capitulo 1

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As vezes ouço vozes. Mas não vejo a pessoa que me chama.
Você pode pensar que eu sou louca.
Meus amigos dizem que é impressão.
Talvez seja isso mesmo. Impressão de que a pessoa que me chama, seja aquela que me deixou nesse lugar e não voltou nunca mais.

Acordo com o barulho da cireni. Me levanto do colchão duro e ajeito o chinelo nos pés.
O corpo logo da sinal do acontecimento passado. Ainda sinto a dor alucinante que se espalha pelas costas. As lembranças trazem a tona a noite passada. Os gritos e o choro agonizante se fazem presente.

Algumas coisas na vida, agente nunca esquece e a noite passada será uma dessas coisas, que marcam e deixam seqüelas. Lembranças que despertam dor e arrependimento.

Após sair do corredor, entro no banheiro. O chuveiro enferrujado libera a água fria, que escorre sobre meu corpo. As lágrimas escorrem silenciosamente sobre a minha face. Com certeza todos já sabem o que aconteceu. Só quero ver a bronca da vez. O diretor não vai pegar leve dessa vez.

Coloco um casaco de capuz e desco até a cantina.

Evito olhar as pessoas que me encaram e cozinham algo. Não tenho muita paciência. Prefiro evitar esse tipo de pessoa, pra não ter que acabar na detenção.

Caminho até as mesas do fundo, me sento em uma delas e encaro a comida sem graça, por aqui uma sopa é um banquete dos deuses.

-O que foi que você aprontou dessa vez?

Olho pra cima e vejo um par de olhos cinzentos e cansados, que dirige a atenção. Seu sorriso preguiçoso me diz que eu não fui a única a dormir a altas horas da noite.

-Você pentiou o cabelo hoje?

-Nem vem, eu perguntei primeiro.

-Você já ouviu por ai né.

-Digamos que sim.

-Então por que pergunta? Arqueio a sombrancelhas esperando a resposta.

-Nada. Só pra confirmar mesmo. E voltando ao assunto do cabelo, é claro que eu não iria perder tempo com isso.

Ele passa os dedos entre os fios bagunçados e o joga, de forma que os fios castanhos caiam sobre seus olhos.
Por que esse idiota precisa ser assim tão lindo.

- Sempre humilde né, senhor Adam Cartney.

- Sempre mozinho. Ah, a Lore tava te procurando.

- Idiota. Vou atrás dela.

Saio do refeitório e vou para o patio. Assim que me aproximo, vejo um grupinho de meninas conversando baixo. Com certeza devem estar cuidado da vida alheia. Não tem o que fazer fazer mesmo. Na verdade isso é a coisa mais interessante para se fazer por aqui.

Não nada fazer nesse lugar monótono. A não ser estudar álgebra ou esfregar a bucha no funda das panelas de sopa. E sinceramente não me encaixo em nenhuma das opções. Ainda mais quando se diz a respeito da primeira. São meus amigos que salvam meu pescoço.

Eu tento me esforçar, mas cálculos não entram na minha cabeça, por mais que eu tente.

Assim que notam minha presença, param de conversar. Bando de abutres. Até parece que eu não sei o que falam.

Corações De AçoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant