Capítulo 1 - Feliz

28 4 5
                                    

"O-KI-TE. O-KI-TE. O-KI-TE. O-KI-TE."

Argh, lá vamos nós. Um novo dia está chamando, eu acho. Estamos numa sexta-feira, de manhã. E, como sempre, acordo com o barulho do meu relógio barulhento. Comprei ele numa lojinha perto de casa. É divertido; seu formato lembra um gatinho. Se eu fizesse uma lista com todas as minhas coisas favoritas, essa estaria em quinto lugar. Eu absolutamente adoro..... exceto às sextas-feiras de manhã. Tento resistir à tentação de me aconchegar embaixo das minhas cobertas só por mais alguns minutos. Mas odeio a sensação de acordar sem escovar os dentes. Então, lá vai eu. Embriagado de sono, porém persistente. E assim inicia o meu dia.

Meu nome é Akio Nekoyama. Apesar do nome, nasci no Brasil, fato que todos acham bem inusitado por aqui. Não sei ao certo, eu já estou bem acostumado com isso. 'Aqui' seria Osaka. Pois é, sou praticamente o "japinha". Todos os meus amigos internacionais na internet dizem que morar no Japão é a melhor coisa que eu deveria me orgulhar. Mas sei lá, acho que não me sinto verdadeiramente em casa neste país. Às vezes acho que eu não queria estar aqui. Às vezes acho que eu não queria estar em lugar algum. Eu só... não sei.

O quê? Menos papo, mais ação, não é? É, desculpe-me. Não estou acostumado em ser o protagonista, sabe, isso é muita pressão para mim. A verdade seja dita, eu sou apenas um ser vivo simples e chato. A parte mais interessante sobre mim provavelmente é apenas que eu vivo no país que todos os meus amigos na internet sonham em conhecer. Esta manhã, como de costume, o cheiro de cogumelos é a primeira coisa que eu sinto ao sair da cama. Cogumelos fazem parte da dieta dos meus pais, então nossa casa... Ei! Não ria! Eu vivo com meus pais ainda, eu só tenho 13 anos. Sim, isso mesmo. Eu sou bem jovem. O problema é que, mesmo que eu tecnicamente more com os meus pais, eles praticamente nunca estão aqui. Normalmente eu tenho contato com eles à noite mas normalmente eu parece até que eu moro sozinho. Honestamente, eles parecem que me veem como um tipo de bicho de estimação que tudo o que precisa é de comida. Isso é uma merda, mas não se preocupe. Já estou acostumado. Vivo dessa forma já há alguns anos.

Começo a organizar os livros que devo levar à escola hoje enquanto como um cereal como meu café da manhã. É, às vezes sinto falta do Brasil. Quando eu estava lá, eu vivia com meu avô e minha avó. Eles nunca permitiam que eu me sentisse só dentro de casa. Aprendi a falar japonês com eles antes de vir para cá. Eles me ensinaram que minha família inteira é de japoneses que imigraram do Japão para o Brasil enquanto meus pais ainda eram crianças. Esse provavelmente é o motivo dos meus pais nunca terem se sentido em casa no Brasil. Então na primeira oportunidade que meus pais tiveram de ir para o Japão, eles agarraram e me levaram com eles.

Estudo no Academia Yoakenoyama, então normalmente tenho que acordar cedo para ir às aulas matutinas da escola. Ela é uma escola particular, uma decisão que foi muito importante para os meus pais. Eu não ligo, ela é mais próxima de casa do que a escola pública mais próxima. Apenas uma linha reta de cinco quarteirões entre a academia e a minha casa. O que é ótimo porque, embora não haja um perigo muito grande de neve, ultimamente está fazendo muito frio. Exceto o ponto onde passo ao lado de uma estação de trem próxima à escola, onde os estudantes que vivem mais afastados da escola populam as ruas, minha caminhada tende a ser bem solitária. Sempre a mesma rotina. Gosto de ouvir música no caminho da escola, normalmente são só músicas de Vocaloid. Ultimamente tenho ficado bem viciado nelas. Pensando nisso, acho que isso me faz um pouco mais feliz que meu relógio de gatinho, o que me faz acreditar que seria o item número quatro da minha lista de coisas favoritas. Eu sei bem que os cantores de Vocaloid não são reais, mas... As músicas deles são. Nunca senti antes a mesma emoção que tenho ao ouvir músicas de Vocaloid. Não é apenas o som delas, as músicas que ouço têm letras incríveis. Fazem-me sentir confortável. Costumo ouvir música bem alta, daí toda vez que me aproximo de um colega da escola, me sinto forçado a diminuir o volume e escuta-los.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Dec 16, 2017 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Essa é a história de um gato.Where stories live. Discover now