O passado bate à porta

122 3 0
                                    

Este capítulo foi escrito ao som de Ela - Tim Bernardes.

Bateu a porta logo após o desconhecido que passara a noite sair do seu apartamento. Ele havia ficado uns quinze minutos sozinho em seu banheiro, provavelmente tentando se limpar com as toalhas de papel o vômito que Ana havia deixado em suas pernas.

Por incrível que pareça ela não estava com vergonha ou algo assim, sabia que não veria novamente aquele cara e se visse, fingiria que não conhecia. Era o tipo de história que contaria para seus netos um dia. Pensou.

Após encher a tigela de ração do gato que cuidava,  se sentou nas escadas do seu prédio, elas davam acesso à rua. O gato não era dela, era só um gato que vivia nas redondezas do seu bairro, vez ou outra ele se aproximava de Ana e permitia que ela o acariciasse. Em retribuição, Ana enchia a tigela azul todas as manhãs para que o bichano não morresse de fome.

Estava fumando seu cigarro, com um coque alto na cabeça. Um garoto levando seu cão passear passou por ela, nem a notou sentada ali, de pijamas, fumando. Às vezes ela achava que havia se tornado invisível para o mundo. Tinha varias teorias, essa era uma delas. De que as pessoas não podiam enxerga-la mais. É sério. Ela realmente pensava isso de vez em quando.

Pegou um folheto de supermercado e percebeu que o fim do ano se aproximava

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Pegou um folheto de supermercado e percebeu que o fim do ano se aproximava. Não estava pronta para enfrentar mais uma virada de ano. Enquanto o cigarro chegava ao fim, Ana pensou em ligar para o seu pai, não falava com ele há alguns meses. Deu a ultima tragada jurando mais uma vez ser seu ultimo cigarro – mesmo sabendo que era mentira – e voltou para seu apartamento.

Limpou os lençóis vomitados, se arrumou para o trabalho. Pegou sua bolsa. Colocou o maço vermelho dentro dela, caso não conseguisse cumprir a promessa de parar.

As palavras não saiam da cabeça de Ana. "eu quero ser a pessoa mais feliz do mundo"

- Quem deseja esse tipo de coisa? É impossível! – Indagou Ana em voz alta enquanto apressava os passos para não perder o metrô.

Estava irritada consigo mesmo, por não cumprir suas próprias promessas. Por perceber que não havia feito praticamente nada da sua lista de resoluções de ano novo.

Naquele dia almoçou com a Julia, uma colega de departamento. Não tinha muita afinidade com ela, mas como estava irritada e se sentindo cheia de si mesma, começou a falar sobre suas questões internas para a moça.

- O meu problema Julia, é que eu mudo muito de ideia. É sério, antes meu sonho era conhecer a Nova Zelândia, depois se tornou voar de balão sozinha. Até uns meses atrás eu queria fazer fotografia e sair por ai fotografando pessoas sem que elas percebessem. Já quis ser escritora, arquiteta, trabalhar na marinha. Percebe? Os sonhos não se conectam. Eu não sigo uma linha fixa, eu vou mudando e por isso nunca chego a lugar algum. – completou.

- Você é uma sonhadora, Ana. Eu acho ótimo você ser assim, não fica estagnada numa coisa só. Está sempre mudando. Todos nós estamos sempre mudando, você não é a única, amiga. – Julia não sabia muito o que dizer, conversara poucas vezes com Ana e pouco sabia sobre sua vida até então.

O cupido de AnaWhere stories live. Discover now