6 - Acerto de contas

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Havia algo culposo na forma como o anoitecer se derramava pela pista enquanto ele ponderava irrequieto se valia a pena mesmo manter aquilo escondido de Katerine. Lutava contra sua impaciência, batendo no volante na mesma cadência em que o carro chacoalhava enquanto adentrava na estrada de terra. Não que ele considerasse estar mentindo para ela. Apenas queria resolver aquilo de uma vez por todas, por sua própria conta, sem que ela precisasse se arriscar também.

Se ele tivesse certeza de que ela ficaria de boca fechada e não faria nenhum movimento impensado, até poderia dar uma chance. Mas ela não jogava como ele, e isso elevava os níveis da sua preocupação, porque Katerine acabava agindo conforme seus instintos e sentimentos de justiça.

Daniel bufou. Era por isso que preferia trabalhar sozinho. Ele só se deu bem com Eduardo, mas porque eram irmãos e se entendiam demais. O resto da ASIP era uma dor de cabeça atrás da outra. Tudo bem, Katerine se diferenciava ali, e ele precisava reconhecer — ela era boa no que fazia. Contudo, eles pensavam de forma divergente.

Naqueles dois últimos meses, havia puxado todas as informações que conseguira sobre ela. Procedimento padrão. Sempre fazia isso com quem era colocado para trabalhar com ele, embora houvesse se sentido desconfortável pela primeira vez. Katerine havia estudado em colégios particulares, o pai morrera quando ela tinha uns três anos, possuía um currículo interessante para pouco tempo de serviço. Sem segredos obscuros no passado. Só havia uma lacuna. Dos nove aos quinze anos dela, ela e os irmãos ficaram sob a guarda dos avós maternos. Não encontrou em nenhum documento judicial o motivo, tudo estava bloqueado — bloqueado bem demais até — e ele preferiu não se aprofundar naquilo, e destruiu todo o material que reuniu sobre ela.

Ainda assim, Katerine continuava sendo um mar de imprevisibilidade; ele nunca conseguia calcular qual seria o próximo passo dela.

O celular no bolso vibrou, rompendo com o silêncio do veículo, onde apenas o sibilar agudo do vento gritava em seus ouvidos através das frestas da janela. Ele teria se sobressaltado se não tivesse a consciência de que estava só. Apanhou o aparelho; uma mensagem de sua irmã Gabriela.

"Daniel, eu e uns amigos vamos comprar convites para o jantar da Festa das Nações. Barraca árabe. Quer que eu compre um para você?".

Volveu o celular para o bolso, desligando-o. Não queria interrupções. Seus lábios haviam ressecado durante o percurso, e Daniel sentia as extremidades dos dedos gelarem conforme a noite avançava.

Seus lábios haviam ressecado durante o percurso, e Daniel sentia as extremidades dos dedos gelarem conforme a noite avançava.

Estava há horas na pista, seguindo uma coordenada que havia interceptado da Corporação, e dirigia vagarosamente por conta da irregularidade da estrada. Era um trecho curto de terra, mas perigoso pela falta de acostamento e luminosidade. O matagal se erguia dos dois lados da estrada, que agora tomava um sentido mais íngreme, fazendo Daniel reduzir a marcha do Golf GTI para que o motor não morresse.

Crisântemo Kell (Livro 2 - Saga Ellk) | DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora