Prólogo

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 -Tragam-me a garota! –Ordenou a rainha.

Seus servos estavam eufóricos, e esperavam ter, finalmente, achado aquela a qual o nome era impronunciável na presença da soberana.

Eles trouxeram, ou melhor, arrastaram uma menina que gritava e se debatia sobre o chão do salão principal. Sua face estava coberta de lágrimas, e de fato, encontrava-se numa situação deplorável, mas, nem mesmo o herói mais requisitado poderia salvá-la agora.

Jogaram-na aos pés da rainha que  assentava-se sobre o trono e mantinha um semblante neutro, porém, severo. Contudo, acentuou ainda mais a expressão ao dar início ao típico repertório que estava por vir.

-O que pensam que estão fazendo, seus inúteis?! – brandiu com sua voz tão afiada quanto uma espada –Levante minha querida, e permita-me ver o que fizeram a você –suas palavras doces, no entanto, não encobriam o seu tom fingido que amedrontavam ainda mais a menina.

Ela já ouvira falar dos truques da rainha, porém decidiu obedecê-la para não lhe ocorrer algo pior.

A garota segurou a mão estendida da rainha e, ao erguer a cabeça, reparou na beleza irrefutável da mulher a sua frente, cada traço de seu físico era perfeitamente desenhado, uma beleza nunca vista antes, porém, não pôde continuar admirando, pois, estava sendo examinada pela mesma. A menina suava frio e tremia, esperando o pior. No entanto, tanto os olhos, quanto as mãos da rainha foram rápidas e precisamente direcionadas a sua omoplata.

Por sua vez, a rainha, mesmo esfregando e inspecionando minuciosamente o local, constatou que, mais uma vez, haviam trazido a garota errada e isso a irritou amargamente.

Estava prestes a explodir como um vulcão em erupção. Antes, porém, perguntou entre dentes:

-Vocês- sequer- olharam se havia alguma marca? –Vociferou a rainha fixando o olhar para qualquer lugar que não fosse onde seus servos estúpidos estavam.

-E...e...ela tem aquele nome, vo...vo...vossa ma...majestade – Gaguejaram os dois servos tremendo de medo.

Ogros sempre foram conhecidos, dentre todas as gerações, como seres deturpadores- e geralmente solitários. Onde viviam em pântanos, ou em tavernas pouco frequentadas. Porém, quando a rainha começou a reinar, foram obrigados a servi-la, e caso recusassem, eram exilados ou massacrados por ela. Por isso, poucos daquela espécie sobraram e a única opção valida foi servi-la.

A rainha voltou-se à menina que, até então, encontrava-se calada, não sendo capaz, ao menos, de respirar.

-Qual o seu nome, garota? –O tom doce e fingido da rainha já havia se dissipado, agora ele atacava com espinhos pontiagudos.

-Aurora Stark, vossa majestade –Falou a menina num sopro, porém perceptível aos ouvidos da rainha.

-Seus tolos, ignorantes e indolentes! Inúteis até para encontrar uma garota com o nome correto! Será que devo soletrar para vocês? Ou os cabritinhos não entendem minha língua? –esbravejou a rainha, liberando toda fúria de seu interior, capaz de dilacerar qualquer um que ousasse o olhar em sua direção –Sou Dareen Stone, antes princesa, hoje rainha das sete províncias do reino de Aislinn, e não tolero tal desrespeito a minha pessoa! – anunciou prepotente –Mas, infelizmente, vocês são os únicos qualificados para este cargo, portanto, aproveitem minha trégua "misericordiosa", e só apareçam aqui novamente com a verdadeira vocês-sabem-quem!

A rainha, embora fossem anos de procura, não pretendia desistir facilmente. Pois, algo dentro de si dizia que a hora estava finalmente chegando. E logo sua vingança e soberania seriam plenas.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo pigarrear de um dos servos:

-O que ainda fazem aqui? Vão logo antes que eu fure o olho de um de vocês. – Exclamou com certo desprezo.

-Perdão, majestade. Só queremos saber o que fazer com a garota. – Questionou o mais valente.

Dareen já havia se esquecido da presença da menina que, agora, estava com os olhos arregalados e temendo a resposta:

-Enforque-a, assim como fizemos com a última. –Falou abanando a mão e voltando a sentar sobre o trono.

A garota, ao interpretar o que foi dito, imediatamente, entrou em pânico e implorou por misericórdia. Mas, já era tarde e ela já estava sendo arrastada, novamente, em direção à morte.

Neste ínterim, Olavo, uma espécie de bicho de estimação da rainha, que tinha a capacidade de metamorfosear-se, mas que, geralmente, costumava permanecer como corvo, entrou pela grande janela ogival do salão, emitindo um ruído perturbador e repousou sobre o ombro de sua senhora.

A rainha levou as mãos até o corpo do bicho e começou a acariciá-lo sussurrando em seu ouvido:

-Avise a todos os sátrapas das províncias de Aislinn que a rainha convoca todas as tropas para uma reunião e exigo vigilância total sobre o reino. Essa garota não me escapará mais, ou não me chamo Dareen Stone. Que chegue o dia de sua destruição.

             

As crônicas de AislinnKde žijí příběhy. Začni objevovat