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Estácio levantou-se ao amanhecer. Uma vez pronto, quis surpreender a tia e a irmã com uma lembrança sua, e escreveu numa folha de papel estas simples palavras: "Até à volta; 6 horas da manhã." Dobrou-a e foi pô-la sobre a mesa de costura de D. Úrsula. Dali passou à sala de jantar, depois à varanda. Aqui chegando, deu com os olhos em Helena, que o esperava ao pé da escada.
— Silêncio! disse graciosamente a moça. Não faça espantos, que pode acordar titia. Vim saber se você precisa de alguma coisa.
— De nada, respondeu Estácio comovido. Mas que imprudência foi essa de se levantar tão cedo?
— Cedo! O sol não tarda a cumprimentar-nos. Adeus! muitas recomendações a Eugênia. Não lhe falta nada, não é assim?
— Nada.
Estácio recebeu a mão que Helena lhe estendera e ficou a olhar para ela.
— Olhe que é tarde!
Dizendo isto, Helena apertou-lhe a mão e procurou retirar a sua; Estácio reteve-a.
— Se soubesses como me custa ir!
— São apenas alguns dias...
— Valem por meses, Helena! Adeus, não te esqueças de mim. Escreve-me; eu escreverei logo que chegar. Não faças imprudências; não saias a passeio enquanto eu estiver ausente.
— Adeus!
— Adeus!
Estácio quis dar-lhe o abraço da despedida; mas a moça, menos ainda com a palavra que com o gesto, fê-lo recuar.
— Não, disse ela afastando-se; as despedidas mais longas são as mais difíceis de suportar.
Recuou até à porta da sala de jantar, fez um gesto de despedida e entrou. Estácio desceu a custo as escadas. Helena viu-o descer e sair; depois subiu cautelosamente ao seu aposento. Ali sentou-se alguns minutos, pensativa e triste. Ergueu-se enfim, vestiu rapidamente as roupas de montar; colocou o chapelinho preto sobre os cabelos penteados à ligeira, e desceu. Na chácara esperava-a Vicente, com a égua ajaezada e pronta. Helena mon-tou sem demora; o pajem cavalgou uma das duas mulas que havia na cavalariça e os dois saíram a trote na direção da casa do alpendre e da bandeira azul.
A casa estava ainda silenciosa; porta e janelas conservavam-se hermeticamente fechadas. Helena apeou-se e bateu de mansinho; repetiu as pancadas progressivamente mais fortes. Ninguém lhe respondeu. Helena impaciente rodeou a casa; mas, parece que achou igualmente fechadas as portas do fundo, porque volveu logo. Colou o ouvido à porta e esperou. Quando lhe pareceu que era baldado o esforço, tirou da algibeira um lápis e um pedacinho de papel; colocou o pé no degrau de tijolo e sobre o joelho escreveu algumas palavras; dobrou depois o papel e introduziu-o por baixo da porta. Esperou ainda alguns minutos, caminhou para a égua, montou e regressou à casa.
Vinha triste e pensativa. A égua, a passo vagaroso, não sentia o esforço da cavaleira, que a deixava ir, frouxa a rédea, inútil o chicote. O pajem levava os olhos na moça com um ar de adoração visível; mas, ao mesmo tempo, com a liberdade que dá a confiança e a cumplicidade fumava um grosso charuto havanês, tirado às caixas do senhor.
D. Úrsula não estava ainda levantada; Helena não lhe ocultou o passeio. O dia correu triste e solitário, como os seguintes, sem embargo da companhia que iam fazer às duas senhoras as pessoas mais íntimas. Mendonça, a quem Estácio as recomendara, era ali pontual;
conseguia disfarçar um pouco as saudades do moço ausente. O Padre Melchior prolongava visitas cotidianas. O mesmo sentimento ligava a todas as pessoas.
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Helena ♦ Machado de Assis ♦ Caí no Enem!
RomanceCaí no Enem! Siga o meu perfil ♡ Helena é uma obra de Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. O livro foi publicado em 1876 e faz parte da primeira fase literária do autor. 55 mil palavras