Capítulo 1 - Primícias

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Lá fora fazia frio, o inverno estava em seu auge, dava para ver pela luz dos postes que iluminavam as ruas quase vazias, a garoa caindo. Ventava bastante e as folhas secas das árvores passavam voando pelos ares.

3h am.

Tédio e frio se completavam inexplicavelmente. No aeroporto havia poucas pessoas sentadas, algumas deitadas de uma forma improvisada usando suas mochilas como travesseiros e outras aguardavam próximo ao portão de embarque.

Ouvia-se um grupo conversando animadamente sobre coisas banais do dia a dia. Até uma voz meio robótica avisar que o meu voo iria partir em 10 minutos. Fui até o portão de embarque número três como estava descrito no meu ticket - "Embarque para Oaktown".

Parecia uma noite qualquer, de um dia qualquer, onde nada grandioso poderia acontecer, mas pelo menos para mim algo aconteceria, eu estava me mudando para um lugar diferente, com pessoas completamente diferentes do meu círculo habitual.
Oaktown é uma pequena cidadezinha, com pouco menos de 10 mil habitantes, diferente do lugar que eu morava até então, que era um grande centro comercial, esse lugar tem alguns poucos bancos e igrejas, há algumas padarias, restaurantes e bares que são a principal fonte de renda local e é claro, eu não poderia esquecer do Drive-in que é o ponto de encontro de todos aos finais de semana.

Entro no avião e logo sento em minha poltrona ao lado da janela, aos poucos as pessoas vão entrando e se acomodando. Então, fecham as portas da aeronave e logo ouço a aeromoça falar - "Senhoras e senhores passageiros, aqui quem fala é a comissária Diana do voo 048 com destino a Oaktown, com chegada prevista para 6h a.m". Ela continuou dando os avisos de segurança, em seguida o avião decola, olho através da janela e vejo o acúmulo de nuvens devido ao mal tempo e fico admirando a paisagem até que em certo ponto, eu já não prestava mais atenção e acabo adormecendo.

Quando acordo estou dentro de um carro, olho para as nuvens e percebo que ainda é noite e, que chove muito, vejo gotas grossas escorrendo pela janela deixando turva a visão que se tem lá de fora.

Então, de repente vejo tudo rodando, fecho meus olhos com força e quando abro estou de cabeça para baixo presa pelo cinto de segurança, sinto cheiro de gasolina, começo a ver faíscas, e então me dou conta que o carro capotou, eu tento desesperadamente abrir o cinto, mas minhas mãos estão suadas e trêmulas, quando finalmente consigo abrir, eu saio do carro e gritando por ajuda eu tento correr o mais rápido possível.

Olho para trás o carro agora está sendo tomado pelas chamas, tem duas pessoas na parte da frente do carro, como eu não tinha visto isso, estou em choque, sinto minhas pernas pesadas, porém me forço para frente, no impulso de tentar alcançar o carro, mas é tarde o carro explode antes mesmo que eu consiga ajudar.

Me desperto em agonia, meu peito sobe e desce de forma descontrolada, suor escorre pelo meu rosto, não consigo regular a respiração. Nesse momento percebo que ainda estou no avião e isto foi apenas um sonho sem sentido algum.

Assim que pousamos aquele sonho ainda me perturbava, balancei minha cabeça negativamente, não poderia me deixar abalar por algo sem sentido algum, sendo assim, eu fui em busca de um taxi, essa hora da manhã já havia pessoas caminhando pelas calçadas, avistei um táxi e fiz sinal para que parasse, entrei e dei ao motorista o endereço do Hotel que eu ficaria, claro que não possuía muitas opções naquela cidade, porém resolvi escolher o "FullHouse" que é um hotel melhor localizado, ficava perto do centro da cidade, eu teria tudo de forma mais fácil, coincidentemente era um dos melhores, o mais completo.

Quando cheguei o porteiro prontamente me ajudou abrindo a porta e carregando as malas, como eu já havia feito o check-in por telefone a caminho daqui, tudo foi muito mais rápido, só precisei pegar o cartão de acesso, e o bellboy me acompanhou até o quarto, ele me mostrou como tudo funciona e então se retirou. Eu estava só e teria um tempo para mim, para pensar em tudo que tinha acontecido nesses últimos dias.

Dias atrás

Naquele fatídico dia minha mãe resolveu ir ao mercado, o problema é que ninguém tinha percebido que duas pessoas ali estavam armadas e que pouco mais tarde naquele mesmo dia eles tentariam roubar o lugar, policiais à paisana adentraram o local e foram surpreendidos pelos bandidos que assustados começaram uma troca de tiros, minha mãe no meio disso tudo foi uma das vítimas.

Um pouco depois quando nos deram a notícia, meu pai me contou algo que mudou minha vida por completo, ele como sempre bebendo mais do que poderia aguentar, me revelou que na verdade eles não eram meus verdadeiros pais, eu fui adotada e até então, minha mãe nunca tinha deixado que ele me contasse a verdade.

- Sai já da minha casa, eu não quero nunca mais te ver, você não é minha filha e eu só te aturava por causa da Mercedes, agora que ela morreu não tem mais motivos para continuar com esse fingimento - dizia berrando aos quatro ventos para quem quisesse ouvir.

- Que? Do que você está falando? - Eu disse enxugando algumas lágrimas que insistiam em rolar.

- Isso mesmo que você ouviu, você não é nossa filha, nunca foi, você é uma bastarda que foi adotada por nós, num ato de caridade da minha mulher - disse ele com escárnio em seu tom de voz.

- Pare de falar essas coisas, tudo mentira, não quero ouvir, não é verdade - Me recusava a acreditar.

- Pois trate de acreditar sua bastardinha, sua família daquele fim de mundo que é Oaktown não te quis, largou você conosco. Quero você fora daqui !! - Ele gritou

Subi as escadas correndo para meu quarto, deixando que as lágrimas inundassem meu rosto, entrei pegando minhas coisas, o que não era muito, o mais rápido possível, e sai sem olhar para trás, fui andando entre as ruas até achar um taxi e fiz a única coisa que fazia sentido para mim naquele momento, fui para o aeroporto e comprei uma passagem só de ida para Oaktown.

E agora aqui estou eu, uma mulher com vinte um anos, que acabou de se demitir por telefone, que não faz a mínima ideia do que está fazendo e de como vai ser sua vida daqui pra frente.

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⏰ Última atualização: Apr 26, 2022 ⏰

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