A Lua - Eloise

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Me leve no lugar dela! Por favor! — Gritei, desesperada.

Liza estava incomodada com alguma coisa, e eu estava tentando descobrir o que era. Sentamos em uma mesa perto do balcão, e logo que levantei a cabeça eu já identifiquei o problema: traficantes. Eles são um problema muito grande nas nossas colônias, sequestram pessoas e vendem para senhores de terra, para trabalharem nas minas de hélio como escravos. Era minha chance de por um fim nesse negócio nefasto.

A garçonete chegou na nossa mesa, e o Phillip pediu um café pro Jean e uma rodada de cerveja para o resto de nós. Pelo visto o Jean não bebe. Falam bem da cerveja lunar, eu estava curiosa para provar. Antes da garçonete ir embora, pedi que trouxesse minha cerveja em uma taça.

–Mas é fresca... — Provocou o Phillip
–Mais respeito, por favor! — Retruquei, no que todos riram
–Calma, vossa alteza, não há motivo para ficar irritada. E eu nem falei nada do seu laço... — Disse ele, provocando ainda mais
–Ei... que que tem meu laço? — Subitamente fiquei preocupada que o laço tivesse desalinhado
–Nada, só ta ridículo mesmo – Zombou
–Que ousadia! Você vai ver...! — Gritei pra ele com um misto de raiva e vergonha, ao som das risadas dos outros.

E nisso, a garçonete chegou com as cervejas e o café de Jean, e começamos a beber. A cerveja da Lua era muito boa mesmo, tinha um sabor bem mais forte que a cerveja Terra, e incrivelmente é leve, não é pesada. Não sei se vou ver da mesma forma uma cerveja da Terra da próxima vez que beber uma.

–Sou só eu, ou vocês também acharam essa cerveja uma maravilha? — Perguntei para os outros, pondo minha taça na mesa
–Eu, que não sou lá muito fã de cerveja, adorei. — Disse Liza, surpresa — A maioria das cervejas que experimentei, achei ruins. Mas essa é magnífica.
–Concordo. — Disse Remille — Não sei qual o segredo deles para fazer uma cerveja tão forte ser tão leve, mas eu sinto que poderia beber isso o dia inteiro — Disse, tomando outro gole.
–É verdade. — Disse eu, tomando outro gole — Que maravilhoso.
–Cara...! — Disse Phillip, que tinha virado o copo de uma só vez, e colocou-o de cabeça para baixo na mesa — Que cerveja boa, cara! Dá até vontade de pedir para viagem.
–Acho que... melhor não. — Desaprovou Liza — Da última vez que você bebeu demais, saiu correndo pelado pelos corredores do quartel. — Concluiu, no que todos na mesa riram.
–É mesmo, eu lembro!! — Disse Remille — Foi preciso uns 3 guardas para fazer ele parar de correr, e ele acabou tendo que limpar o banheiro coletivo com uma escova de dente e usando uma fralda. — Terminou Remille, no que rimos mais ainda.
–É sério isso? — Disse eu, entre risos
–Não me lembrem dessa ocasião, por favor — Disse Phillip, escondendo o rosto nas mãos — A gente tinha voltado de uma festa, poxa.
–Isso não é desculpa para exagerar na bebida, cara. — Disse Remille, rindo — Nós dois voltamos sóbrios e você voltou chamando urubu de meu louro. — Completou, no que Liza e Phillip explodiram de rir, mas eu fiquei confusa, e o Jean também não entendeu.
–Chamar urubu de meu louro? O que é isso? — Perguntei
–Nós convivemos com o Remille há alguns anos, então pegamos as expressões dele já. — Disse Liza, explicando — Mas chamar urubu de meu louro é uma expressão do Brasil para estar tão bêbado a ponto de confundir coisas, certo Remille?
–Isso mesmo, Liza. Já pode se naturalizar brasileira — Disse ele, rindo

O papo então fluiu mais um pouco até que percebi um movimento na mesa dos traficantes. Eles levantaram da mesa deles e vieram em nossa direção. Eu pousei a taça na mesa e coloquei minha mão na minha espada para ficar a postos. Todos no bar se calaram pois sabiam o que é que estava prestes a acontecer. Eu também sabia.

–Olá, pessoas... Como vai a noite de vocês? — Perguntou maliciosamente o lider dos traficantes — Meu nome é Butch, e eu gostaria de bater um papo, posso...?
–Sabemos que vocês são traficantes. — Disse eu, me levantando.
–Nós sabemos? — Sussurou Remille para mim, confuso
–Shhh... Sim, sabemos —Sussurrei de volta.
–Ora... Parece que não são tão burros assim. E quem é você com esse lacinho, belezinha? — Retrucou Butch — Ela daria uma boa depósito, né não, Bill? — Disse ele pra um brutamontes ao lado dele, que riu.
–Não é da sua conta. — Interviu o Remille — Ela é parte da minha equipe, e você está nos atrapalhando, meu chapa. — Disse o Remille, piscando pra mim. Ele assumiria a situação.
–Vou parar com a brincadeira então. — Disse ele agarrando a Liza. — Eu vou levar ela comigo, e se vocês moverem um dedo, eu mato ela agora mesmo — Completou Butch, puxando a Liza pelo pescoço.
–Liza! — Disse eu e o Remille em uníssono
–Me solta, seu desgraçado! — Gritou Liza, enquanto se debatia para se livrar do traficante

Eu saquei minha katana e cortei a mão de um deles fora. Ele gritou de dor, no que via o toco do pulso sangrando. O outro veio para cima de mim, mas o Remille acertou uma bola de fogo nele, e já emendou outra no maneta, no que eu aproveitei para chutá-lo nos testículos. O outro ficou assustado demais para fazer alguma coisa.

Mas o Butch ainda estava segurando a Liza. Ele estava se afastando, chegando perto da saída do bar, quando um automóvel entrou pela parede do bar, e um monte de outros caras com a mesma roupa do Bill e do George saíram do automóvel, no que o povo começou a gritar e correr para fora. Tinham muitos traficantes naquela área. Era demais para enfrentarmos.

–Ainda vão insistir? Vamos levar essa garota, e ganhar um bom dinheiro nela.
–Me deixem, continuem a missão! — Gritou a Liza para nós — Eu me viro!
–Não! Não vou deixar — Gritei para o Butch
–Eloise, não! — Disse Remille, ao perceber que a Eloise tinha dado 2 passos a frente
–Me leve no lugar dela! Por favor! — Gritei desesperada.
–Se oferecendo? Hm... Chester, pegue a menina.

E antes que eu pudesse reagir, o tal do Chester me agarrou, e o Butch não soltou a Liza. Pelo contrário, nos levou em direção ao automóvel que tinha entrado no bar. Remille tentou lutar, mas eram mais de 10 traficantes no bar.

–Solte a Liza, era o acordo! — Gritou Remille
–Acordo? Eu nem sequer concordei. Esse é nosso território, filho. Nós dominamos esse bairro da Lua. Vocês deram azar. Adeus, pirralhos — Disse Butch, rindo.

Ele amarrou as minhas mãos e as da Liza, e nos jogou na traseira do automóvel, e para a minha surpresa (ou nem tanto) haviam mais pessoas lá. 4 mulheres e 3 rapazes.
Eu ainda não conseguia acreditar no nosso azar, na primeira parada que fazemos e somos atacados e sobrepujados dessa forma. Espero que os rapazes consigam se organizar depois disso. Mas preciso conversar com os outros.

–Liza, como você está?
–Por que você fez isso? Agora estamos as duas aqui! — Retrucou ela irritada
–Eu estava tentando lhe proteger!
–Você devia ter ficado quieta e ficado com os rapazes. Eles devem estar se sentindo muito mal agora. — Disse Liza, suspirando.
–Discutir não vai ajudar, precisamos nos concentrar em fugir.
–Fugir é impossível — Disse uma das moças, no outro lado da traseira do automóvel — Já tentamos. Os traficantes simplesmente não deixam.
–Eles nunca tiveram prisioneiros como eu. Veremos.

Rodamos por uns belos quilômetros até o automóvel parar, e quando saímos, estávamos perto das crateras, onde se extrai hélio. Havia um palanque ali, e uma fileira de cadeiras cheia de gente rica. Os traficantes nos desamarraram e arrancaram as nossas roupas, um por um, sempre com força, e logo em seguida, nos entregaram trapos para nos vestirmos, enquanto eles apontavam armas para nossas cabeças. Após, nos reamarraram e fomos arrastados pro palanque, usando os trapos velhos que obrigaram a gente a vestir.

–A safra dessa semana foi boa. Temos duas moças bastante resistentes, essa loirinha e a ruivinha aqui. Por serem nossos melhores produtos, o lance inicial de cada uma é 1000 francos. Agora esses rapazes aqui, 2 deles são bem maricas, mas esse musculoso aqui, provavelmente aguenta umas 5 horas de serviço por dia. 200 nos maricas e 700 no fortão. As outras moças, não tem tanto potencial de trabalho, mas são ótimas depósitos. Acho que um lance inicial de 150 por cada uma das 4 está justo. Agora é com vocês.

E o leilão se seguiu. O primeiro a ser vendido foi o rapaz forte. Logo em seguida, o mesmo cara comprou a Liza, uma das outras meninas e a mim, e ele nos arrastou até o automóvel dele. Fomos em direção a uma cratera mais rasa, onde havia uma mina de hélio.
Quando chegamos, ele nos desembarcou e nos jogou dentro da mina, nos prendeu na corrente que prendia todos os outros escravos lá e disse para a gente se virar, se mandando logo em seguida. Eu nunca pensei que viraria escrava numa mina de hélio na Lua. Estava rezando para Remille e os outros virem nos resgatar, pois no momento, estamos acorrentadas sem perspectiva de fuga.

O Viajante Estelar e o Colapso GalácticoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora