Epilogo - O início

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            Querido Derek,

 

            Eu prometi a mim mesma nunca escrever para você, pois o que eu disse na ponte era apenas mais uma das minhas mentiras, quer dizer, não pense que sou de todo tão ruim a ponto de não ser salva, pelo contrario, ultimamente, desde que te conheci tudo o que fiz foi tentar salvar você... do meu mundo.

            Mas então aqui estou eu, sentada em uma cama olhando para a parede em branco, para o meu novo quarto que, mesmo depois de ter dormido nele por noventa e sete dias, ainda sim me parece uma prisão encomendada.

            A verdade? Bem, eu sinto a sua falta. A verdade? Eu queria que você estivesse aqui, comigo, segurando a minha mão por que às vezes sinto que não irei suportar não só a dor como também a enorme saudade que sinto de você, do seu toque, do seu olhar... Só Deus sabe o quanto sinto falta do seu sorriso e é na esperança de ter este sorriso é que acordo todos os dias sentindo que a vida é boa.

            Ontem eu perdi o cabelo, na verdade resolvi tira-lo de uma vez por todas, eu não queria ser degradada aos poucos. Você ficaria orgulhoso de mim, em nenhum momento fraquejei, Derek, não derramei uma só lágrima por que, sério, o que é um cabelo perto da cura? Perto de ter você de volta?

            Tenho convivido com pessoas, aquelas das quais te falei, selecionaaos como eu para o teste. Passo bastante tempo calada, observado essas pessoas, Derek, e fico sei lá, perdida por que tudo o que consigo enxergar nos olhos dessas pessoas doentes é: vida. Há mortes aqui também. Recentemente o Tom, um garoto de quinze anos teve uma convulsão e morreu no refeitório. Juro que até hoje ainda não consegui tira-lo dos meus pensamentos... Quase desisti, quase acreditei que aos poucos, todos nós doentes iríamos morrer.

            Eu conversava sempre com Tom, quase sempre depois de vomitar uma odisseia de sangue e descontentamento. Eu dizia que não iria aguentar, que era o fim. Tom sorria, ele nunca deixou de sorrir, ele disse que eu deveria encontrar uma motivação. Então eu lhe disse que eu tinha uma motivação, que eu tinha você, Derek. Ele disse que eu até podia ter uma motivação, mas, ainda sim eu tinha medo dessa motivação. Ficamos um tempo quietos, antes dele dizer uma frase  a qual ele tinha tatuado no braço e levou como mantra: Énecessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela. Eu estava física e mentalmente cansada para pensar sobre a questão, porém quando a noite chegou cheia de uma manhã duvidosa, segurei a sua foto e pensei que não seria justo com você, não seria justo deixar isso aqui, não seria justo te deixar esperando por que eu sei que você é uma mula, que esperará por mim quanto tempo for preciso. Nunca entendi o que o Tom quis dizer com o seu mantra, mas fiquei me perguntando se eu preciso passar por tudo isso para ser uma pessoa melhor, para merecê-lo. E sim, a resposta é sim. Você não merece uma garota quebrada, o caos, você merece o melhor, você merece uma estrela e sei que, nunca serei honrosa o bastante para merecê-lo, ainda sim estou aqui, estou aqui lutando por você, por que a minha vida toda pode ser uma mentira, exceto você, minha verdade, minha nova vida.

           

            Limpo os olhos e tento não imaginar a dor que a Valentina sentiu todo esse tempo enfiada dentro de um quarto sendo submetida a procedimentos malucos. Engulo o caroço preso em minha garganta, passo os dedos pela carta que acabei de ler, sinto a caligrafia perfeita dela em minhas digitais.

            Ela abraça o próprio corpo aparentemente fraco. O vento sopra, está fazendo frio, bastante frio. Fico sem saber o que pensar, o que dizer... O que fazer.

Quem é você? (Em Revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora