XVI

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Dimitri não se aproximou muito de Henry ao longo do dia, e consequentemente não se aproximou muito de mim. Karen não apareceu na loja até meus últimos minutos por lá, e reconheceu Henry – não como um ator, mas como aquele garoto que apareceu aqui uns dias atrás. Ela afirmou, uma hora em que estávamos sozinha no depósito, que meu namorado era uma gracinha – a mania de Karen de falar como se tivesse 84 anos –, e eu quase sem querer derrubei uma pilha de livros em seu pé.

— Ele não é meu namorado — afirmei voraz.

— Não? Ah, tá bom — disse ela, e só.

Karen nunca foi o tipo de pessoa que sai por aí duvidando das relações amorosas dos outros. Ela assumiu rapidamente que Henry seria algo além de meu amigo, mas depois que eu neguei, sabia que ela não insistiria. Se você diz, você diz, era o que ela dizia sempre sobre porquê confia tanto no que as pessoas lhe contam. Eu sempre gosto quando Karen aparece na loja pois posso sentir que, no meio de toda essa excentricidade, eu sou no mínimo normal.

Me despedi da minha chefe pelo amor de Deus, não me chame assim, diria ela –, depois de Dimi, que me pediu para telefonar caso qualquer coisa acontecesse, e com um rolar de olhos para cima eu prometi que ligaria. Era o dia de Dimi fechar a loja, então o deixei lá e me preparei para ir ao veterinário buscar Lola, que já estava pronta para se recuperar da cirurgia em casa.

Dois passos antes da porta de saída, ouvi um toque de celular atrás de mim e percebi estar vindo do bolso do casaco de Henry. Ele não cessou os passos e atendeu.

Foi inevitável não ouvir.

— Oi, Emma — foi assim que ele atendeu, e logo começou uma série de respostas curtas e um pouco impacientes: — Não. Estou, sim. Eu sei. Eu sei. Tudo bem. Não sei. Eu não sei, Emma. Não vou, para com isso. Eu juro. Sei disso. Emma, eu sei disso. Já, sim. Não estou. Eu sei, Emma. Tá bom. Tá bom. Tá bom! Tchau. Sim. Tchau, Emma, até mais. Sim. Tchau!

Andando dois passos à frente de Henry, nem olhei para trás ao ouvi-lo se despedir. Pelo que li brevemente sobre a família de Henry, Emma era sua irmã mais velha, se não me falha a memória.

Ele guarda o celular e diz:

— Minha irmã.

Eu só assinto, sorrindo sem mostrar os dentes.

Andamos mais alguns passos em silêncio, algo não muito comum para nós dois, que não adoramos falar, e eu sinto a mão de Henry encostar na minha de repente. Não estamos andando muito rápido, mas ele desacelerou mais ainda o nosso passo até parar de vez.

— Sabrina, você se importa de ir sozinha até o veterinário?

Minha mente gira por um milésimo de segundo e eu o vejo duplicado, mas um piscar de olhos melhora minha visão e eu o encaro.

Ele está dizendo, indiretamente, que vai embora?

— Por... posso, posso, mas... por...?

— Preciso ir até o hotel.

— Achei que você não estivesse mais lá — observo divertida.

— Tecnicamente não estou, mas realmente ainda estou. Minhas coisas estão lá. — Henry abre um sorriso. — Você não achou que eu tinha viajado só com uma mochila, né?

Dou de ombros envergonhadamente.

— Sei lá. Do jeito que você fugiu...

Henry ri. Não a gargalhada que eu adoro, mas uma risada que ainda consegue fazer meu estômago saltar.

Henry Smythe I & IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora