I. A ROTINA E O CAOS

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As ruas possuíam a coloração tonalizada entre vinho, amarelo mostarda e marrom. O ar de caráter soturno do outono não impressionava os cidadãos de Lee's Summit; eles apenas resmungavam pedindo que as estações congelantes dessem espaço aos dias quentes do verão.

Peter Bane, assim como a maioria, detestava o inverno da região centro-oeste americana. No rádio tocava uma música country desconhecida, porém repleta de acordes familiares do gênero. Com as mãos no volante, ele deixava-se levar pela paisagem das ruas repletas de adolescentes e crianças carregando suas mochilas, esperando pacientemente o ônibus escolar passar. Buzinou para seus vizinhos, sentindo falta de ter aquela relação íntima que eles compartilhavam com os filhos em seu dia-a-dia.

A calmaria entre as ruas funcionava como um tipo de terapia para si, fazendo-o crer que seria mais um típico dia no Departamento de Polícia de Lee's Summit. Em menos de vinte minutos, Peter estacionava seu automóvel de frente a delegacia.

Havia poucas viaturas à frente do local, o que fez Bane franzir o cenho em confusão. Subiu os poucos degraus e abriu a porta e  o ar do aquecedor atingi-o dando uma sensação de relaxamento aos seus músculos. Em uma rápida olhada contou cinco pessoas pelo lugar até o seu escritório — um número resumido demais para um lugar onde havia mais de mil funcionários à disposição.

Cogitou perguntar para alguém o que estava acontecendo, mas pensava em terminar o relatório que negligenciou no dia anterior, pois antes sentia uma enxaqueca terrível; não podia esquecer que  era cedo demais para ser simpático.

Suspirou ao encarar seu nome gravado na porta de seu escritório:

"Detetive Peter Bane — Departamento de homicídios"

A sala era simples, do jeito como qualquer detetive naquele prédio teria: um birô cinza, em cima uma pilha de papéis do relatório do último caso com um notebook e uma impressora de lado, duas cadeiras giratórias, uma pequena lixeira de plástico verde perto da mesa, um armário cheio de papéis que talvez servissem para alguma coisa e  um quadro-negro cheio de fotos e rabiscado com a resolução do último caso embaixo.

Assim que ligou a luz e fechou a porta atrás de si, retirou o sobretudo azul marinho, jogando-o em cima da cadeira. Passou a mão pelos cabelos castanhos escuros sentindo a preguiça matinal dominar seu corpo. Até agora sua única obrigação naquele momento era entregar o relatório ao capitão e esperar para que mais alguém achasse que era Deus e tirasse a vida de uma pessoa por puro egoísmo; começando assim seu trabalho. Felizmente, a cidade era tranquila e dificilmente havia homicídios. Para todos os efeitos, Lee's Summit tinhas as taxas de crime abaixo de 66% da média nacional, sendo assim um lugar bastante seguro para viver.

Peter sentia que essa seria a sua contribuição para a sociedade onde não se tinha mais esperança: usaria seu brilhante raciocínio lógico para que a cidade fosse mais justa, mesmo que a mudança fosse inexpressiva para muitos. Sua mãe, Olívia, dissera que ele perdera parte de sua sensibilidade desde que entrara para a polícia — o que era em parte verdade. O detetive chegou a ver atrocidades que o ser humano fazia que antes era, no mínimo, impensável para ele. Bane sabia que no mesmo coração em que saía as maiores declarações de amor, poderia sair as maiores crueldades.

Guardou sua arma dentro de uma das duas gavetas que havia em seu birô como de costume e organizou os objetos da mesa para que eles estivessem em perfeita simetria.

Mirou os olhos para o quadro encostado no canto da sala e andou lentamente em sua direção. Fotos de Hilary Smith — uma garota de 17 anos, loira e alta que há dois meses morrera assassinada pelo seu ex-namorado ciumento — estavam destacadas com fita adesiva no meio do quadro. Retirou com cuidado as fotos, lembrando-se dos momentos em que ficou encarando-as, esperando que elas respondessem suas perguntas nas diversas noites em que ele trabalhava até tarde. Organizou aquelas anotações no arquivo, tentando convencer a si mesmo que nunca mais se lembraria daquela adolescente, quando sabia que nunca se esqueceria do rosto sorridente que ela tinha em seu aniversário de 16 anos e quão aflito ficou em pensar que ela poderia ser sua filha.

Limpou o quadro e sentou-se na cadeira enquanto mexia no cordão de seu colar cinza com um pingente de cruz — hábito que havia adquirido nos últimos tempos. A serenidade que o prédio possuía pertubou-o. Abriu o notebook para escrever as últimas linhas do relatório, quando o barulho de multidão invadiu os seus ouvidos como se metade da cidade houvesse ocupado o prédio da polícia. Peter sorriu com a familiaridade que o som produzia. Tudo estava normalizado: o Departamento de Polícia de Lee's Summit estava em caos novamente.

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N/a:

Oi, leitores e leitoras. Tudo beleza?
Confidente é um projeto que tenho idealizado desde que comecei a escrever fanfics da One Direction, mas apenas agora dei minha cara a tapa com ela. Estou bastante insegura com a história, pois me tira da zona de conforto, por isso eu peço ajuda de vocês com o feedback 100% sincero. Por favorzinho!

Meu objetivo é publicar um capítulo por semana todas as segundas. Caso dê problema para atualizar, avisarei!

Para quem quer ler spoilers e acompanhar-me no Facebook, tenho o grupo: Maraíza Santos - Fanfics. O link está na minha bio.

É isso, pessoal. Até!

Confidente [Completo]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt