversa e volto a minha atenção para o prato, mas com a pergunta rondando em minha cabeça. Se ele odeia Direito, por que está fazendo?

Tento tirar os pensamentos e hipóteses na minha cabeça na hora que meus pais e tia Ana chegam na varanda sorrindo um para o outro. Não era nem três da tarde e eles já haviam secado a primeira garrafa de vinho. Termino de come no mesmo momento que Rafael termina a dele, mas ao contrário do senhor sensação, levo meus pratos para dentro e volto para fazer companhia aos meus pais, já não o encontrando na mesa.

— Rafa, querida, você só vai ficar trancada dentro de casa suas férias todas? – tia Ana pergunta e eu já começo a temer o resto de sua frase. – Por que não acompanha Rafael?

— Como?

— É! Você em casa fica trancada o tempo todo também, vai pegar um solzinho filha – papai insiste.

— Eu não fico trancada dentro de casa – me defendo.

— É, mas só sai com o Renan ou a Sarah. – é a vez da minha mãe.

— Qual o problema? – pergunto na defensiva, mas não obtenho resposta.

— Rafael, leva a Rafa com você – papai grita ao ver Rafa saindo da garagem com sua prancha e indo em direção ao carro.

Desde quando aquele garoto surfa? Não era ele que sempre morria de medo do mar?

— Se ela quiser vir, tudo certo – ele fala sem dar muita importância e deixa toda sua atenção em como colocar a enorme prancha em cima dentro do carro. Os três olhares se viram para mim esperando minha resposta. Dou-me por vencida e respondo:

— Eu só vou trocar de roupa. – digo já indo para dentro de casa, deixando meus pais e tia Ana felizes. Eu só espero não me arrepender de tal decisão. 



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Domingo demora muito a chegar! Sejam Bem vindos -novamente- ao meu primeiro romance praieiro e brasileiro, escrito em 2017! Estou muito feliz, tanto que nem aguentei até domingo! 

Apresento para vocês, Rafael e Rafaela!

Rafael RafaelaWhere stories live. Discover now