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Por Aires.

- Senhor Caperini? Levanto os olhos, soltando a caneta, em que assinava os documentos, olhando em direção a porta.

- Sim? Noto Sr. Murter, com sua preciosa pasta de couro brilhante.

- Trouxe o dossiê - ele mostra um tanto... ansioso, tal ato me faz erguer as sobrancelhas em tom de curiosidade.

- E o que você está esperando? Faço sinal para que o mesmo sente-se.

- Certo - ele senta, abrindo sua pasta, retirando um gordo dossiê...Muito interessante. - Mariel Berenice Avelar - Ele levanta os olhos para mim, faço sinal para que continue - Dezessete anos, pelos arquivos dela, ela foi deixada no orfanato com aproximadamente, três a cinco dias de vida, quem cuidou dela com muito afinco foi a enfermeira. Mariel é uma garota enérgica, acredito que o senhor saiba. - ele me olha e afirmo com a cabeça - Acredito que para maiores informações, sobre ela e a vida dela, deveríamos nos aproximar da enfermeira, mas um fato de que devemos deixar claro é que ela não é negociável, entende o que quero dizer? Nada de dinheiro. Essa é minha opinião, ah! Ia me esquecendo, não consegui descobrir com exatidão, mas há indícios de que Mariel tenha alguma doença, fisiológica acredito. Ela parece...louca? Ele dirige os olhos a mim, inquisitivo.

- Uma doença? Até o dia de hoje, tal doença não se apresentou, pelo o que me lembre e ela não parece nada...louca. - Digo pensativo. Uma doença? Mas qual?

- Compreendo. Bom Sr. Caperini, as investigações continuam, aconselho averiguar sobre a doença para podermos seguir com o plano. De acordo? Ele se levanta e ergue a mão em um cumprimento.

- De acordo. - Devolvo o gesto e ele segue até a porta, observo atento.

Abro a gaveta, puxo a carta dele, como ele pôde? E impor-me a tal ato. Me treinou tanto, me educou tanto, para no fim, eu não ser lhe útil.
Ela, uma possível adoentada é útil a ele. E eu um idiota que ainda sigo suas ordens, mesmo já estando morto. Cumprindo seus planos, os mudando talvez...É! Eu poderia mudar os planos, ele se encontra morto, não viria puxar meus pés a noite.

Ah querida Mariel, vamos mudar os planos, colocar um pouco de justiça aqui. Será que você sabe sobre justiça?

Volto a assinar meus documentos, com uma pitada de excitação e animação por possíveis mudanças no plano inicial. Eu vou fazer dar certo, eu também quero minha posição.

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O céu escuro e nuvens grotescas indicam que devo ir para casa. Ajeito a papelada da melhor forma possível, me levantando e vestindo o terno. Olho ao redor, pensativo, olho para as paredes em tons claros, as persianas sobre uma janela alta com grandes vidros retangulares, contornadas por um preto grafite, olho para o teto moldurado por gesso e o assoalho de madeira. Vou mesmo fazer isso? Como ele quis? Ou fazer o que ele quis do meu jeito?

Sigo o caminho de volta, observando a chuva cair, tiro o relógio de bolso e noto que o mesmo marca onze e cinquenta. Tarde, muito tarde. A chuva começa a cair, em pingos densos e gordos, ruidosos e rápidos formando uma garoa. Por reflexo olho para cima, conferindo se o teto estava bem posicionado.

Avistei a mansão de pedras claras, aguardando os portões serem abertos, noto um dos guardas pronto com um guarda chuva, ao lado da minha vaga. Saio do carro, agradecendo ao guarda chuva, seguindo para o caminho de pedras da mansão.

A mesma está escura e silenciosa, aparentemente todos dormem, uma tristeza toma meu peito, angustia-me e de um minuto a outro, me encontro de frente a adega, tomando whiskys, olhando para o nada e mais de meia garrafa se vai. Subo ao quarto, entrando e agarrando - de forma um tanto obsessiva - um porta-retrato.

- Você era tão linda Berenice - passo o indicador no quatro com cuidado. - por que abandonastes - me? Seríamos felizes.

Deito na cama, enganchando em um sono pesado, tempestuoso como a chuva que caira lá fora. Ela estava no sonho, Riamos, felizes, ela me abraçava, sorrindo dizendo que me amava, dizendo o quanto era especial nós juntos. Me beijava, tocava minha pele. Ainda sinto seu toque macio sobre minha pele, seus beijos lentos.

- Ah! Minha doce e amada Berenice... Sussurro

MarielWhere stories live. Discover now