Louis se sentiu constrangido mais uma vez. Dessa vez de maneira diferente. Aquele garoto era mesmo insistente. As bochechas de Louis pareceram ficar quentes e ele se pegou pensando se não deveria se dar um soco.

Bom, melhor acabar com aquela insistência de vez.

- Porque você não entra? – ele convidou colocando-se de lado para que Harry pudesse passar.

O mais novo ficou muito espantado com a atitude. Ele nem imaginava que Louis iria falar direito com ele e agora estava sendo convidado a entrar? Sério?

- Ham... Claro! Er... Obrigado. – ele entrou e observou a casa simples e bem arrumada.

Não havia muitos móveis ali, mas parecia ser uma casa bem aconchegante naqueles tons calmos de azul dos batentes, branco das paredes e a cor pálida da madeira dos móveis.

- Chá? – Louis perguntou sem emoção definida na voz. Estava tentando ser minimamente educado antes de dizer o que queria.  

- Ah, não, obrigado. – Harry respondeu sem graça.

Louis fez um aceno com a cabeça e suspirou.

- Olha eu te diria para sentar, mas quero deixar tudo em pratos limpos de vez. – Harry ia dizer algo, mas Louis não lhe deu chance. – Pare de tentar. Se você quer saber, Lottie é mais a fim de cantar do que eu, por isso as aulas. Meu interesse em cantar é nulo, inexistente, zero.

“Mentiroso” uma voz em sua cabeça protestou indignada. Não é que ele não queria. Era que ele não podia, não conseguia. “Mentiroso e patético” a voz voltou a soar em sua mente o que quase o fez fechar os olhos com força para se acalmar, mas precisou manter a postura decidida na frente do outro.

Harry começou a estalar os dedos, nervoso. Ele não sabia como agir para se aproximar de Louis. Tinha sido tão egoísta pensando em como se aproveitar daquela voz que não reparou nos sinais dizendo para ele parar. Sentia-se envergonhado e queria compensá-lo de alguma maneira. E estava sendo sincero: Louis parecia ser uma boa pessoa.

- Eu entendo. – ele disse finalmente, jogando a franja cacheada e farta para o lado com um movimento de cabeça. – Mas, mesmo que seja pela última vez, eu realmente acho sua voz incrível.

- Esqueça isso. – Louis desviou o olhar entre sem graça e irritado.

- Está falando para eu esquecer o melhor tom de agudo que eu já ouvi? Sabe quanto uma voz aguda pode beirar ao irritante se não for balanceada? – Louis tentou falar algo, mas Harry continuou. – E a sua voz, cara, é balanceada naturalmente, é incrível! Você já se ouviu cantar? Porque, nossa, eu já e nunca vou esquecer.

Louis sentiu as bochechas corarem novamente. Aquele garoto era incrivelmente irritante! Ele não queria ouvir o que o mais novo tinha a dizer, não queria ouvir sobre sua voz. Ele sabia que era minimamente afinado e sabia que ao menos para acalmar as irmãs a voz dele servia, mas o que aquele garoto queria? Era como se estivesse lhe pedindo para estrear na Broadway.

Ele sentiu arrepios só de pensar no tamanho do palco e da multidão da Broadway...

- ...e eu posso te ajudar.

- Que? – Louis havia se perdido em pensamentos enquanto Harry continuava falando.

- Eu posso te ajudar. Com a sua... Timidez. Com a sua voz. Você não pode...

- Eu disse pra você esquecer isso.

- Mas...

- Só esqueça ok? – Louis estava ficando realmente irritado. – Eu não quero cantar, eu não quero fazer parte das suas aulas, eu não quero cantar no restaurante, eu não quero ouvir falar da minha voz...

- Mas, Louis...

- Eu. Não. Quero. – Louis falou pausadamente e firme, dando um passo na direção de Harry a cada palavra. O garoto só o encarou com olhos espantados.

O silêncio caiu entre os dois enquanto só se encaravam. Harry procurava naquelas íris azuis sinal de alguma emoção escondida. Ele queria ser amigo de Louis, queria ouvir Louis cantar. Tudo que ele precisava era que o outro lhe desse uma chance.

- Agora acho melhor você ir. – Louis desviou os olhos dos dele e olhou rapidamente para a porta da frente antes de passar por Harry e ir em direção a varanda.

Harry encarou o chão por um segundo derrotado. Dirigiu-se para a porta e a abriu devagar. Ele encarou o dia ensolarado lá fora e mudou o semblante preocupado para um decidido. Ele não ia desistir. Não importava o que Louis dissesse ou se demorasse: eles iam ser amigos. Não era possível que só porque ele começou errado, os dois não pudessem se dar bem. Louis estava bravo por causa da história do canto, então ok, talvez eu não falasse mais daquilo tão cedo, mas será que o mais velho não podia ao menos tentar antes de dizer “cara, você é um saco”? A culpa era toda sua, Harry sabia, mas Louis não dava nem uma chancezinha sequer? Não. Ele ia insistir.

Harry se voltou para Louis, tomando novo fôlego. Ia começar a argumentar quando percebeu a estranha expressão de Louis que estava parado na porta da varanda petrificado. Franziu o cenho e fechou a porta da entrada, indo em direção a ele.

Deu uma espiada do lado de fora por cima do ombro de Louis, mas guardando certa distância. Não entendia o que ele estava olhando.

- Daisy? Phoebe? – Ele chamou os nomes olhando ao redor lá fora. Saiu e deu uma nova olhada, enquanto atrás dele Harry se colocava na porta da varanda, observando pedaços de massinha de modelar no chão. – Meninas?

Louis saiu da varanda e olhou na direção dos arbustos de um lado e do outro. Começou a sentir o coração acelerar, não da “fobia”, mas de preocupação. Onde elas estavam? Ele falou para que não saíssem de lá.

- Vou ver se elas estão dentro de casa. – Harry disse antes de retornar para dentro. Só então Louis percebeu que ele não havia ido embora.

Agora aquilo não importava. Onde duas meninas de cinco anos poderiam ter ido? Ele tinha se ausentado por quanto tempo? Dez, quinze minutos no máximo?

Aproximou-se mais dos arbustos, remexendo folhas para um lado e para o outro. Talvez estivessem escondidas.

- Não tem ninguém aqui dentro. – Harry voltou e saiu para a varanda o encarando.

Louis suspirou nervoso olhando ao seu redor. Será que haviam saído do quintal? Elas não deveriam ir a lugar nenhum! Como ele desejava que ali tivessem muros!

- Isso não tem graça, meninas! – ele gritou irritado.

Harry se juntou a ele olhando para os lados e esperando também que as duas saíssem de algum canto com sorrisos sem graça por uma brincadeira mal sucedida. Seu intento de insistir para se aproximar de Louis ficando de lado. Era visível a preocupação dele.

- Merda! Ok. – ele respirou fundo. - Eu vou procurá-las na direção do restaurante. Você procura na direção do viveiro de pássaros. – ele apontou para Harry, uma expressão decidida nos olhos. – Eu participo de Grease como Dany Zuko no teatro da cidade se você encontrar minhas irmãs, as gêmeas.

Harry arregalou os olhos e não pode responder aquilo, pois Louis já virara as costas e saíra apressado dali. 

The CureWhere stories live. Discover now