Sacrifício Final

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- Para receber o reino dos céus não basta arrepender-se dos pecados. Mas, sim, dar a vida pelo seu irmão.
- Tirem esse homem daqui - pede o promotor ao ser interrompido pelos gritos de um senhor em meio ao julgamento.
Um dos advogados fica curioso: - Quem é ele? - pergunta ao companheiro ao seu lado.
- Um maluco qualquer. Nunca o vi antes.
- É parente da vítima - ressalta outra pessoa que esta sentada do outro lado. - Esteve aqui ontem, querendo saber quando seria o julgamento dos assassinos.
- Está explicado por que gritou daquele jeito. Pensei que fosse um fanático qualquer.

Parte 2 - Sacrifício Final
O juiz pede silêncio, enquanto bate o martelo na mesa, e a sentença é dada. Os réus são condenados a cumprir pena, em regime fechado, na cadeia pública estadual.
Dentro da cela, são recebidos pelos detentos. Um deles brinca com Luiz, que está sério e nada questionou enquanto eram julgados:
- Olhem como são lindas as "meninas".
- Umas graças - completa outro.
Luiz empurra o primeiro contra a grade: - Coloque a sua mão novamente em mim, que o faço ficar sem isso.
- Solte ele. Solte ele - ordena o carcereiro, tocando o apito.
- Tudo bem. Tudo bem - justifica o detento, ainda gemendo de dor.

Sacrifício final - Parte 3
Levanta as mãos para cima e pede arrego, sendo razoável com Luiz: - Seja bem-vindo ao nosso reino, companheiro.
- Melhor que se entendam mesmo - diz o carcereiro. - Aqui não tem lugar para todos. Aquele que fizer gracinhas novamente vai ficar um mês na solitária.
- Quanto tempo pegaram? - pergunta outro detento, enquanto o carcereiro se afasta.
Joca quem responde: - Trinta. Cada.
- O que fizeram?
- Matamos um homem em um assalto.
- Que azar!
Luiz entra na conversa:
- Trinta anos é tempo demais para ficarmos aqui. Assim que eu sair, juro que mudarei de vida.
O detento sorri: - Só mataram um homem.

Sacrifício final - parte 4
- Melhor ficar de boca fechada se não quiser ficar sem os bagos desta vez. Meu irmão segura e eu os corto e jogo fora. - E depois responde ao irmão: - A culpa foi do vigia, que atirou primeiro. Juro pela alma de nossa mãe que nunca mais mato ninguém.
- Parece que as "bonecas" estão arrependidas? - e levanta as mãos para cima, ao ver os dois seguindo em sua direção. - Tudo bem. Tudo bem - Estou brincando. Peço desculpas. Bom comportamento conta; não pretendo ficar preso tanto tempo. Devo pegar condicional este ano e, se pretendem garantir a de vocês, posso ficar tranquilo com os meus testículos. Confesso que ainda estão doloridos. Não imaginei que fosse tão forte assim. Podemos ser amigos?

Sacrifício final - parte 5
- Vou avisando vocês desde já: tem muitos aqui dentro que podem ser mais forte que os dois juntos.
Joca ri: - Duvido que alguém ganhe do meu irmão numa briga. Não sou tão forte quanto ele.
- Podemos fazer uma disputa. - mencionou outro detento, bem forte e moreno. - Rola muita grana. Grana boa, mesmo.
Luiz não concorda. - Não pretendo ficar preso o resto da vida. Quero sair daqui o mais rápido possível. Preciso pensar como fazer isso.
- O que está pensando em fazer, meu irmão?
- Por enquanto, nada. Vamos dar um tempo. Acabamos de chegar e conhecemos o regulamento. Vamos fazer tudo devagar, sem pressa.

Sacrifício final - parte 6
Tarde da noite, deitado na parte de baixo do beliche, Luiz, calmamente tragando um cigarro, tinha o pensamento distante. Joca, na parte de cima, folheia uma revista pornô. Caco, próximo à grade, em batuques com as mãos, cantarola um samba, observando o carcereiro que passa conferindo as celas.
- Vê se cala essa boca, cara; estou a fim de dormir.
- Isso mesmo, meu chapa, vê se fecha logo essa matraca, que eu também estou a fim - alguém reforça o pedido do preso da cela do outro lado, não querendo também ouvir a cantoria desafinada. Caco leva-os na brincadeira: - Falou, amizade, o rádio acabou de fechar. Boa noite a todos os ouvintes e que tenham bons sonhos.

Sacrifício final - parte 7
Joca fecha a revista: - Vou sonhar com um bando de anjinhas me bajulando.
- Tome cuidado para que uma não derrube você em cima de mim. Caco, está deitando no colchão, no assoalho, ao lado do beliche. Todos dão gargalhadas. As luz se apagam. Caco não gosta: - Odeio quando apagam as luzes. Detesto a escuridão.
- Odeio ouvi-lo resmungar todas as noites pelo mesmo motivo.
- Mande a sua mãezinha trazer um maço de velas quando vier visitar.
- A mãe dele aparece aqui uma vez por ano. E olhe lá.:
- Não fale mal da minha mãe. A sua nunca apareceu aqui.
Joca ficou sem resposta. Outro detento ri: - Não vai defender a sua mãe, cara? Será que nasceu de chocadeira?
- Ela não vem me visita. Tem vergonha do filho.

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