Você já ouviu sobre ele.

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2017.

Ele retornou, posso sentir sua aura. – Disse o homem bebericando mais um gole de seu uísque, enquanto sentia sua mão congelar.

Não é possível! – Discordou seu companheiro de copo, franzindo o cenho: Ele não tem mais nenhum motivo para nos atacar, ele já matou o assassino de seus pais.

Temo que não seja apenas por isso que ele esteja caçando. – Afirmou secando o copo: - Chame Rux e os outros, avise-os que o Leviatã está chegando.

A noite estava caindo e ele passeava sobre as ruas com seu sobretudo preto, quem não o conhecia poderia associá-lo a um mensageiro da morte, mas era irônico que ele realmente fosse. As criaturas das sombras tremiam ao sentir sua aparição, olhos o rondavam a cada beco e viela. Olhos assustados e aterrorizados. A cada porta de bares ouvia os sussurros velozes e os passos desesperados, o carniceiro das trevas retornou as noites de Londres.

Empurrando seu coturno contra as portas do Hell's Fire, ele adentrou o bar e de repente todos pararam o que estavam fazendo e o observava passear sobre o edifício. Uma legião de demônios estavam bebendo, fazendo orgias e se divertindo naquele salão, mas nada pareceu tão prazeroso quando William surgiu.

Ele averiguava toda a extensão do lugar e observou os demônios de guarda alta assim que ele adentrou o bar, caminhou lentamente para o balcão e olhou nos olhos do atendente que parecia petrificado:

- Um Blood Mary, por favor.

Sem hesitar o atendente correu para a adega, em busca dos ingredientes para mixar a bebida que ele pediu. A alguns metros de distância, o homem que outrora havia alertado aos outros demônios da chegada de William, aproximava-se e o cumprimentava:

- Seja bem vindo, Leviatã. O que trás a serpente da morte ao meu bar?

- Estou a procura de Uriel. – Disse rispidamente.

- Temo não poder ajudá-lo. Somos meros demônios e como sabe, não trabalhamos com anjos. – Ironizou soltando uma breve risada.

A dose de Blood Mary havia chegado e William a virou garganta abaixo de uma vez, sem nem ao menos observar o que tinha.

- É uma droga não poder matar humanos não é? – Disse enquanto colocava o copo sobre o balcão.

- Não estou acompanhando seu raciocínio, pode ser mais claro? – Disse o homem com uma feição confusa.

- Se fazer de desentendido não vai mudar o fato de que você mandou o garoto envenenar minha bebida. – O homem pressionou o maxilar e observava William, com um sorriso no rosto.

- Mas você já ingeriu, Senhor Harper. – Provocou o homem com um sorriso discreto nos lábios.

William esboçou um sorriso no canto dos lábios e suspirou profundamente:

- Onde está Uriel?

- Eu já disse que não sei, Senhor Harper. – Reforçou o olhando nos olhos.

- Está bem, eu não vou insistir. – Disse William descendo do banco e se preparando para partir. Seguido de seu segundo passo, ele rapidamente entrelaçou seu dedos sobre os cabelos negros do homem e empurrou sua cabeça contra o balcão, vendo-o sangrar, agarrou seu copo com a outra mão e o quebrou, enfiando os cacos no pescoço de seu adversário: Vai me dizer onde ele está, Azazel? – Assustado o homem o observava com seus olhos avermelhados e com a voz falhando e seu pescoço jorrando sangue, reforçou: - Eu não sei. – Ele dizia entre pausas, enquanto o restava alguma voz. Impaciente, William sacou sua espada e antes mesmo de poder ativá-la, o homem gritou: Não, por favor. Ele está na igreja de São Salomão. Procure pelo Padre, ele saberá onde Uriel está. – Vê? Não foi tão difícil. – O homem empunhou sua espada e a mesma começara a esquentar e em segundos estava emanando chamas em toda sua extensão. Com apenas um golpe, William degolou o demônio e virou para a onda de demônios prontos para atacá-lo e sussurrou: Eu ainda estou com sede.

Demônios atacavam por todos os lados, cada um mirando em seu pescoço para findar a existência de Will definitivamente. Veloz como uma serpente, William deslizava sua espada no meio de um dos demônios, ele era partido em dois e uma fumaça negra era corroída pelas chamas da espada. Próximo a ele havia outro demônio, pelo qual ele arrastou pelo cabelo e o arrancou a cabeça. A sua direita uma mulher se aproximava e ele a socava no rosto, fazendo aguçar os sentidos. Ao vê-la cair, enfiou a espada no meio de seu peito e a via se desfazer em cinzas. Atrás dele um homem tentava apunhalá-lo pelas costas, quando fora surpreendido pelo calor da espada de William atravessando sua boca. A cota de demônios naquele bar estava começando a diminuir, quando ele avistou Rux do outro lado do bar. Ao vê-la seu coração bateu mais forte e a raiva que o consumia começou a arder em seu peito, desta vez William estava muito mais rápido e era difícil acompanhar seus movimentos. Em questão de segundos uma manada de vinte demônios morriam consecutivamente com as gargantas separadas de seus corpos, peitos perfurados e membros partidos.

William estava inteiro e com o corpo coberto de sangue, seus olhos brilhavam em um cinza apagado e sua espada emanava chamas tão vermelhas quanto o sangue que o cobria, ele rangia os dentes conforme se aproximava de Rux e murmurava:

- Eu salvei você, eu a ajudei e você tira a única coisa que me tirava desse mundo.

- Eu só estava fazendo aquilo que me foi mandado, não leve para o lado pessoal, Will.

- Não me chame de Will. – Gritou o homem estando cada vez mais próximo da mulher.

- William, por favor, me escute. Era a vida delas ou a minha. – Disse a mulher apavorada.

- Você fez a escolha errada. – Ele guardou a espada em sua bainha e sentiu a serpente presa ao seu braço deslizar até suas mãos. A serpente que outrora era prateada e semelhante a um bracelete, tomara vida própria e antes mesmo que Rux pudesse reagir, a serpente prendia seu corpo e fincava suas garras ao seu pescoço.

A morena gritava de dor e seus olhos negros surgia como uma gota de sangue em meio a neve, seu corpo se debatia no abraço da serpente e de repente tudo estava escuro. Rux lentamente abriu os olhos e avistou alguém de seu passado. Ele estava se aproximando dela com um chicote e sorrindo:

- Não seja uma menina má, Ruxane. – sussurrava o homem que deslizava as pontas repleta de pregos pelas pernas da garota.

Rux se via adolescente novamente e parecia estar revivendo a época que era humana. Suas mãos tremiam como em seu passado e ela começara a entrar em desespero.

O homem sem hesitar começara a chicotear suas pernas, fazendo-a gritar de dor e sua pele romper em carne viva, permitindo avistar seus ossos. Ela estava revivendo sua morte novamente e isso era o que ela mais temia. Debilita e com as pernas completamente mutiladas, ela se arrastou até uma faca próxima para que pudesse dar um fim a sua dor e como já imaginara, o homem surgiu a sua frente com um alicate e a interrogou:

- Para onde pensa que vai menininha? Ainda não terminamos.

Um a um, o homem arrancou os dentes e as unhas de Rux, fazendo-a experimentar uma dor insuportável. Sem forças para poder aguentar tanta dor, ela ficou inconsciente e seu corpo foi jogado ao chão. Ao abrir os olhos, Rux avistou o rosto do homem colado ao seu. Ele estava sorrindo e sussurrando próximo de seus lábios: - Bom dia, menininha. Onde foi que nós paramos? Ah sim! – Exclamou o homem, arrastando-a pelo o cabelo até a lareira, ele inclinou seu rosto para poder ver com mais clareza a expressão de Rux e sussurrou: Hora de esquentar as coisas.

Ele pressionou o rosto da jovem contra o fogo, observando sua pele borbulhar e derreter, enquanto ela gritava de dor e desespero, até não conseguir mais gritar. Pouco a pouco ela se debatia e por fim, ela parou e finalmente findou sua existência. Abrindo os olhos novamente, ela avistou o homem que a matou e como se o tempo tivesse voltado ele sussurrou sorrindo:

- Não seja uma menina má, Ruxane.

William observou Rux tremer e gritar enquanto o veneno se espalhava sobre seu corpo e sussurrou, mesmo sabendo que ela não escutaria: - Falta pouco para eu finalmente te mandar de volta para o inferno. – Ele a arrastou pelos cabelos e sentia a serpente novamente se enroscar por seu braço.

Naquela noite fria e silenciosa de Londres, ele guardou o corpo de Rux em seu porta malas e dirigiu em seu Mustang Match, até a igreja de São Salomão. 

NO FACES.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt