"Foi a última vez que você falou com aquela garota. Nunca mais falaremos com ela, nunca mais iremos àquela cafeteria."

"A garota tem nome, e é Bianca. Ela é diferente, não vai nos rejeitar como os normais. Talvez ela veja o mundo como nós vemos."

"Ela é uma normal."

"Você não sabe se ela é uma normal"

"Mas eu não quero arriscar e descobrir o contrário. E se ela souber sobre nós? Ela vai nos colocar naquela salinha com o homens de branco e drogas pesadas que não vão me deixar falar com você. É isso que você quer? Viver naquele lugar pra sempre?"

"Me deixe ao menos vê-la mais uma vez."

"Se é o que tanto quer, há uma maneira de fazê-la ficar com a gente. Mas terá que ser à minha maneira."

_____//_____

E foi dessa forma que procedemos. Descobri todos os seus gostos e desgostos e a trouxe para ele. Mas, mesmo concordando que seria da minha maneira, chorou a noite toda no dia que a raptamos. Não suportaria vê-lo assim, então deixei ele assumir pelos 6 dias que ela ficou conosco.

Foram 6 dias. 6 dias em que ele queimava os dedos para cozinhar os pratos favoritos dela. 6 dias com discursos e declarações melosas pra ela. 6 dias discutindo comigo.

"Tudo sempre foi à sua maneira desde que saímos da sala branca, e quando eu quero escolher algo, você faz isso. Como pude confiar em você?"

Eu não respondi a nenhuma reclamação, mas no sexto dia, não consegui me manter calado. Tivemos uma discussão.

"Não podemos deixar ela aqui"

"Então liberte-a. Mas fique sabendo que quem irá nos prender dessa vez não serão homens de branco."

"Você me deixou em uma rua sem saída. Por que fez isso?"

"Tudo o que eu fiz foi pra te proteger. Ela é uma ameaça pra nós."

"ELA É UMA AMEAÇA PRA VOCÊ. SABIA QUE SE FICÁSSEMOS JUNTOS, ELA ME APOIARIA. VOCÊ SABE COMO ELA PENSA DIFERENTE. TALVEZ EU ME TORNASSE UM NORMAL"

"ENTÃO É ISSO QUE VOCÊ QUER? SER COMO ELES? VOCÊ NÃO JÁ SOFREU O BASTANTE?"

"Eu prefiro sofrer com eles do que sofrer com você."

"Você é um ingrato, imaturo, uma criança, mas eu não desisti de você. Vou te contar uma coisa: Não existe realidade onde você possa ficar com ela. Se soltá-la, é o fim. Só existe um jeito"

_____//_____

Naquele dia, ele me deixou assumir e não falou mais nada. Nós decidimos o que iríamos fazer. Não disse discurso algum, eu não conseguia fazer outra coisa sem ser chorar quando a via. Quando entreguei seu jantar, a abracei e chorei mais ainda. Ela, confusa, permaneceu estática.

No sétimo dia, quando chegou a hora, ele apareceu.

"A arma está na segunda gaveta da cabeceira. Eu a deixei carregada pra você."

"Porque não assume e termina com isso? Você sabe que eu não vou conseguir."

"Ela é sua responsabilidade. Seja homem e faça isso por nós. Não se preocupe, eu vou estar aqui pra você."

"Você sempre vai estar."

"Isso mesmo. Agora pega essa droga de arma e pare de chorar. São só 42 passos para chegar até ela,não é tão difícil."

Com os olhos inchados, eu fui.

-Eu queria ter ficado mais tempo com você. Não dessa forma, com total liberdade. Mas que realidade permitiria?- Assim que o disse, comecei a caminhar até ela. Ele não me deixou trocar não importa quantas vezes eu implorasse, mas contou cada passo.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10

"Porque está fazendo isso?"

"Achei que gostasse de contar"

11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20

"Cale a boca de uma vez, por favor"

21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30

"Ela aceitou melhor que você, até fechou os olhos"

"Cale. A. Boca."

31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40

"Estamos chegando, aponte o gatilho"

41, 42.

"BANG! Você ouviu como o som ecoou? A gente tem que colocar mais móveis nesse quarto."

"VOCÊ QUER PARAR? MATAMOS UMA PESSOA."

"Eu não, você matou, eu fiquei contando. Vê se para de chorar"

"Foi a gota d'água."

Ergui o gatilho para minha própria cabeça. Ele entendeu o recado e gritou milhões de coisas na minha cabeça, mas eu não sei ouvidos. Tentou assumir, mas eu nunca mais cederia. Aqueles foram os últimos passos que ele contaria. Essa foi a primeira vez que escolhi fazer algo à minha maneira. Eu espero encontrar uma realidade melhor agora.

_____//_____

AN: Oioi gente! Essa é a continuação do capítulo "29 segundos", o ponto de vista do assassino. Mais uma vez, um capítulo diferente e grande, mas eu não resisti. Como disse, os capítulos do livro mesmo que independentes estão interligados, acredito que agora tenham entendido melhor.
Vejo vocês no próximo capítulo! ;)

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⏰ Last updated: Dec 31, 2017 ⏰

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Devaneios e Narrativas Com Muita CafeínaWhere stories live. Discover now