Capítulo 1

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SAFIRA

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SAFIRA

#ORegressoDaÁguia

À distância, pude ouvir os gritos dos meus pais enquanto engolia água e mais água. Os olhos mal conseguiam se manter abertos por causa da ardência do sal, e os movimentos desesperados que eu fazia com meus membros superiores só me roubavam energia e, ao invés de me trazerem para cima, me impulsionavam ainda mais para o fundo.

Com o choro preso na garganta, a única coisa que me vinha na cabeça era "por que você desobedeceu? Devia ter ouvido meus pais e não ter entrado no mar sozinha".

Dali, vi minha vida se findando em meus 14 anos. Tão nova...

Eu não queria morrer. Ninguém quer. Eu queria viver pra sempre.

"Socorro, Deus!", gritei com o restinho de fôlego que tinha, contemplando a água borbulhar. Então, tudo se apagou e só recobrei a consciência minutos depois, quando senti meu corpo, ainda no mar, sendo carregado por um homem. Entre flashes de luz e escuridão, piscando os olhos lentamente, olhei para os céus sobre mim e vi uma linda águia sobrevoando baixinho aquele oceano. Ela voava rapidamente e, com muita destreza, sumia pelo horizonte, continuando sua rota.

Antes do silêncio de outro desmaio, ouvi claramente uma vozinha infantil recitando ao pé do meu ouvido "mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão."

***

— Chegamos, amor. — Despertando de um cochilo insignificante, ouvi a voz de Ryan e senti o pescoço doer. Eu estava na mesma posição há horas dentro daquele carro.

Pisquei, massageando a região dolorida, e ainda achando estranho ter sonhado com meu afogamento de quatro anos atrás. Aquilo me trazia péssimas recordações.

— Que bom. — Expressei, aliviada por estar ali com ele. Juntei nossas mãos e apresentei o melhor sorriso que consegui.

Após me dar um beijo rápido, Ryan me analisou com os olhos, mantendo uma de suas mãos em meu rosto. Suas sobrancelhas adquiriram um tom de estranheza.

— Tem algo errado?

Meneei a cabeça em negação.

— Hum... não. Quer dizer, — mordi o lábio inferior, receosa. — Eu não sei. Estava pensando em algumas coisas. — Fui sincera.

— Que tipo de coisa? — se afastou, já um pouco indiferente, como se pudesse ler meus pensamentos. Virando o rosto para o lado oposto onde eu estava, ele completou: — Só não venha me dizer que mudou de ideia, porque não podemos voltar atrás.

Abri a boca para me expressar, mas a mínima ideia de que ele poderia detestar minhas palavras me fez sucumbir todos os sentimentos. Quando não disse nada, ele fechou a cara e saiu do carro. Mordi os lábios, tentando achar meu bom humor para corrigir aquela situação.

Até que te espereiWhere stories live. Discover now