Juntos

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Luke

Dawn pula para atender o telefone e prende a respiração.

— Oi — ela sorri, como se a outra pessoa pudesse ver. — Diga a ele para vir aqui. Obrigada.

Ela torna a colocar o telefone no gancho e olha para mim, os olhos azuis arregalados.

Queria poder dizer a Dawn o quão fofo acho todas as reações exageradas dela, mas acho que não devo de qualquer maneira. E, mesmo se eu realmente fosse, não há tempo: meu pai bate na porta e abre-a antes de aguardar por qualquer resposta.

— Ah, olá, crianças — ele sorri para Dawn e eu.

— Oi, pai — respondo.

Afasto-me sutilmente de Dawn, e viro-me para a janela. Encaro os prédios ao nosso redor.

— Ao que devo a honra da sua presença, Dawn? — meu pai pergunta e, mesmo que esteja brincando, sei que também é um alerta.

Talvez eu devesse parar de ocupar tanto o tempo de Dawn com besteiras e deixa-la trabalhar.

— Achei que precisávamos conversar. Sobre meu livro e todas as outras coisas em torno disso.

— Ah, claro — ele assente e ocupa uma das cadeiras do outro lado da mesa dela. Dawn também se senta, na sua própria cadeira, e eu continuo fingindo que não estou presente. — Continuamos em produção. Tomei uma decisão ou outra por você, mas nada que interfira no resultado final que você espera.

— Certo...

— Acho que podemos marcar nossa última reunião antes do lançamento para semana que vem. O que você acha?

— Ótimo — ela concorda.

— E por favor, precisamos mesmo finalizar todas aquelas revisões e edições pendentes. Sabe que eu não sou de dar prazos, mas se demorarmos mais um pouco começaremos a trabalhar com eles.

— Sem prazos — Dawn diz. — Posso terminar pelo menos um em dois dias.

— Talvez três — sussurro.

— Acho que sabemos o que tem atrasado você — meu pai diz.

Acho que não disse tão baixo quanto pensei. Viro-me para eles e encaro os olhos do meu pai.

— Roubei Dawn uma ou duas vezes do trabalho.

— Bom, acho que isso dá a ela o direito de tirar você das suas turnês — ele sorri.

Dawn encolhe os ombros e desvia os olhos para baixo, como se tivesse uma memória ruim em torno do assunto e eu sei bem no que ela está pensando, porque eu também tenho pensado nisso.

De que vale tentar conquista-la a todo custo se eu vou partir de qualquer maneira? Vamos passar tempo demais sem nos ver e então uma coisa ou outra pode dar errado e não sei se consigo passar a vida lutando por Dawn ao meu lado.

E mesmo assim... não há como deixar pra lá.

— Então... — meu pai suspira. — Uma vez que estão os dois aqui, Liz queria saber. Na verdade, acho que Liz andou falando com sua mãe, Dawn, e no fim das contas todos querem saber...

Fecho os olhos e aguardo a pergunta que sei que ele fará, mas não devia.

— Vocês estão juntos ou algo assim?

Abro os olhos para observar a reação de Dawn, mas não há nada de muito diferente. Ela encolhe os ombros.

— Não, pai, não estamos juntos — digo, porque, de maneira ou outra, é a verdade.

Eu queria poder dizer que sim, estamos juntos, mas eu sei que é mais complicado que isso.

— Embora eu os chame assim, vocês não são mais crianças. Espero que estejam certos do que estão fazendo um com o outro, seja lá o que for. Ninguém está disposto a lidar com uma nova briga de vocês e as consequências que todos sabemos que trouxe.

— Pai... — quero que ele pare. Dawn e eu não queremos ouvir isso.

— Luke, é a verdade. A mãe de Dawn não a quer andando com você, e olha que Dawn é uma adulta. Tomem cuidado com o que fazem e cuidem um do outro.

— Obrigada, Andrew — é Dawn quem diz. — Não haverá briga alguma dessa vez, porque não somos mais adolescentes. Luke e eu sabemos o que estamos fazendo.

— Fico feliz por isso — ele se levanta. — Três dias — avisa antes de deixar a sala.

Depois que ele sai, abro meu maior sorriso travesso.

— Se você tem três dias, acho que podemos passar a tarde livre, certo?

— Ou você fica em silêncio ou cai fora — ela avisa, e então começa a trabalhar.

. . .

Encaro Dawn, seu café e seu cacho de cabelo que ela tira do rosto a cada cinco minutos e suspiro.

Pareceu ser uma ótima ideia ficar aqui com ela e vê-la trabalhar, mas já se passaram mais de três horas e não me parece uma ideia tão boa assim agora.

— Você acha...— tento, mas ela levanta os olhos para mim e franze o cenho.

— Shhhh — ela sibila, depois volta a encarar a tela do computador.

— Já chega — peço. — Podemos ir para casa? Precisamos nos arrumar e ficar prontos, ou esqueceu que combinamos de sair?

— Sairemos à noite — ela diz.

— Como se estivesse tão longe da noite... — levanto-me do meu lugar.

Dawn suspira como fiz alguns minutos atrás e, depois de digitar coisa ou outra, desliga o computador de maneira descontente.

— Por que agora você fala no plural?

— O quê? — franzo o cenho.

Ela levanta da cadeira e começa a recolher suas coisas. Fica em silêncio por tempo o suficiente para que eu acredite que ela não vai responder, portanto começo a observar os detalhes novamente. O céu está meio alaranjado agora, os raios escapando por entre os prédios. O cabelo da Dawn parece dourado com essa iluminação e, parando pra pensar, não somos tão parecidos quanto todos dizem.

— "Podemos ir para casa? Precisamos nos arrumar e ficar prontos..." — reconheço as palavras antes ditas por mim.

É, como se Dawn e eu fôssemos para nossa casa, nos arrumar juntos e ir ao compromisso que marcamos como se fôssemos uma só unidade. Quase como quando éramos mais novos e quase a mesma pessoa.

Ela espera por uma resposta e eu rolo os olhos para ela, porque são detalhes demais e não precisamos mesmo discutir isso.

— Se você fosse capaz de ver a bagunça que eles fazem quando todos temos que nos arrumar, acho que me convidaria para sua casa.

— Você pode sonhar com isso, Hemmings.

Dawn || Luke HemmingsWhere stories live. Discover now