Capítulo 21 - Thiago

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Talvez eu não tenha raciocinado direito, pois voltar para dentro daquele inferno, sabendo que poderia encontrar minha morte ou ficar preso para sempre aqui não foi a escolha mais certa a fazer. Entretanto, eu voltei atrás do Well, talvez seja óbvia minha atitude, mas não queria que ele morresse e se estivesse morto queria olhar com meus próprios olhos para ter certeza.

Caminhei pelos longos túneis até me deparar com um local desconhecido, com vários telões que observavam o acampamento, diversos túneis e um deles dava para ver todos nós saindo, entretanto não tinha ninguém naquele local, nem indo atrás de nós, será que eles desistiram? Comecei olhar todas as telas a procura do Well. Em um dos monitores percebo um grupo estranho caminhado, logo identifiquei o cabelo lindo do Well, apenas preciso saber como chegar até eles. Analisando as imagens consegui traçar um caminho que acredito chegar naquele grupo de pessoas. Corro desesperado pelos corredores e me deparo com pessoas vestindo ternos, o que me surpreende mais são meus pais, sim MEUS PAIS com Tamara Oliver conversando a respeito de dinheiro e das pesquisas.

— Mãe, pai? – indago desacreditado.

— Filho, já era para vocês terem saído do laboratório. Porque você ainda está aqui? – pergunta minha mãe.

— Eu vim atrás do Well – aponto para ele no fundo e percebo que ele também está vestido de terno, não é possível ele ter mentido o tempo todo.

Well se aproxima de meus pais, eles passam a mão nele, num ato de carinho, percebo que sua boca está costurada, Tamara dá um passo à frente e diz:

— Esse foi o castigo que ele ganhou ao abrir demais essa boca grande, né meu filho? – e passou a mão sobre os cabelos cacheados do Well, aquilo me irritava muito, porque ele não lutava contra? As mãos do Well estavam algemadas a frente do corpo, parecia um prisioneiro.

— Vocês querem um tempinho a sós para conversar? – pergunta minha mãe, Tamara dá risos com a pergunta, eu balanço a cabeça dizendo que sim. Well se aproxima, eu abraço ele apertado e passo a mão sobre seus lábios agora presos por uma costura doentia de sua mãe. Rapidamente ele mexe nos bolsos e tira um gravador com duas fitas, uma escrita Rafael e outra Well e um pedacinho de papel embolado. Com a mão em seu peito ele diz em linguagem de sinal EU SEMPRE AMEI VOCÊ, retorno com EU SEI E AMO VOCÊ TAMBÉM, os anos de trabalho voluntário valeu a pena. Sou apaixonado em linguagem de sinais.

Eu agarro o Well e digo em seu ouvido, Vamos fugir? Agora! Ele afasta meu corpo do dele, de forma leve, os olhos tristonhos, vira seu corpo e volta para os braços de Tamara, fiquei incrédulo! Ele estava me abandonando.

— Well sabe o que é melhor para ele! – diz Tamara.

— Por que vocês estão deixando o local? – pergunto segurando as lágrimas.

— A parte leste daqui está em chamas, iremos para nossa outra base, muito mais sofisticada que aqui – fala Tamara.

— Desistiram de nos capturar assim? – questiono.

— Filho você não deveria estar aqui ainda, saía daqui, por favor! – alerta minha mãe aflita, meu pai permanece em silêncio todo o tempo da conversa.

Eles viram a minha direita e me deixam ali vagando sozinho nesses túneis. A primeira coisa que eu abri foi o papel amassado que o Well me entregou, nele estava escrito:

"Meu querido Thiago, há muito não lembro o que é ter uma pessoa com quem se preocupar, mas ao longo do tempo você me deu isso, eu iria fazer um texto bonito, mas o tempo não deixa. Eles não acabaram e continuaram até obterem o resultado desejado, não confie em nenhuma das pessoas que está com você, parte delas auxiliam Tamara. Além disso, ao chegar no primeiro posto de gasolina não interaja com eles, pois também trabalham para Tamara e por favor saía daqui o mais rápido possível. Eu coloquei fogo no laboratório, mas existia um alarme de bombas com contagem regressiva. Eu não tinha ideia se íamos nos encontrar ou não, por hora vocês estarão seguros, mas o projeto continua, a nossa cidade é o PROJETO!. Eu amo seus cabelos castanhos claros e queria poder beijar você novamente, mas estarei preso nisso para sempre, me dói dizer isso, mas quero que me esqueça e siga sua vida, não podemos ficar juntos – Com muito amor e carinho do seu Well"

Eu não acreditava no final desse bilhete, sentei meu corpo no chão e chorei de ódio, esse pesadelo nunca irá acabar? Entretanto, meus pais estarem aqui era algo estranho, sem contar a parte que está escrito "a cidade é o PROJETO", o que será que ele quis dizer? Contudo, não podia dar-me ao luxo de ficar parado, tinha pessoas precisando saber que aquela parte subterrânea iria explodir e a parte da floresta pegar fogo.

Enquanto caminho no túnel, a procura do meu grupo, coloco a fita Rafael no gravador e descubro que é quase um depoimento, um diário, em que ele conta tudo que passou no acampamento, a fita começa assim: Não faço ideia de que dia seja hoje, mas estou preso na base de O SINISTRO, vou começar no dia que nos juntamos para vir a esse lugar, estávamos felizes... Parei a fita, aquilo poderia servir para eu contar ao mundo o que eles eram e o que faziam, mas não queria ouvi-la, seria desnecessário agora. Reencontrei o grupo de pessoas, a última a subir a escada era a vozinha do grupo, ajudei ela se apoiar na escada. Todos do lado de fora, alertei sobre as bombas no subsolo e que iriam explodir a qualquer momento.

Caminhamos rapidamente para o mais longe daquele local, a floresta não parecia ter fim, escutamos uma forte explosão, o chão tremeu, fomos derrubados, areia, terra e pedaços de árvores voavam para todos os lados, quando a explosão passou a floresta estava em chamas, continuamos a andar, pois iria demorar até os bombeiros ou a guarda florestal aparecer e nos ajudar e não queríamos ficar perto do fogo.

Estava anoitecendo, todos resolveram parar para sentar, meu estômago doía de fome, quando foi a última vez que comi? Não lembro, não sei nem dizer que dia é hoje, mas estar fora daqueles túneis macabros já vale a pena. Larissa e Caio se aproximaram de mim de mãos dadas com a Andressa no centro, pareciam mãe, pai e filhinha. Sentaram ao meu lado e ficamos observando o fogo queimar as árvores.

— Você acha que acabou? – pergunta Larissa.

— Eu acho que não – respondo – afinal eles nem deveriam ter começado – continuo.

— Será que vai chegar ajuda? – diz Caio.

— Se chegar irá demorar bastante – respondo.

Um farol alto surge no meio da estrada, uma picape Studebaker amarela se aproxima, com duas pessoas dentro, param o carro e ficam nos olhando.

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