Prólogo

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Não podia acreditar no que acontecia diante dos meus olhos. Ali, despois de inúmeras lutas que tivemos para ficarmos juntos, via tudo caminhar para o fim certeiro — e o pior: eu nada poderia fazer sobre isso.

— Como isso foi acontecer? — era somente o que ouvia em meio a um choro desamparado — E agora, o que faremos?

Não sabia o que responder, ou mesmo se existia algo para responder. Em minha mente, cada pensamento era turvo, sombrio, como um mar de piche, doloroso e impossível de escapar, que nos afundava lentamente. Queria desabar num choro desesperado, órfão. Queria gritar, espernear! Queria arrancar fora o órgão que em mim pulsava em chamas no peito e cuja dor não aguentava mais carregar. Minhas mãos tremiam, minha garganta se fechava e meus olhos se afogavam.

É o fim. Dizia uma perversa voz em minha cabeça, compulsivamente em desumanas repetições. Depois de hoje, nunca mais existirá os três. É o fim.

A música da formatura retumbava ao fundo. Todos de quem nos escondemos, temendo a crucificação certeira por nossa felicidade, agora, pouco se importavam com nosso penoso pranto. Do que tinham valido nossas máscaras e todos os esforços que mantivemos para deixar nosso sentimento em segredo? Do que importavam os beijos não dados, os abraços negados, os afagos extintos? Por medo, morremos, sem que nenhum desses de quem nos escondemos viesse ao nosso enterro.

E, como em qualquer morte, só nos restava o silêncio fúnebre e a escuridão eterna.

Estava tudo acabado: não mais existia nós três.

Os dois, nós três (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora