Capítulo III - Antiga estação de trens

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No meio da história tive uma epifania sobre um dos personagens, mas vai ser revelado no momento certo...

Mais um capítulo saindo do forno de criação, esperando pela revisão. Não esqueçam de comentar ;D

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O ambiente era agradável, como a lanchonete ficava no meio da estrada em uma região aberta, bem arborizada, úmida e fresca. Com a leve brisa, suave e constante, era possível ouvir o farfalhar das folhas das árvores, que eram fartas na região. Oferecendo ao grupo de viajantes que já estavam cansados de ouvir o ruído sem graça do atrito dos pneus no asfalto e o ronco do motor do carro, um som rico e relaxante. As árvores proporcionavam também uma sombra agradável, sem impedir que a brisa soprasse refrescante sobre a pele, aliviando a sensação de calor daquela tarde de fim de primavera que ainda castigava com altas temperaturas. No carro com o ar condicionado ligado a temperatura era sempre agradável, mas fora dele, com o sol a pino, no meio de uma tarde sem nuvens o calor era definitivamente um incômodo. O lugar estava praticamente vazio, se ouvia um burburinho aqui e ali dos poucos clientes que se encontravam espalhados no estabelecimento.

- Bem-vindos a última estação de trem, podem se sentar onde quiserem que eu já vou trazer o cardápio para vocês! - Disse amigavelmente a garçonete, que mal se virou de costas para Ciro começar a soltar suas pérolas com doses homeopáticas de misoginia.

- Aí Denis! Quanto mais paro interior a gente avança, mais gatas elas ficam hein?

- Vai sonhando! Ela é muita areia para o seu caminhão meu amigo! O que você precisa é arrumar uma mulher que te coloque no seu lugar! - Respondeu Denis amigavelmente.

- Pelo amor! Vocês vão acabar morrendo virgens! - Disse Alicia rudemente, avançando através dos dois, enquanto me puxava pela mão em direção a uma mesa qualquer. Visivelmente ela ainda estava irritada com a fome.

- Quem ela acha que ainda é virgem aqui!? - Disse Ciro.

- Deixa para lá parceiro, você conhece minha irmã, ela só está com fome! Vamos lá nos sentar logo e pedir algo porque eu também estou morrendo de fome!

Estávamos todos sentados confortavelmente ao redor da mesa que ficava ao ar livre, curtindo o ambiente agradável que aquela lanchonete de estrada nos proporcionava. Enquanto aguardávamos a garçonete voltar com o cardápio, os dois amigos voltaram a se entreter em uma conversa da qual o assunto não me despertava o menor interesse. Alicia estava sentada ao meu lado, mas não seria nada sábio falar com ela no momento, dava para sentir a energia negativa saltando da pele dela de tanta irritação, então permaneci em silêncio. Mergulhei sozinho em meus pensamentos sobre a história daquela garota e de toda aquela maluquice de cultistas que usaram animais e até crianças como cobaias. Experiências com seres humanos parecia tão desumano e distante de nossa realidade que não conseguia entender como conseguiram cogitar, muito menos praticar uma afronta dessas contra a dignidade humana, ainda mais com pessoas que eram seus vizinhos, que estudaram na mesma escola, pessoas que cresceram junto a eles e foram seus amigos na infância. Parecia irreal, uma obra de fantasia, que essa barbaridade realmente acontecera em um passado tão próximo ao nosso, mas por mais inimaginável, foi real. Abusos inomináveis, feitos por pessoas como nós, tudo em nome de ideologias que pareciam ser a correta na época, que diziam que os fins justificam os meios. Tentei imaginar como seria viver assim, qual seriam as chances de nossa sociedade cair nos encantos de um ditador popular repleto de seguidores, com promessas doces e carisma irresistível, mas que friamente seria capaz de executar outros seres humanos em massa. Por mais que refletisse, sinceramente não encontrava razão plausível para que aquilo pudesse ter acontecido, nem enxergava meios para que voltasse a acontecer. Mas infelizmente, para mostrar até onde podemos chegar, aconteceu e não saber o que seria preciso para que acontecesse novamente em nossa própria sociedade me dava arrepios. Por uma fração de segundos me pareceu que eu havia tido uma epifania e uma fagulha de ideia cruzou meus pensamentos me fazendo questionar.

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