Prólogo

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SAFIRA

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SAFIRA

#AParteQueMeFaltava

Eu sempre sabia a hora exata.

Essa frase pode soar um tanto prepotente, mas era um fato sobre mim. Todas as vezes em que tentava adivinhar que horas eram, eu nunca errava. O tempo parecia ser meu amigo, embora brigássemos constantemente; por exemplo, havia alguns momentos em que eu queria que ele passasse mais rápido, como quando eu estava na aula de física e os cálculos na lousa pareciam que iriam me enlouquecer. Contudo, obviamente, ele não me obedecia. Em outros, também, eu implorava para que os ponteiros do relógio paralisassem, algo similar ao sentimento que eu tinha naquele instante, apesar de estar consciente de que não teria meu desejo realizado.

Minhas mãos estavam trêmulas. Respirei fundo uma última vez e tentei espantar o medo que rondava minha mente, embora não tenha obtido tanto êxito. Levantei da cama e calcei minhas pantufas. O quarto estava escuro e silencioso, em contraste com toda a minha ansiedade pulsando a cada segundo que se passava. Liguei a luz.

Poxa!, reclamei mentalmente. Tudo pareceu pior quando a iluminação atingiu meus olhos. Eu só queria voltar para a cama e fugir da responsabilidade de decidir minha vida em tão pouco tempo.

Em meio à toda aquela crise de ansiedade, sentei-me no tapete felpudo que cobria o chão do quarto, tentando acalmar a mim mesma, pondo uma mão no peito e outra na barriga, enquanto contava de 1 a 10.

Aleatoriamente, lembrei-me de quando era criança e pra tudo eu fazia um "Mamãe mandou". Em virtude da minha indecisão, não me pareceu má ideia recorrer à tal brincadeira. Assim, peguei dois ursinhos de pelúcia da prateleira na parede mais próxima e sentei-me olhando fixamente para os dois. O coelho azul seria o "sim" e o patinho marrom seria o "não".

— Mamãe mandou eu escolher esse daqui... — comecei a apontar e cantar a musiquinha. — a-ba-ca-xi-xi-xi.

Fiz três vezes. A resposta sempre dava o patinho marrom. Dei um chute nos ursinhos, impaciente. Não era a resposta que eu esperava.

Eu queria um "sim". Queria fugir com o Ryan. Só precisava de algo que confirmasse que aquela era a decisão correta.

Quis chorar, mas não devia. Meu rosto ficaria inchado e Ryan não poderia me ver assim. De jeito nenhum! Foi nesse instante que parei em frente ao espelho e abri um sorriso. Me esforcei para deixá-lo o mais real possível, embora não tenha certeza se funcionou. Meus olhos azuis, comparados a um oceano em pleno sol radiante, estavam tão frios quanto uma noite tempestuosa. Já as madeixas negras cacheadas contrastavam com minha pele branca e boca rosada.

Entretanto, era só isso. Eu era apenas o que via no reflexo do espelho. De repente, como se eu precisasse sentir aquilo, um vazio ecoou no meu peito. Eu necessitava de algo além, ou de alguém, mas ainda não sabia o quê e nem porquê.

Até que te espereiWhere stories live. Discover now