Capítulo 3

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         - Você está bem? - segurou-me pelos braços - Alice? é Alice seu nome não é?

Fiz que sim com a cabeça.
Os três brutamontes jaziam no chão imóveis e eu tremia feito vara verde.
David passou o braço em minha volta e me ajudou a sair do beco.

- Vem, eu vou te levar em casa.

Fizemos todo o percurso em silencio. Eu sentia meu corpo tremer, mas não conseguia parar. Não chore, como achava que ia fazer, eu só tremia descontroladamente. Acho que estava em estado de choque.
Como tudo aconteceu perto da minha casa, não tardou pra nós pararmos em frente a uma das idênticas casa daquela rua. As janelas estava fechadas e tudo estava apagado, uma única luz solitária saia da sala, o que era de se esperar, hoje é  dia do cinema. Como disse minha mãe gosta dessas coisas em família então criou esse ritual, toda semana tirávamos um dia para assistir filmes no sofá de casa. Meu pai não gostava de cinema, ele dizia que em casa nós podemos pausar o filme pra ir ao banheiro, o que não podemos fazer no cinema.

- Quer que eu entre com você pra explicar o que aconteceu?
- Não vai ser preciso - tinha impressão que até a minha voz  tremia - não vou contar a eles.
- Como é que é ? - ele se segurou pra não gritar - você só pode estar ficando louca...
- Não, David eu agradeço eternamente por você ter aparecido, eu não sei o que faria se... - eu engasguei. Agora eu estava prestes a chorar - mas essa é uma escola minha. Não vou contar nada a ninguém e espero que você não conte também.

Ele hesitou. Olhou para os lados como se se perguntasse se eu realmente estava pedindo aquilo a ele, mas em fim se rendeu ao meu pedido confirmando com a cabeça.
Ouvi uma risada vindo de dentro da casa. Parece que o filme de hoje é uma comedia.
Passei as mãos no cabelo e nas roupas, respirei fundo me preparando pra entrar em casa. Me virei e subi um dos degraus que leva até a porta.

- Tenha uma boa noite, Alice.

Girei nos calcanhares e abracei David. E não foi porque eu achava ele incrivelmente lindo e porque a sensação que o abraço dele me dar é muito boa, não foi por isso que eu o abracei, foi porque eu era grata e porque agradecer.
Meu abraço o pegou totalmente de surpresa, ele demorou um pouco pra me abraçar de volta, mas quando o fez me apertou em seus braços e eu me senti completamente protegida.

- Obrigada - sussurrei.
- Não precisa agradecer - acho que ele sorriu quando disse isso - eu tenho que ir agora.

Nos afastamos e ele se virou para ir.

- Boa noite. David.

Ele sorriu, um belo sorriso devo admitir, e se foi.
Entrei em casa e me acomodei entre meus pais no sofá. Rimos e comemos pipoca. Só quando fui dormir que eu cai em um ataque de choro que durou o resto da noite.

 Manhã seguinte... na escola.

Já era a terceira aula daquele dia, graças a Deus. Eu passei a manhã toda olhando pros lados, sentia que aqueles garotos iam aparecer a qualquer momento e... não gosto nem de pensar nisso. Não sai do lado das meninas e agradeci mais uma vez por elas falarem tanto de si mesmas e não me perguntarem nada. Eu não estava pra conversas naquele dia.
 No intervalo fomos todas pro refeitório encontrar Carlos, o namorado de Gabriele e os garotos que iriam levar as meninas pro baile.
Gabriele fez o favor de me apresentar a todos. Eu tomei um suco de acerola enquanto eles conversavam sobre o baile e os pontos que Carlos marcou no jogo.
Estava olhando para os lados a procura dos três que me atacaram na noite passada (nem sinal deles) e de David, que eu só tinha visto na aula de francês (nem sinal dele também), quando uma garota morena dos cabelos cacheados subiu em uma das cadeiras do refeitório e gritou bem alto enquanto mostrava a todos o cartaz do baile, que tinha como tema naquele ano "JARDIM ENCANTADO".
Ela disse:

- Os casais que quiserem concorrer para rei e rainha do baile deste ano, venham aqui comigo.

Como era de se esperar mais da metade dos alunos se amontoaram ao redor dela, inclusive Gabriele, Marine e Mirela. A garota pedia calma enquanto distribuía formulários para todos.
Antes que Carlos ou qualquer um outro puxasse assunto, eu me levantei e sai do refeitório, resolvi passar o intervalo onde fiquei no dia passado. Me sentei no mesmo banco de ontem.
Olhei para os lados pra ter certeza de que nem um daqueles três estava por perto. Eles não estavam lá, o pátio da escola estava perfeitamente normal, quase do mesmo jeito que estava ontem, todos em seus lugares inclusive David Becker me encarava de baixo de uma arvore.
Me levantei e fui até ele quase que involuntáriamente. Me arrependi de ter feito isso quando cheguei lá e percebi que não tinha o que falar.

- Oi - foi a única coisa que eu achei pra dizer.
- Oi - silencio...depois - você precisa de alguma coisa?
- Ah... não, quer dizer - eu estava me enrolando toda, chega até a ser vergonhoso - é só que você estava sozinho aqui então...bem eu pensei em vir te fazer companhia.
- Não preciso de companhia.

Essa doeu.
David estava sendo duro e frio comigo, mal olhava em meus olhos, mal parecia lembrar de mim, mal parecia o mesmo de ontem a noite.

- Desculpe - eu me sentia uma idiota de ter ido falar com ele - é melhor eu...

Já estava me virando pra voltar pro meu banco e me xingar por ter feito aquilo, mas ele segurou meu braço me fazendo parar onde estava.

- Perdão - agora  ele estava me olhando. - eu não queria ter te tratado desse jeito, é que... eu estou com uns problemas em casa.
- Não tem problema, mas eu já vou.
- Eu já pedi desculpas.
- E eu já desculpei, mas não quero te incomodar nem nada então...
- Por favor, Alice, fica.

Então eu fiquei.
Nós conversamos por algum tempo sentados no chão e encostados na arvore. Eu contei tudo sobre mim e minha família enquanto David só me contou que é filho único e que não mora na cidade, mas que prefere essa escola porque é mais escondida do que a da cidade dele. Resumindo ele sabe tudo sobre mim enquanto eu só sei que ele não tem irmãos e que não gosta de multidões. Não forcei a barra com ele em relação a família, talvez ele não quisesse dizer por conta dos problemas que ele está tendo, mas tinha outra coisa que eu não abria mão de saber.

- Então você luta box ou algo do tipo?
- Porque está perguntando isso?
- Você derrubou três gigantes ontem, não espere que eu não queira saber como você fez isso.
- Meu pai me ensinou a lutar - ele brincava com uma folha seca caída no chão - mas o fato de aqueles três serem completos idiotas e estarem completamente bêbados e drogados ajudou bastante.
- Você podia me ensinar.

Ele mudou de posição, agora estava de frente pra mim.

- Porque quer aprender a lutar?
- Pra me defender. Nem sempre vou ter a sorte de ter David Becker por perto.

Ele riu, eu tenho que dizer mais uma vez que o sorriso dele é lindo.

- Se você quiser - chegou mais perto e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha - eu posso estar sempre por perto. 

Por um segundo me perdi em seus olhos azuis cheios de mistério e pedidos. Depois meus olhos baixaram pra sua boca que fazia um par perfeito com o seu queixo bonito.

- Eu adoraria ter você sempre por perto.

Ele sorriu e me beijou.
Eu não tive muitas experiências em beijar por isso não posso dizer que foi o melhor beijo do mundo, mas posso dizer que foi bom o suficiente pra mim. Sua boca tinha gosto de bala de menta e era quente e macia. Pode parecer meio clichê, mas era como se nossos lábios se encachassem perfeitamente um no outro. Ele me puxou um pouco mais pra perto... ai o sinal tocou e nós nus afastamos assustados.

- Eu já disse que odeio esse sinal?

Eu ri.

- É melhor a gente ir agora.

Ele jogou a cabeça pra trás. Depois nos levantamos e entramos na escola.

Sequestrada pelo meu NamoradoWhere stories live. Discover now