(Akilah) Nova Vida (Parte 1)

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A garota ainda demorava a acreditar. Quando saíra da sala de recuperação, um novo mundo se apresentara para ela, algo que ela jamais imaginasse que poderia ser real.
A viagem até a base tinha sido tranquila, e, apesar de alguns ainda a olharem torto, por ela ser quem era, a maioria já a aceitava como parte do grupo. A cada dia que passava, sua história era mais divulgada entre os habitantes da Base D'Arc e na mesma medida que a gentileza aumentava em relação a ela, o ódio contra o chefe crescia.
— Como é que podem tratar uma criança assim? — Akilah entreouviu um dia no refeitório enquanto comia o café da manhã. Duas mulheres conversavam a observando de canto de olho e, apesar de tentarem disfarçar, a garota conseguia ouvir tudo.
— Eu também não consigo entender... — respondeu a outra. — É terrível pensar que alguém possa ter feito tão mal ao próprio sangue... Deixá-la para trás com aqueles monstros! Imagina o que poderia ter acontecido com ela se os nossos soldados não a tivessem achado... Não quero nem pensar nisso, Priscila...
— Nem me fale, Verônica! — sussurrou a outra com os olhos arregalados. As duas remexiam com a comida no prato, mas a fofoca era mais importante. — Eu ouvi que foi aquela garota, Pietra, acho, que a encontrou junto com aquele grupo dela...
— Aquela menina que se fingia de homem foi levada para o laboratório? — perguntou Verônica assustada.
— Essa mesmo — confirmou Priscila enquanto ajeitava uma mecha de cabelo que havia caído sobre os olhos. — Dizem que as próprias conselheiras que trouxeram a menina para cá... Aliás, será que irão escolher um membro novo para o conselho depois do que houve com aquele safado?
— Acho que não vai acontecer nada antes da festa... — Priscila deu de ombros. — Eu não sei se é realmente uma boa ideia fazer algum tipo de festa com tudo que está acontecendo... Parece que uma grande guerra vem por aí...
Akilah terminou de comer e levou sua bandeja de volta para ser lavada. Sorriu para todos, agradecendo pela refeição, o que ainda estranhava, entretanto, era ter todos sorrindo de volta.
Após o café iria se encontrar com outras crianças em algo que chamavam de escola. Nunca ouvira falar de algo assim... Mas era uma espécie de preparação para a escolha de profissão que todos faziam por ali.
Foi andando feliz pelos corredores até chegar ao conjunto de salas que era seu destino.
Nos primeiros dias, se assustara com o tamanho daquele lugar. Aparentemente, pelo que havia entendido, existiam várias daquelas bases subterrâneas espalhadas por todo lado, algumas eram apenas esconderijos, como o posto avançado em que os soldados ficaram antes de ir para Londinium a encontrar; outras eram um pouco maiores, possuíam muitas salas, dormitórios, ginásios e tudo mais como era a Base Boudicca que fora atacada; e outras eram como aquela em que estava: verdadeiras cidades subterrâneas, com direito a casas coloridas, ruas e tudo mais. Apesar de sentir saudades do sol, Akilah jamais havia sido tão feliz em toda sua vida.
Chegando à escola, ela entrou na sala destinada às crianças próximas à escolha de profissão. Ela era uma das mais velhas do grupo, a maioria era formada por meninos e meninas de sete e oito anos, mas ainda assim havia crianças de nove, dez e até adolescentes que haviam sido resgatados. Ela soube por uma das pessoas que vinham explicar como as coisas eram que os adultos que entravam tarde eram colocados em grupos especiais.
Ali, a garota aprendia o que cada função fazia na base e a importância de cada um deles. Sem os soldados, não haveria segurança. Sem os cientistas, não haveria saúde, nem evolução. Sem os operários, não haveria várias das funções espalhadas por toda a base. Sem os pais/mães que se dedicavam exclusivamente a isso, não haveria crianças para o futuro. Akilah ainda ficava em dúvida sobre o que queria ser, mas ficou mais tranquila ao saber que, apesar de raro, as pessoas poderiam mudar de função se quisessem quando estivessem mais velhas, entretanto, só poderiam fazer essa troca uma vez.
Na escola conhecera as irmãs de Killian, o irmão de Pietra e um garoto muito divertido que descobrira ser o irmão mais novo de Serafine. Eles ficaram muito entusiasmados ao saber de onde ela viera e toda a sua história, ainda mais ao ouvirem que Akilah conhecera os irmãos mais velhos deles.
— A Pê está bem, né? Ela não é super legal? — perguntara Nathan.
— O Killi também é demais! — comentou Flora animada.
— Eu só sei que a Fine é a melhor guerreira de todos! — afirmou Danilo cruzando os braços e rindo.
Akilah estava se sentindo, pela primeira vez, tranquila e aceita por um grupo.

Depois das explicações do dia, que foram sobre a função de cozinheiro, que a garota gostou muito, aliás, as crianças foram brincar de algo chamado "futebol". Akilah jamais vira uma bola e ficou encantada com a ideia do jogo. Fizeram meninos versus meninas e várias outras crianças se juntaram a eles. Entre risadas e correrias, o jogo acabou empatado e todos se divertiram.
No fim, sentados juntos conversando sobre o que aconteceria na tal festa que se aproximava, as crianças começaram a ouvir uma movimentação estranha. Vários adultos corriam em direção a uma das entradas da Base e as crianças não deixaram a curiosidade de lado, também se levantaram e foram atrás de respostas.
A aglomeração tornou difícil a aproximação dos pequenos, que se apertavam entre uns e outros na esperança de ver o que estava atraindo tanta gente. "Será que alguém se machucou nas missões?" Akilah expulsou logo o pensamento, não querendo nem cogitar a ideia disso, apesar de saber que todos lá fora corriam muitos riscos.
Finalmente eles conseguiram chegar à frente do grupo e pararam um ao lado do outro tentando entender. Na frente deles, uma jovem mulher era amparada por dois soldados Verdes, ela tinha vários machucados pelo corpo, um dos seus olhos não abria e suas roupas estavam sujas e rasgadas. Apesar de tudo, ela sorria e Akilah não conseguia acreditar no que via ao perceber quem estava na sua frente.
— MARIA!*

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*Para quem ainda não leu a versão definitiva de Killian que está na Amazon (com 20 mil palavras a mais e um capítulo extra que conta a origem de Akilah), Maria era a empregada dos pais da menina, a única que a tratava com carinho, ela foi expulsa logo antes de a garota descobrir que não era filha de sua mãe, apenas de seu pai e ser abandonada.
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E aí, gente?
Desculpem a demora! Mas finalmente saiu! Espero que gostem desse trechinho da Aki, ela é uma personagem muito fofa que vai ser melhor vista agora. Não se preocupem, os nossos jovens voltam em breve com o desfecho do que houve com Modaura.
Até semana que vem! 😍

Serafine (Trilogia Sobrevivência - livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora