(Killian) Honra E Derrota (Parte 1)

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Killian não conseguia acreditar no que estava vendo. "Depois de tudo que aconteceu... Não! Não pode ser verdade!". Mas não havia outra explicação. O homem que estava em sua frente possuía os mesmos olhos que ele, e o jovem viu um brilho de reconhecimento também no olhar de Pietra, quando virou-se para ela em busca de suporte. O jovem guerreiro mal conseguia respirar.
- Você está com eles. - Não era uma pergunta, Killian vira o pai dando ordens para o exército inimigo, ele não era apenas um peão, era um líder das tropas inimigas.
- Não sei por que o surpreende, Killian - respondeu o homem de voz grave, que após recuperar-se da surpresa de ver o próprio filho no exército inimigo, estava novamente com a postura de um chefe e andava com os braços para trás pelos escombros do que antes deveria ter sido um grande prédio, entretanto, não tirava os olhos do filho e da garota estranha e um tanto quanto familiar que estava com ele. - Entretanto, fico realmente surpreso ao te ver junto a esses rebeldes. - Ele disse a última palavra como um xingamento. - Eu me lembro muito bem de você sempre sonhar em seguir os meus passos... Tinha tanto planejado para você...
Killian ainda não se movera. Os punhos cerrados e um bolo de saliva preso em sua garganta. Pietra parecia não querer se intrometer no assunto familiar e apenas olhava o companheiro com dúvida no olhar.
- Você era meu herói! - Killian sentia os olhos arderem de decepção, mas não podia chorar naquele momento, não na frente dele. - Era o único que acreditava em mim!
- E eu realmente acreditava! - respondeu o líder inimigo com um sorriso sarcástico. - Mas jamais imaginaria que você se juntaria aos perdedores e ajudaria eles a acabar com nosso povo...
- Acabar com o povo? - se exaltou Killian. - Vocês ordenaram a morte de todos os trabalhadores de Londinium! Você ordenou a minha morte, a morte de Sean!
O pai de Killian balançou a cabeça.
- Não, meu filho, você e seus amiguinhos baderneiros que são culpados por isso. - Finalmente ele parou de caminhar e olhou nos olhos de Killian. - E Sean está vivo e bem, luta comigo, do lado que você deveria estar.
Killian arregalou ainda mais os olhos, sentia as pernas tremerem, mas ao mesmo tempo um enorme peso saiu de suas costas. Seu irmão não estava morto. Pietra, percebendo o estado do namorado, segurou sua mão para dar apoio. Nesse momento, ouviram alguém chegar e se viraram para ver Serafine e Diana que entravam também nas ruínas.
- Ora, mais jovens rebeldes! - exclamou o pai de Killian erguendo os braços. - É com essas pessoas que está se metendo, Killian? E agora, vai fazer o quê? Me executar? Derramar seu próprio sangue, o sangue do homem que te alimentou e sustentou por tantos anos por essas pessoas? - ele indicou com os braços as garotas.
Killian balançou a cabeça como se tentasse apagar os pensamentos, ignorou as perguntas do pai e apenas o olhou com seriedade.
- A Pê te reconheceu. - o jovem disse, sem se alterar. - Você foi um dos que a torturou?
O líder inimigo olhou para a jovem por alguns segundos como se tentasse se lembrar, o que já fez a raiva de Killian queimar em suas veias.
- Não, Killi - se intrometeu Pietra. - Ele estava no salão quando me... Apresentaram... Entre as famílias dos capatazes.
O jovem sentiu pelo menos um pouco de sua dor diminuir, não saberia como lidar com o fato de o próprio pai ter feito parte das torturas de Pietra, mas saber que ele esteve presente enquanto ela era humilhada e provavelmente gostou disso ainda o deixava enjoado. Ele se lembrou da vez que Serafine havia sido presa e de como os homens a olhavam e as coisas que diziam a ela. "Ele não é melhor do que nenhum deles".
- Você precisa entender, Killian! - exclamou seu pai, percebendo o olhar de fúria do jovem. - Nessa vida, onde há vencedores, também há perdedores.
- Mas o jogo não é limpo. Como você pode ganhar se você já começa a jogar com as peças quebradas? - retrucou Killian dando alguns passos em direção o seu genitor. - Se não há chance de vitória, há mesmo um vencedor?
- Se todos tivessem os mesmos direitos, ninguém se sentiria especial! - exclamou o líder de tropas inimigo. - Você acha justo que os que pouco fazem tenham a mesma recompensa do que aqueles que se dedicam?
- Não, mas também não é justo que todos não possam tentar - afirmou Killian. - Quem decide quem é digno de algo? Como se fazer uns pedaços torcidos de metal pudessem mostrar o valor de uma pessoa! Elas mostram sim o desespero!
"Quantos homens se mataram por não conseguirem produzir nas fábricas? Será que eles não eram bons em nenhuma outra coisa? Quantas mulheres e crianças ficaram sem opção por não terem elas mesmas o direito de tentar?
"Não há como falar de justiça em um mundo como esse, em um mundo em que um pai diz ao filho que ele deve matar quem se põe em seu caminho."
O pai de Killian balançou a cabeça.
Os jovens ouviram sons de passos e se colocaram logo em alerta, mas logo um grupo de três soldados inimigos chegou e levou o pai de Killian, eles chegaram a apontar as armas para os jovens, mas o líder inimigo balançou a cabeça, impedindo o ataque. Eles se foram tão rápido quanto chegaram, mas pai e filho não tiraram o olhar um do outro, até que os verdes estivessem sozinhos novamente.
Killian respirou fundo, seu pulmão queimava por ter prendido ar por muito tempo. Serafine e Diana se aproximaram, a primeira estava coberta de machucados e a segunda a apoiava.
- Quer que a gente vá atrás dele? - perguntou a guerreira com a voz rouca, provavelmente pelo cansaço.
- Não... - Killian suspirou e passou uma mão entre os cabelos, os bagunçando, e com a outra apertou a de Pietra. - O que tinha que ser feito aqui já acabou. O dia foi muito longo, vamos descansar.

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Oieee gente!
Estamos chegando ao final do livro e da Trilogia... Oh, meu Deus, meu coração chega a doer! Mas quero que vocês vejam o final disso tudo.
Até semana que vem, lindos!

Serafine (Trilogia Sobrevivência - livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora