(Killian) Caminhos (Parte 3)

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Após uma merecida noite de sono, os quatro levantaram cedo para voltar à jornada que deveriam seguir. Modaura surgiu momentos após eles acordarem.
- Ah, já estão despertos! - disse como saudação. - Vejo que os rostos de vocês estão bem melhores! Nada como uma refeição e uma boa noite de sono. Espero que estejam meljor preparados para o caminho que vão seguir.
- Bom dia, senhor Modaura - saudou Serafine se espreguiçando. - Realmente o caminho não vai ser fácil, mas já foi de grande ajuda o que vocês fizeram por nós.
- Bobagens! - O líder dos esquecidos ignorou o pensamento com um gesto de mão. - Agora vamos, aproveitar que o sol ainda não está alto no céu para que o dia de vocês renda mais.
Os jovens concordaram com a cabeça e juntaram os poucos pertences que carregavam. Os suprimentos de comida e água já estavam em bem pouca quantidade. Percebendo o que os jovens estavam fazendo, Modaura bateu de leve com a palma da mão na testa.
- Como eu sou tolo! Já estava quase me esquecendo... Esperem só um segundo!
Os quatro se entre olharam sem entender nada e Modaura saiu rapidamente da pequena casa, voltando alguns minutos depois com um embrulho nas mãos, o entregando para Serafine, a quem indicou como sendo a líder do pequeno grupo de rebeldes.
- Isso é para ajudar um pouco até que encontrem um outro vilarejo. - Serafine desfez o embrulho e havia algumas embalagens antigas trazendo mais daquele ensopado e algumas garrafas de água. - Sei que não é a melhor comida do mundo, nem a melhor que vocês já provaram, mas vai dar forças para vocês continuarem.
Modaura finalizou o discurso com um sorriso e Diana, se levantando em um pulo, o abraçou, deixando o líder dos esquecidos completamente encabulado. Quando o soltou, a face avermelhada do líder austero contrastava ainda mais com seus olhos bicolores.
- Promete se cuidar, não promete? - perguntou Diana pegando seus pertences no chão, já que os outros já haviam feito o mesmo.
- Prometo sim, jovenzinha, - concordou Modaura com seu sorriso meio oculto pela barba - se prometer fazer o mesmo.
Diana concordou com a cabeça e os cinco se encaminharam para o lado de fora da cidade subterrânea e por fim, para fora da cidade esquecida exterior. O ar um pouco mais fresco tomou os pulmões dos jovens que agradeceram após o tempo no subsolo.
A despedida foi silenciosa, porém cheia de significado. Nos olhos de cada um, a promessa de um reencontro, talvez em situações mais complicadas, mas igualmente importantes. A estrada de terra à frente revelava pouco do que os jovens guerreiros iriam enfrentar, mas não havia nada mais do que fazer a não ser percorrê-la.

Já haviam se passado várias horas desde que deixaram a cidade dos esquecidos. O sol já estava em seu ponto mais alto no céu e os jovens improvisaram proteções para o rosto a partir da muda de roupa que carregavam em seus pertences. Evitavam beber água, não sabiam quando iriam encontrar o próximo vilarejo. O silêncio não combinado também os acompanhava, precisavam guardar toda energia possível para continuar a mover os pés, passo após passo naquela estrada que parecia sem fim, sentindo apenas o calor infernal e a areia que se levantava com o movimento de suas pernas. A paisagem ao redor também não era de muito alívio, árvores mortas, matagais em amarelo doentio, algumas ruínas aqui e ali. Se não fosse o treinamento pesado e as várias horas trabalhando em Londinium, Killian não sabia se conseguiria continuar com aquilo. Olhando para as próprias mãos, viu que elas começavam a descascar assim como seus lábios que já estavam cheios de pequenas rachaduras. As garotas não estavam em melhor estado. Pietra, com o cabelo que começava a nascer escondido pela blusa enrolada em sua cabeça, revelava apenas com os olhos o cansaço que sentia. Diana e Serafine haviam prendido os cabelos em coques mal feitos e também usavam a proteção. Serafine tentava não demonstrar o quanto a viagem estava lhe custando e Diana parecia competir com ela em teimosia. "É, nenhum de nós vai desistir... Mas não sei porque isso sequer passou pela minha cabeça... Vamos chegar a um lugar habitado logo ou nós quatro podemos ter problemas sérios."
O dia prosseguiu e foi dando lugar à tarde. Os passos, antes altivos, foram substituídos por arrastar de pés. Eles haviam chego ao limite de seus corpos, era hora de parar antes que a noite chegasse. Como se tivesse lido seus pensamentos, Serafine disse:
- Vamos procurar um lugar para passar a noite, não adianta querermos esgotar nossas energias... - Sua voz estava rouca e não passava de um sussurro que escapava de seus lábios rachados. - O caminho ainda vai ser muito longo.
Os três concordaram com a cabeça, poupando energia.
A alguns metros à frente havia algumas ruínas do que havia sido um grupo de casas. Eles escolheram a que parecia estar mais inteira, entraram e fecharam a porta com uma estante vazia que estava dentro da residência. Já acreditando estarem seguros, os quatro se jogaram no chão aproveitando um descanso merecido no piso um tanto quanto gelado ao toque. Após alguns minutos recuperando a respiração e os batimentos acelerados que ele nem percebera que estavam assim, Killian olhou melhor ao redor para ver o lugar que tinham escolhido como refúgio. Estavam em uma espécie de sala e, além da estante que usavam de porta, havia alguns outros móveis. Um sofá que soltou uma nuvem de poeira quando Serafine sentou nele para testá-lo, uma poltrona e uma mesa com uma daquelas estranhas telas em cima. Resolvido a conhecer melhor a casa, Killian se levantou e foi explorá-la. Além do cômodo que estavam, havia uma cozinha, um banheiro e dois quartos. Em todos os recintos a marca da destruição e do tempo poderia ser sentida, mas Killian se demorou em um dos quartos, que parecia ter pertencido a uma menininha. As paredes já estavam mais do que desbotadas e a cama pequena também possuía uma camada de poeira, assim como os brinquedos espalhados por todo o lugar, mas o que chamou atenção do jovem foi uma imagem em uma quadrado presa na parede.
- O nome disso é foto - explicou Pietra o surpreendendo ficando ao seu lado. - Minha avó me explicou uma vez... Eles capturavam um instante nesses quadrados e podiam guardar a imagem das pessoas que eles gostavam para sempre.
- Isso parece maravilhoso... - sussurrou Killian ainda encarando a menina sorridente agarrada a um urso de brinquedo da fotografia. - Seria ótimo ter uma dessas das meninas... E acho que essas... "Fotos" como você diz, nos ajudam a ficar na memória, a não sermos esquecidos.
- Pode até ser, mas o que realmente importa é que as pessoas que amamos são carregadas em nossos corações. - Killian sorriu e deu um breve beijo em sua companheira. - Agora vamos, amanhã vai ser um outro dia cansativo.
- Nem me faça lembrar disso... - O jovem riu é entrelaçou os dedos aos de Pietra e voltaram para a companhia das outras para uma noite de descanso.

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Hoje atrasei mais do que o normal e peço desculpas para vocês! Estou terminando o livro de Morrigan e assim que o finalizar as coisas vão ficar mais fáceis por aqui!
Se puderem, não deixem de clicar na estrelinha! Até semana que vem!

Serafine (Trilogia Sobrevivência - livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora