Capítulo 2

6.1K 238 25
                                    

A estação estava lotada. George, com Harry no colo, Anabel e Blair corriam com as malas, tentando alcançar a bilheteria. Uma fila enorme se estendia por todo o lugar. Era a estação Victoria, normalmente a mais tranquila de Londres, porém, era uma das duas únicas funcionando no momento.

Um cheiro de ferrugem se espalhava pelo local, apitos soavam ruidosamente, a fumaça das locomotivas davam um ar sombrio, enquanto os pais corriam desesperados com os filhos para arranjarem bilhetes de trem.

Blair avistou a longa fila, e começou a entrar em desespero. Olhou em volta, mas não achava seus pais.

-Mãe?! - Ela gritou e começou a correr entre as pessoas. Todos eram iguais.

Os homens usavam palétos abertos, e o suor cobria suas testas, enquanto as mulheres usavam longos vestidos de seda arrastando as crianças pequenas. A maioria chorava.

Blair entrou em completo desespero, enquanto corria entre as pessoas. Não havia espaço para respirar, ela ofegava e chorava enquanto tentava avistar George ou Amelia. Um apito de trem apitou e uma voz grossa ecoou nos cantos da estação.

-Cotswolds e Cleeve Hill, partindo daqui a 5 minutos!

Os adultos gritavam, tentando comprar bilhetes e furar as filas, enquanto as portas dos trens eram abertas às forças.

Todos estavam desesperados, tentando fugir das bombas e garantir a seus filhos um lugar mais pacífico e longe das confusões. Blair, por outro lado, estava sozinha, molhada em lágrimas e suor, e seu chapéu exalava o cheiro da fumaça cinza dos trens.

Um trem partiu. O que Blair faria? Não conseguiria chegar em casa, muito menos embarcar sozinha, sem dinheiro e sem passagem. Arrepios corriam seu corpo, e seu coração parou quando ouviu um grito:

-Blair! -Era sua mãe, correndo na sua direção -Ela segurou na mão da filha, aliviada. -Nunca mais faça isso! -Ela soava desesperada.

-Eu-eu me perdi, não sabia vocês estavam -Ela gaguejou, enquanto sua mãe a dava um abraço.

Um homem passou correndo com a esposa, quase derrubando Amelia no chão.

-Isso está uma bagunça. Venha, seu pai está comprando os bilhetes. -Blair a seguiu, passando pelas pessoas agoniadas nas filas.

As duas chegaram ao balcão, ofegantes.

-George Watson. Sou oficial do exército, David Owen me mandou aqui, a seu comando. - O homem do caixa estava aflito - Preciso de dois bilhetes de ida para Cotswolds, no próximo trem.

"Três minutos para Cotswolds e Cleeve Hill, repetindo, trê-"

Blair segurou na mão de Harry, e Amelia abraçou os três. Ela estava soluçando.

-Sinto muito, este é o último. - O caixa estendeu um bilhete amarelado.

George estava confuso.

-Como? Só um? Mas tenho duas crianças para viajar!

-Sinto muito, Senhor, o trem está lotado. Terá que enviar só uma.

A família se encarou. Estavam todos pasmos e atordoados.

-Envie Harry, pai. -Blair afirmou, apertando a mão do mais novo- Já tenho 16 anos, ele só tem nove.

A cara de George Watson fechou imediatamente, e suas sobrancelhas formaram um ângulo estranho. 

Ele agarrou o bilhete, entregou o dinheiro furiosamente, e seguiu com Harry e as duas mulheres para a linha de frente.

O trem grande e vermelho começou a apitar e a soltar fumaça. Era a hora.

Blair recomeçou a chorar. Essa poderia ser a última vez que veria seu irmão.

Seu pai abriu caminho pelas pessoas atordoadas, e seu quepe impunha respeito e medo aos que tentavam protestar. As malas de couro estavam pesadas, mas Amelia as segurava fortemente.

Sons de aviões tomaram o local. Haveria outra bomba.

As portas do trem começaram a se fechar, e para a surpresa de Blair, seu pai a colocou lá.

O vento batia em seus cabelos, e ela gritou:

-Mas e Harry??! 

O pai deixou escapar uma lágrima e entregou o filho para Blair.

-Somente diga que perdeu o bilhete, e que são filhos de George Watson.

Blair iria protestar, mas o apitou soou uma última vez, soldados entraram na Estação e as portas do trem se fecharam violentamente.

A PortaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora