Sempre forte, independente e bondosa.

Johannah se foi naquele dia.

Louis perdeu o contato com a família desde que se mudara de Doncaster mas quando recebeu a ligação do tio de terceiro grau – o único com a decência de avisá-lo que sua mãe havia falecido – ele nunca imaginou que se arrependeria tanto de algo quanto se arrependeu naquele instante.

Ele aguentaria todos os insultos dos vizinhos e conhecidos, ele aguentaria todas as reclamações de suas irmãs, ele aguentaria todos os revirares de olhos de seus familiares, ele aguentaria até mesmo os socos de seu padrasto se fosse preciso – apenas para estar com sua mãe novamente. Em seus braços, em seu conforto, em seu pequeno e quente mundinho feliz aonde ela o contaria histórias de princesas (ele gostava e não ligava para o que os outros diziam) e o chamaria de Cinderela, a sua princesa favorita de todos os tempos enquanto brincava com seu cabelo e o ouvia cantar músicas do Grease (seu padrasto odiava mas toda madrugada de domingo, eles se reuniam escondidos no quarto de Louis e assistiam, sua mãe cantava a parte da Sandy e ele a do Danny e juntos encenavam quase o filme inteiro debaixo dos edredons). Louis era quase um adulto mas sua mãe ainda o tratava com criança – sem menosprezar sua responsabilidade e autonomia, uma vez que deixou-o ir para Londres sem pestanejar.

E Louis tentou manter contato com Johannah, ligações, mensagem de texto, vídeo chamadas e todo tipo de correspondência. Mas seu padrasto implicava, até mesmo batia em sua mãe e mais uma vez Louis se viu responsável pela dor dos outros.

Ele pensou que Johannah entenderia, afinal, ela era sua mãe, sim?

Mas não.

Assim que ele terminou de se inscrever no musical do segundo ano da uni, Mamma Mia, ele ligou para Jay, o garoto nunca se mostrou tão animado e excitado para algo e assim que a mãe atendeu, gritos e choro foram ouvidos pela linha. Louis tentou perguntar o que estava acontecendo mas Johannah simplesmente continuou a gritar e a chorar. Louis pensou ser seu padrasto (vai ver ele estava machucando-a novamente, o que regularmente acontecia) mas não era o caso.

"Some, desaparece, evapora da minha vida e me esquece. Eu tentei, céus, como eu tentei te consertar. Dê amor à ele, eles diziam, dê carinho e apoio, eles insistiam. Eu tentei mas chega, estou no meu limite. Some, por favor, me deixe em paz e finja que não existo, eu não aguento mais todos falando no meu ouvido e—e—a dor é muito grande. Você não é meu filho, é uma abominação, eu tentei lidar com suas doideras, tentei fazê-lo se sentir confortável comigo para que pudesse te fazer mudar mas não tem volta, já está feito e você sempre será esse erro irreversível e pecaminoso. Suas irmãs aguentaram o suficiente e—e—e seu irmão? Você podia tê-lo contaminado e—e—ainda bem que decidiu se mudar mas quando pensamos que estávamos livres de você... Mark tinha razão, você precisa ser deixado de lado, precisa de solidão e quem sabe assim possa entender o verdadeiro valor do amor. Quem sabe o tempo não te conserte. Eu tentei ser uma boa mãe, Louis, mas o problema nunca foi eu. Como eu poderia ser uma mãe decente se você nunca foi um filho normal? Mal posso acreditar que saiu da minha barriga, que te carreguei por nove meses. E pior, ainda o acolhi em minha casa por anos. Anos. Chega dessa besteira, suma das nossas vidas e quem sabe tenha a sorte de morrer de AIDS e acabe logo com esse sofrimento. Só... some. E pare de ligar, para de mandar mensagens e para de me procurar. A dor é insuportável e...você não vale tanto a pena assim."

Louis causava dor para sua mãe. Sua mãe. Dor. Ela o implorara para parar porque ele não valia a pena. Louis não valia a pena. A dor não era viável pois não merecia ser sentida.

once upon a plug {l.s}Kde žijí příběhy. Začni objevovat