Primeiro mês

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— Estou um pouco enjoado — ouvi Harry murmurar ao meu lado.

Fiquei tenso no mesmo momento e dei uma olhada para o banco ao lado do meu para ver se ele estava bem.

Era claro que ele não estava.

— Vou parar no acostamento, consegue aguentar um pouco?

Olhei novamente para o lado e vi-o balançar a cabeça com os olhos fechados. Controlei a minha própria respiração e diminuí a velocidade do meu carro para poder pará-lo. Era uma estrada bastante movimentada, porém, sem muitas casas ao redor, o que tornava mais fácil Harry pôr tudo que deveria para fora sem que ninguém de fato percebesse.

Haviam-se passado mais duas semanas desde a descoberta da gravidez. Não preciso dizer que, depois de Harry falar a bendita frase de três palavras, comecei a chorar igual a um idiota no meio do café. Foi a primeira reação que consegui ter, uma resposta a tudo o que estava por vir no meu futuro: mil vezes mais responsabilidade, sem chances de ir para faculdade e... provavelmente sem pais.

Porque eu sabia, eu simplesmente sabia que os meus pais colocariam-me para fora de casa no mesmo instante em que eu dissesse haver engravidado alguém. Eles eram ótimas pessoas, mas tínhamos regras claras em casa. E era por isso que eu manteria segredo até, pelo menos, Harry estar a alguns meses de ter o bebê (porque ainda haviam hipóteses de ele não ser meu e seria total burrice eu ser expulso de casa por uma criança que não era minha). No mesmo instante que comecei a chorar, Harry envolveu os seus braços fortemente ao meu redor e sussurrou pequenas frases reconfortantes, tal como "Ei, lindo, está tudo bem", "Estou aqui com você", "Eu disse juntos, não foi?". Era como se eu fosse o homem grávido ali, e não ele.

Mas a questão era: eu quem tinha muita coisa a perder. Harry tinha o quê? Talvez mais de vinte anos? Ele já era adulto, já tinha uma vida e parecia lidar bem com ela. Já eu, havia tanta coisa pela frente, tantos sonhos, tantas cartas enviadas para faculdades. Eu teria que deixar tudo por uma criança. O meu dinheiro guardado seria usado para comprar fraldas e roupinhas de bebê ao invés de despesas da faculdade e parecia tudo tão aterrorizante.

Porque eu odiava admitir, mas eu ainda era uma total criança mimada por meus pais, e só o pensamento de viver uma vida independente e cercada de responsabilidades me dava calafrios.

Chorei por um total de trinta minutos, até um funcionário do café se aproximar da nossa mesa e perguntar o que havia de errado. Então Harry apenas murmurou algo indecifrável por mim para o garçom e puxou-me para fora do local. Quando fui perceber, estávamos no banco de trás de um carro com um delicioso cheiro de perfume de morango — que percebi depois ser de Harry —, ele sentado e eu deitado no seu colo.

Um momento depois, involuntariamente, virei-me para o lado e passei a mão na sua barriga, uma única palavra ecoando na minha mente.

Juntos.

E ali estávamos naquele momento: a caminho da primeira consulta do pré-natal de Harry; na verdade, parados no acostamento enquanto Harry põe toda a sua comida para fora.
Eu ponho as minhas mãos nas suas costas, deixando-o saber que estou ali para ele, e começo a fazer alguns carinhos. Ele ainda faz sons agoniantes enquanto vomita, e tenho que me controlar para não ir para o lado dele e vomitar todo o meu almoço também, porque, sério, aquele som é horrível.

— Estou bem — ouço a sua voz entrecortada, soando mais como um gemido do que qualquer outra coisa. O meu primeiro pensamento é dar a volta, levá-lo para casa e fazê-lo ficar deitado para sempre numa cama; mas não. É o normal de uma gravidez, e ele precisa se consultar. Precisamos saber se o nosso bebê está bem.

O nosso bebê. O meu filho.

O pensamento parecia mais suave agora do que há uma semana, quando só de pensar que eu seria pai, todo o choro vinha a tona novamente. Agora, parecia algo bom, certo.
Estando com Harry, tudo parecia certo.

I'M HAVING YOUR BABY || larry (mpreg)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora