2° capítulo

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A LUFADA DE VENTO, provocada pelas batidas das asas do anjo Hesediel quando Petrus foi em busca do médico, fez com que ele recordasse o que ocorrera no dia anterior:

"Despreocupados com o nascimento do seu filho, pois ainda faltavam três semanas de gestação, o sol tal qual uma pedra preciosa bem lapidada brilhando sem nenhuma nuvem a lhe perscrutar - isso, provavelmente, por não haver ventos -, eles flutuavam grávidos por promessas de felicidades, admirando o céu. Na cidade o dia corria silente,  numa aparente paz só mesmo quebrada por latidos de cães numa ou noutra rua, ou por conversas que lhes chegavam esmaecidas, aos ouvidos.    

Repentinamente imperou um mutismo sepulcral, assustando-os, era como se as pessoas, os animais e o próprio tempo houvessem sido congelados, e somente eles percebiam isso. Nos olhos petrificados dos animais o pavor era latente. Nenhuma palavra se fazia audível, o medo colocava freio na língua das pessoas. As aves evolavam no céu distando dali sem fazer o ruído característico de quem voa, como se estivessem sendo empurradas pelos ventos. Seres alados símiles a morcegos voavam em sentido contrário. A esposa de Petrus havia ido para a cama descansar, ele, pensando no filho que estava para nascer, não percebeu que os seres alados não eram morcegos, mas anjos Shaitans.

Enfim, quando o silêncio se fez audível,  quando Petrus se deu conta de que o único ruído que ouvia era o da própria respiração, se deu conta também de que alguma coisa estranha estava acontecendo. Pressentiu forças invisíveis perscrutando-o.

A esposa de Petrus, deitada, tomada pelo sono das grávidas, repentinamente, se levantou da cama com os cabelos - até então lisos como a seda - emaranhados. Assustada pelo pesadelo, seu grito de dor se confundiu com o ruído de latas e galhos de árvore se açoitando nas ruas. Ela deixou os seus olhos serem levados, hipnotizados, à balburdia que vinha lá de fora e, saindo de si, se viu dando à luz a besta. Atordoada, em meio a choros e gritos, ela foi despertada do transe, e depois consolada por Petrus.

O sol foi acortinado por nuvens plúmbeas, o dia claro perdeu a sua luminosidade, o silêncio foi quebrado pela chuva torrencial. Depois do temporal, a cidade não havia recuperado as suas cores, pois, tanto o sol como o céu estavam encoberto por um manto negro.

Tudo parecia fora de propósito, fora de lugar. Inopinadamente, o manto negro se desfez e seres alados munidos de espadas sangravam animais e gentes. O céu mandou ajuda com chuvas tempestivas, ventos bravios e relâmpagos, mas cessou assim que os seres alados se juntaram novamente e o cobriram totalmente.

Na rua, a enxurrada levava consigo os destroços, pessoas e animais mortos, mas não o medo a que todos os habitantes da cidade foram acometidos. O sossego, até então, do pacato lugar, foi substituído pelo pavor estampado no rosto das pessoas. Elas mal sabiam que o pior ainda estava por vir. E era apocalíptico.

O manto negro que cobria o céu retirou daquela pacata cidade o clima de felicidade que até então imperava. O sossego somente chegou ao entardecer, quando um nevoeiro adentrou as ruas e deu uma falsa sensação de que assim que ele fosse embora o sol voltaria. A maioria das pessoas se prendeu em casa tendo como vigia o medo, não vendo quando uma densa névoa cobriu toda a cidade, diminuindo o campo de visão e tirando qualquer possibilidade de saber se era dia ou noite".

FOI NESSE CENÁRIO QUE Petrus saiu para buscar o médico para fazer o parto de sua esposa. Bem acima de sua cabeça, os anjos Shaitans o vigiavam, não podiam matá-lo, pois precisavam de sangue para a maturação do filho do Senhor das Trevas, e ele, sem saber, estava indo atrás de um.

Apocalipseحيث تعيش القصص. اكتشف الآن