5. Atividade

306 12 16
                                    

Se formos o que produzimos, esta é nossa vida, esta é...

O que consumimos é o que desejamos!

A força de vontade é a inoperância mais exercida,

E quando a estética é a maior façanha que realizamos.

Somos o esgoto e o oxigênio na atmosfera

A mancha no véu do campo gravitacional

Não há ação contra o fim que nos espera!

A natureza sobreviverá! Só morrerá o que é mortal!

Já era! Sua vã atividade coopera para o grã final!

***

5.

 Zamel acordou irritada naquele dia calorento. Já fazia umas duas semanas que estava na Ocupação dividindo quarto com Sibele. E ainda não se acostumara, ao andar pela casa, ver os rapazes em trajes de calor, ou seja, sem camisa, com calções curtos e vestes mais íntimas. Ou, o que era até comum, ver alguém só de toalha ou até coisa mais indiscreta. Isso por que os seis que ainda estavam resistindo ali eram íntimos como irmãos ou mais do que isso.

Era estranho para Mel que passara por tantos squats ver que os libertários dali não eram tão aficionados em demonstrar o visual contracultural o tempo todo. Ao mesmo tempo que também estranhava tamanha falta de pudor em constranger ou não quem os observasse. Quando estavam só os okupas, Diego, Alison e Ivan comumente andavam só de cueca ou sunga pela casa. Exibindo seus corpos e ereções matinais sem nenhum pudor.

Às vezes, até Gui que não morava ali chegava e tirava a camisa. Isso a incomodava de tal forma como se um cílio estivesse constantemente arranhando em seu olho, e não pudesse ter visão de todos os ângulos que na verdade a sua visão lhe permitia. Incomodava tanto quanto por ter incisivo receio de permanecer perto daqueles homens seminus. Até porque as vezes notava certa nuance de exibicionismo neles. O assunto foi debatido, mas os rapazes justificaram o calor como determinante de tal comportamento.

Ela há muito aprendera que não se deve dar confiança demasiada aos homens quando se trata de intimidade. Conversava com Sibele sobre o ocorrido na casa com Mentol, e até ensinou alguns movimentos de wen-do¹. Debateram bastante sobre o tema. Chegaram a uma infeliz e paradoxal conclusão: as garotas integrantes de Movimentos contraculturais assim como elas, estavam mais vulneráveis a serem violentadas. O motivo é que não usam defesas prévias ou padrões comuns de limite moral, crendo na improbabilidade de serem violentadas dentre os ditos companheiros antiviolência e antimachismo. Por isso ao longo dos anos tratou de aprender sobre vários tipos de artes marciais e de defesa pessoal. Na pior das hipóteses ela saberia se proteger.

Mel resolveu fazer uma experiência mesmo sem diálogo. Sempre que os moços estivessem desfilando pela casa só de roupa íntima, ela faria o mesmo. Sem sutiã. Sim, o objetivo era constranger aqueles homens a reconhecerem o privilégio que têm de estarem em corpos não sexualizados (ou menos que o feminino) de andarem com menos roupa só por estarem sentindo o mesmo calor que ela. Se eles não se constrangessem ela ficaria à vontade para andar daquele modo, pelo menos ali.

Vez por outra flagrava Ivan fitando seus seios. Ela o afrontava e ele disfarçava. Logo, ela repetia encarando o volume entre as pernas dele. Que ficava mais do que constrangido. Mesmo eles já tendo ficado. Contudo, foi Diego o primeiro a se dar conta da estratégia de Zamel e mesmo a contragosto — Victor o induziu a tal — se desculpou. Achou por bem passar a andar pelo menos de roupão. Alison não entendeu muito bem a coisa de privilégio de exibir mamilos, mas depois de uma amena discussão terminou aceitando a decisão da maioria de não se andar tão desnudo pela casa. Pelo menos não quando mulheres estivessem dividindo os espaços com eles.

Casa das MariposasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora