Vestia um casaco de culpa

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Este capítulo foi escrito ao som de Fate - Grey Reverend. ♥

Enquanto abria os poucos pacotes de presente que havia recebido no seu aniversário de doze anos, Ana escutei vozes alteradas vindas do andar de cima de sua casa, provavelmente do quarto dos pais, junto com um barulho de porta batendo e malas sendo arrastadas para lá e para cá no corredor. Ela nunca se esqueceu do barulho das malas.

Assim que a festa de aniversário acabou, seus pais começaram uma discussão acalorada. A menina ainda tão nova, não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas sentia há alguns meses que as coisas estavam diferentes.

- Você tem uma filha para cuidar, como vai abandonar tudo assim? Como você tem coragem de fazer isso? Ela mal sabe pentear os cabelos sozinha e você vai abandoná-la. - A voz do pai de Ana era uma misturada de raiva e choro.

- Eu não vou abandoná-la a própria sorte, eu vou deixá-la com você, que é o pai! - Barulhos de malas pelo corredor e a voz da mãe de fundo.

Antes que Ana pudesse sair do meio dos embrulhos e ir ver o que estava acontecendo, o som da porta da casa ecoou alto por todos os cômodos. Mesmo jovem, ela entendia que alguém havia partido, e provavelmente, sem pretensão de voltar.

 Mesmo jovem, ela entendia que alguém havia partido, e provavelmente, sem pretensão de voltar

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Dias se passaram e apenas silêncio. O pai mal podia olhar para Ana, não tocou no assunto, e ela tinha tanto medo de perguntar que deixou que o tempo passasse e torceu para que ele resolvesse falar sobre tudo em breve.

- Pai, eu preciso da ajuda do senhor, algo estranho está acontecendo comigo. Desde ontem eu não paro de fazer xixi e sai um pouco de sangue junto, eu não sei se comi algo estragado. O senhor pode me levar no médico? – Disse a menina de doze anos com os olhos arregalados de medo.

- Filha não se preocupe, isso acontece com todas as garotas da sua idade. Mas vou ligar para sua tia e você pode tirar todas as suas dúvidas com ela, está bem?

Mesmo a pai tentando passar a maior confiança possível para a garota, ela não se conteve e disse:

- A mamãe não pode me ajudar?

- Não Ana, a mamãe não pode nos ajudar. Não conte com isso. – Assim, direto e reto.

Só isso, semanas e tudo que ela sabia até então era que provavelmente tinha tido sua primeira menstruação e a mãe não estaria mais por perto para ajudá-la.

Lembram que eu disse no começo que conheci Ana em seu aniversário de doze anos? Pois bem, havia um motivo para isso. Eu fui enviado para começar a acompanhar ela em sua trajetória, um pouco antes dela viver um dos piores momentos de sua vida, o momento em que sua mãe resolveria deixá-la para trás.

Os dois, Ana e seu pai, pouco falaram sobre isso durante a vida. Vez ou outra, o pai resmungava coisas como: "você precisava de uma mãe nesse momento, eu não sei como fazer isso" enquanto tentava trançar o cabelo da garota.

O cupido de AnaWhere stories live. Discover now