Capitulo Vinte e Dois - A esperança é azul

536 32 12
                                    

            Um ano depois...

E havia uma promessa no ar como se todas as coisas estivessem programadas para darem certo, isso é o que chamam de esperança. Neste exato momento sou a esperança do Mario Quintana no décimo segundo andar, dose meses. Um ano. E eu abro os olhos pela primeira vez desde os terríveis meses por que sei que dias melhores estão por vim e estou pronto para me atirar desses doze andares de espera, consigo mergulhar no verde dos meus olhos que o autor tanto quis evidenciar, consigo compreender que é uma nova vida para mim e ela começa hoje.

Acordo cedo demais, quer dizer, não que eu tenha conseguido dormir em algum momento, acho que se esqueceram de inventar um remédio que arranque todas as nossas dúvidas e medo, por exemplo, estou desesperado para saber o que aconteceu com ela, se a Valentina está bem, se está viva, se ela ainda está esperando por mim com o mesmo sentimento de antes... Você não?

Passo em frente a uma floricultura e noto lindas rosas azuis e fico um tempo parado olhando para elas por que sei, naturalmente, que rosas azuis não existem de verdade, foram criadas através de variações genéticas. Resolvo compra-las, não por que signifique algo impossível, a realização de um desejo ou o que for, e sim por que, olhando-as elas me parecem tão atrevidas quanto a Valentina, real e irreal ao mesmo tempo. Mentira, verdade, quem escolhe o que amar?

Mas quando estendo o dinheiro para o senhor, certamente o dono da floricultura, com fortes traços de cansaço ele apenas olha para as notas de papeis.

– Então? – Digo alguma coisa para aquele par de olhos negros diante de mim.

– Estas rosas não estão à venda, garoto. – Ele diz simplesmente, porém nada consigo entender, afinal, a venda ou não, as rosas estão em meu braço.

– Como não?

– Minha esposa faleceu há três meses. Ela era uma romântica tola apaixonada por rosas e pela vida. Ela tinha um fascínio pela cor azul, e desde que a conheci seu grande sonho sempre foi poder criar rosas azuis, não uma coisa pintada de papel crepom ou...

– Ou as rosas vermelhas da Rainha Cabeçuda, a grande façanha da Alice... – digo.

– Isso, meu garoto... Mas a façanha é imprópria, indecorosa. Lurdes não queria criar uma mentira, ela queria algo que não pudesse ser manchado com um simples borrifar d’água, ela queria oferecer verdade, amor, foi por isso que dedicou todos esses anos de sua vida tentando criar essas rosas ai.

– Aposto que ela ficou muito orgulhosa, as rosas são lindas, as mais belas que já vi – murmuro a verdade.

Ele ri como para si próprio.

– Imagino que sim, talvez, Deus é quem sabe. – Ele diz olhando para as rosas. – Para ser honesto ela nunca chegou a se quer tocar nas rosas. Quando a Lurdes conseguiu se tornar o grande Mendel das rosas azuis, infelizmente, ela morreu com um câncer que vivia dentro dela tão escondido e poderoso que só nos restou pouco tempo, horas, para despedida... Mas sabe o que ela me pediu antes de morrer?

Tento desviar o olhar e não consigo. Miro o velho cansado e imagino um fim para a sua história, ainda assim, espero que ele me diga.

– Ela me fez prometer regar a terra onde estavam seus feijões mágicos e azuis. Eu fiz isso durante estes três meses. Quase perdi a esperança, afinal, algo nessa minha mente de velho dizia que rosas não demoram tanto para florir, ou sei lá, já não lembro, mesmo assim continuei regando essas rosas por que a minha Lurdes não poderia estar tão errada assim, eu queria saber se o que ela disse se tornaria real.

Quem é você? (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora