Eu já não sei o que pensar de mim, desta família e do meu pai. Sinceramente não sei. Em cada ano que passa, há sempre uma novidade e uma história nova para contar, nunca há uma novidade para além do meu pai ou de outra coisa que não seja dentro desta família.

Todos parecem saber o que se passa nesta família, incluindo os funcionários. A cada sítio que vou dentro desta casa ouço sempre murmúrios um pouco maldosos. Até mesmo as freiras do colégio privado saibam mais do que eu.

O famoso banqueiro que roubou rios e rios de dinheiros aos seus clientes. Mas eis a questão. Como é que uma pessoa rouba tanto e não é presa? Há algo aqui que não bate certo e estou neste momento a questionar-me disso. É impossível que um banqueiro tão importante na sociedade sueca não tenha uma primeira página na manchete de um jornal Suíço, pelo menos com o título BANQUEIRO LADRÃO. Mas antes mesmo dessa época nunca vi uma revista ou um jornal que fosse a falar da família Green.

Uma coisa é certa, eu sempre fui acreditando em tudo o que dizem por aí e ainda continuo a acreditar no que as pessoas me dizem a cerca da minha família. Mas agora questiono-me. Acredito mesmo de coração no que as pessoas dizem a cerca do meu pai? Ou simplesmente obrigo-me que assim o seja por o que ele nos fez?

Noah um dia me disse que o pai tinha feito uma lavagem de dinheiro em nome do banco e que a sua ex-mulher — mãe de Noah— tinha morrido de cancro. Mas eu acabo de ouvir da boca de Jackson que Noah adora inventar histórias. Ou seja, a mãe de Noah e de Jackson não morreu de cancro? Será que... Não, é impossível imaginar que o meu pai a tenha assassinado. Possivelmente pode a ter traído ou ter-se separado dela quando conheceu a minha mãe.

Porquê que estou a tentar arranjar desculpas para uma coisa que nem sei o que realmente se passou?

Suspiro profundamente.

O que me incomoda nisto tudo é também dos segredos que sempre viveram escondidos dentro da alma de Niall Green e de Jackson, que parece sabê-los todos, de uma ponta à outra. O nosso pai teve oportunidade de informara-lo antes mesmo morrer numa explosão rodoviária, esquecendo dos outros filhos que também fazem parte desta família. Família.... Riu-me sem vontade ao estar a pensar numa palavra que deixou de estar no meu dicionário sentimentalista a algum tempo.

Lembro como se fosse hoje quando recebi o primeiro telefonema no dia 4 de julho da parte de Noah. As palavras que me disse naquela altura ficaram presas na minha mente e nunca mais pode esquecê-la. Eva, eu... tenho uma notícia para te dar e gostaria que depois transmitisses a Serena por mim. O pai... ele...ele não sobreviveu a uma explosão rodoviária.

Esse palavras bastaram para que um dia antes do meu aniversário ficasse marcado com mais uma marca de sangue dentro da minha caixa de memórias, porque há uns onze anos atrás, no mesmo dia e no mesmo mês a minha mãe foi morta. Ou seja, o dia 4 de julho está bem vincado no meu coração e o dia 5 de julho é só uma data igual as outras e mais um ano de vida posto sobre mim.

Igualmente como aconteceu quando a minha mãe morreu, ninguém teve a dignidade de levamos a despedir do nosso pai. Por muito que ele tivesse sido um canalha e tivesse magoado o meu coração, eu gostaria de ter me despedido dele. Porque antes de ele se tonar num homem irreconhecível depois da morte da minha mãe, eu havia sido feliz ao seu lado enquanto era criança.

Não desejo a ninguém que passe o mesmo que eu. Eu perdi a minha mãe com apenas 7 anos e o meu pai com 15 anos. E como isso construi uma personalidade diferente a cada dia que crescia. Eu me considero a pessoa mais revoltada do mundo e cheia de muros construindo em volta do coração.

Eu...gostava muito que o meu pai me tivesse dito que me amava antes de morrer ou até mesmo um pequeno telefonema. Não sei porquê, mas eu só necessitava disso. Eu gostaria uma dia perdoara-lo como Serena o fez, mas esse dia pode não chegar, porque eu sinto que ele não nos amou suficiente depois de ter ficado sem a nossa mãe, não lutou por nós e não esteve ao nosso lado quando precisávamos. Eu...necessitava muito dele, mas nunca olhei nos seus olhos para lhe pedir esse pequeno favor porque eu obrigava-me a não sentir esse sentimento. A única vez que olhei nos seus olhos e lhe pedi algo, foi pela minha irmã que necessitava do seu apoio e do seu carinho.

Passo os dedos pelo meu rosto húmido limpando as últimas lágrimas que escorriam pelo o rosto. Não faço ideia que horas sejam neste momento. Possivelmente devo ter alguém à minha procura ou não. Deve fazer umas largas horas que fugi depois da discussão entre mim e Jackson. Mas eu estou bem onde estou e sinto-me confutável dentro de um túnel secreto da casa dos Green.

E uma pergunta eu faço. Porque que o meu pai teve que comprar uma Mansão com tantos e mas tantos tuneis que deram a cada ponta deste jardim e desta casa? Isto será igual em todos os países Europeus?

Suspiro esticando as pernas no chão gelado e húmido do túnel que por si tem pouca iluminação. Olho para o meu lado esquerdo vendo ao longe uma pequena escada presa na parede que definitivamente dá ao famoso e único lago que a minha irmã havia comentado. Se olhar em frente dou por mim a encarar uma longa passagem e logo depois uma parede, mas algo me diz que esta passagem dará à outro lugar para além do lago, e as lâmpadas presas no teto dizem isso. Elas parecem guiarmo-nos para dentro da parede.

Ergo-me do chão e avanço pelo o corredor frio. Chego a pousar as mãos sobre a parede gelada tentando perceber se realmente será um corredor sem passagem. Quando faço um nadinha de força sinto-a a mexer-me revelando-me aos pouco as luzes a iluminarem o resto do caminho que ainda havia para percorrer. Ponderei voltar para trás e sair por onde entrei; na estante da biblioteca, mas a ansiedade de descobrir o que levar-me-ia aquela passagem fez com desiste-se de voltar para trás.

Avanço pelo corredor que tinha uma pequena alavanca presa no lado direito da parede para fechar a porta enganosa. Os meus passos são calmos e curiosos a cada trajeto que faço. Por duas vezes vejo-me a virar à esquina e só depois de uma longa caminha vejo uma escada presa na parede.

Subo as mesmas deixando as duas últimas para subir para que conseguir-se empurrar a pequena porta enganosa no teto. E quando faço, a luz do dia bate contra o meu rosto. Subo os últimos degraus e aterro dos meus pés no chão firme e solido coberto de relva.

Não consigo conter o primeiro sorriso depois de horas a fio a chorar silenciosamente e sozinha no meu mundo, ao depara-me com fileiras enormes de arbustos que fazem o seu de temível jogo.

O labirinto.

Acho que... vou gostar de passar as férias brincando as escondidas com o meu guarda-costas. Que a está hora deve estar a concluir que fugi de casa.

Fecho a porta da passagem secreta para logo depois sentar-me no relvado. Se não me engano devo estar no centro do labirinto. E se não me engano vou ficar mais um pouco sentada aqui à pensar em tudo sobre a minha vida e a construir imagens diferentes dentro da minha cabeça do rosto de Dominick que à uma hora destas deve estar...

Com os lábios puxados para dentro formando uma linha dura e firme. As sobrancelhas grossas vincas no centro. Os seus olhos duros e furiosos a imaginar mil e um pensamentos sobre mim.

Sorriu sincera e deito a cabeça para trás para poder encarar o céu repleto de nuvens cinzentas, mas nem por isso o sol deixa-se se esconder atrás delas.

Ele sorri na minha direção.

Enquanto no meu coração há um espaço pesado levando-me a deixar  cair mais algumas lágrimas pelo o rosto.


PERIGOSAMENTE TENTADORWhere stories live. Discover now