Capítulo II: A Festa - Douglas

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Douglas

Eu não sabia responder o que estava sentindo naquele momento enquanto dançava com Amanda. Ainda procurava, silenciosamente, enquanto a sentia quente em meu peito, as explicações dentro de minha cabeça, quando ela falou:

― Precisamos conversar.

Então lembrei da razão pela qual estava tão eufórico, talvez tão nervoso: Lucas.

Sim, precisávamos conversar. Animado com a situação, eu havia procrastinado esse momento, deixando-me levar unicamente pela excitação que tomava conta de meu corpo por completo, mas, não poderia continuar escondendo de Amanda o que estava acontecendo. Não poderíamos esconder nada um do outro, essa deveria ser nossa primeira regra. Claro que eu já havia uma bagagem imensa de fatos não ditos, afinal, nunca lhe contara sobre a paixão platônica que tive por ela, mesmo depois de termos desenvolvido essa intimidade que tínhamos, que jamais imaginei ser possível ter com alguém. E, agora, cá estava eu novamente, escondendo o que sentia por Lucas.

Mas ali, com ela em meus braços, vendo-a de tão perto, por alguma razão, não tinha vontade de abrir a boca. Não existia em mim nenhuma vontade de falar, apenas queria aproveitar aqueles segundos com ela.

Medo, talvez? Mas do que eu tinha medo? Por qual razão eu não conseguia dizer que estava a fim de Lucas? Seria vergonha de admitir que estava interessado em algum cara? Porque para ser franco, ainda não havia me acostumado cem por cento com essa ideia de... Sei lá, beijar o Lucas? Então, era por Lucas, por Amanda ou por nós três que eu permanecia calado?

Amanda também permanecera calada por todo esse tempo, apenas se deixando me fitar com aqueles olhos verdes. Aqueles olhos... Eu lembrava do quanto eu gostava daqueles olhos verdes! E mesmo que estivesse lutando comigo mesmo, com todos esses pensamentos, uma coisa, porém, eu não parava de pensar: como ela estava absurdamente linda esta noite!

Esse foi o último pensamento que aparentemente fazia sentido em minha cabeça, antes de tudo virar uma confusão borrada de lembranças e sentimentos.

— Tem alguma a ver com o Lucas, não tem? — Perguntou Amanda, devagar, como se percebesse que eu precisava de um empurrão.

Assenti, mordendo o canto inferior de minha boca.

— Há alguns dias... — Eu comecei a falar, sem ter ideia do que viria depois — Eu acho, sei lá... Ou eu achava que... Mas, estou confuso! — terminei de falar, esperando que minhas palavras houvessem feito algum sentido.

Apertando seu abraço em meu corpo, Amanda sussurrou em meu ouvido — Pode me contar, também há algo que preciso te contar — e voltou seu rosto para fitar o meu. Eu comecei a sentir todos os músculos do meu corpo se tornarem rígidos de tensão, meu coração parecia que ia pular boca a fora, enquanto minha língua já admitia que eu passaria milênios a gaguejar. Mas eu precisava contar! — pensava feito um louco, sentindo a ansiedade aumentar a cada momento que olhava para Amanda, tão perto, tão linda — Eu precisava contar tudo! Precisava contar de como quase o beijei na noite anterior e como ele parecia querer a mesma coisa que eu... Precisava contar de como o queria e como estava com medo daquela nova experiência... Precisava contar que ela estava absurdamente linda esta noite, e como isso estava me deixando confuso... Precisava contar de minha paixão platônica que nutri por ela tempos atrás... Precisava contar que talvez nunca a tivesse esquecido... Eu precisava contar... Eu Precisava... Precisava...

Então, sabendo o que precisava fazer, apertei seu corpo contra o meu com um abraço e a beijei.

Não sabia o que esperar daquela ação, nem mesmo sabia o que estava pensando, nenhuma consequência me viera a cabeça, nada, nada, apenas fiz... E Amanda apenas retribuiu. Por um tempo do qual me foge por completo. Beijamo-nos ali, de forma tão intensa que tudo mais, que não fossem os nossos lábios, fugia de nós.

— O que estamos fazendo? — Perguntou Amanda, entre beijos.

— Não sei, mas não quero parar. Você quer?

Balançando a cabeça em resposta, continuamos por mais algum tempo nos beijando daquela forma, até que, lentamente, Amanda foi diminuindo seu ritmo, passando a me afastar um pouco com suas pequenas mãos. Ficamos ali, parados, enquanto o mundo dançava a nossa volta, apenas olhando um ao outro na luz fraca de néon.

— Que bom que finalmente vocês se entenderam... — Disse uma voz rouca atrás de nós. Com sobressalto, viramos nosso corpo rapidamente. Lá, no canto escuro, escorado na parede, Lucas estava parado com os braços cruzados olhando para nós dois. — Hum... Olá!

Os dois, nós três (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora