Capítulo 13

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Ficamos nos encarando e, depois de um tempo, ele perguntou se eu queria um sorvete. Ele foi comprar o sorvete e enquanto isso eu fiquei na mesa para não perdermos o nosso lugar. Eu estava praticamente tremendo. Eu não sabia o que esperar dessa conversa. Como a gente ia ficar depois dessa conversa. Não sabia se ainda existia um a gente, ou se ia ter um depois do fim dessa conversa. 

Ele voltou me trazendo uma casquinha e comendo a dele. Sentou no cadeira na minha frente. Ficamos concentrados no sorvete por um tempo, sem falar nada. Acho que ninguém sabia direito o que falar, ou como começar uma conversa. Até que ele finalmente criou coragem e me perguntou:

- Sorvete de morango ainda é o seu preferido? 

- Não. - respondi - Não é mais o meu favorito porque eu experimentei um sorvete de pistache quando eu estava na Inglaterra que derrubou o de morango, mas eu ainda gosto muito do de morango. É um dos meus favoritos. E o de chocolate ainda é o seu preferido?

- Sim. - ele me olhou, provavelmente pela primeira vez desde que ele chegou com os sorvetes - É bem clichê, mas as vezes clichê é bom. 

Depois dessa pequena conversa, o silêncio reinou de novo. Voltamos a nos concentrar no sorvete como se alguma coisa aconteceria se a gente não estivesse olhando só para o sorvete. Eu estava tentando criar coragem para falar o que eu queria, mas eu não conseguia. Ficava lembrando de tudo que aconteceu depois que eu voltei e começava a me dar uma vontade de gritar com ele, falar que ele não podia ter feito nada daquilo, mas se eu gritasse não adiantaria nada. A gente precisava conversar. Finalmente ele arrumou coragem e começou a falar:

- Valen, eu nem sei por onde começar. Não sei se te pedir desculpa vai mudar alguma coisa. Não sei se depois desse conversa a gente vai chegar em algum lugar. Mas eu quero que saiba que eu estou realmente arrependido. Eu fui imaturo e não soube como lidar com a sua ausência. E, mais uma vez, não tive coragem de falar isso com você e acabei estragando tudo. Sei que não dá para voltar no tempo e mudar tudo o que eu fiz, mas dá para eu concertar as coisas no presente, e é isso que eu estou tentando fazer, de verdade. Eu vou entender se você não quiser nunca mais olhar na minha cara, nunca mais falar comigo, mas eu preciso de uma coisa sua. Do seu perdão. E eu sei que pode parecer difícil depois de tudo o que eu fiz para você depois que você voltou, mas eu realmente preciso dele.  

- Lucas, quando você me mandou aquela mensagem hoje, eu não vou mentir, me tocou. Eu fiquei criando histórias malucas por dois anos para tentar entender o motivo de você ter parado de falar comigo. Aí você me falou aquilo no dia da sorveteria na casa da Grazi e eu fiquei muito magoada mesmo. E também com tudo o que você fez depois que eu voltei. - nessa hora ele tentou me interromper, mas eu pedi para ele me escutar até o fim. - Pode ter certeza, todas as desculpas que você vai me dar eu já sei, já pensei e elas não vão me convencer. Além do mais, eu não estou aqui para entender o motivo das coisas que você fez, quero resolver como ficaremos daqui para frente. E, apesar de eu não querer saber o motivo para todas as coisas que você fez, essas coisas me afetaram e me machucaram de verdade. Mas mesmo assim, eu quero te dizer que eu te perdoo. Não tem motivo para eu ficar guardando rancor de você, isso não iria me fazer bem. Mas eu não sei se quero voltar ser sua amiga ou alguma coisa do tipo. Não agora, pelo menos. Eu te perdoar não apaga o que você fez, muito menos as coisas que eu senti quando isso aconteceu. 

Ele ficou quieto meio cabisbaixo e eu fiquei olhando para ele meio esperando uma resposta. Não sei como ele reagiria as coisas que eu falei. Não sei se ele ia sair correndo. Não sei se ele ia começar a gritar. Não sei se ele ia começar a chorar. Não sei de mais nada. Ele finalmente me olhou, depois do que pareceu horas, mas na verdade devem ter sido uns 10 segundos. 

- Eu entendo. - ele falou com o mesmo tom de voz de quando chegou - Sei que as coisas que eu fiz tiveram consequências, e estou disposto a pagá-las. Mas só o seu perdão já é um começo. Mostra que você não guarda rancor das coisas que eu fiz. Mostra que você não tem ranço de mim. E isso já me deixa muito feliz. 

- Lucas, - falei, cortando-o - eu não quero que você crie expectativas. Eu te perdoei porque se eu não te perdoasse, não iria fazer bem para nenhum de nós. Mas eu não estou pronta para ser sua amiga ainda. Nem sei se vou estar algum dia. Então, por favor, não crie expectativas para nós, porque eu não sei se vai existir um nós de novo. 

- Eu sei, Valen. Eu prometo que não vou criar expectativas. - ele me respondeu

- Não. - falei espontaneamente - Por favor, não promete nada. Você me fez uma promessa antes de eu viajar dizendo que seriamos amigos para sempre e olha onde estamos. 

- Tá bom, desculpa. - ele disse baixinho de novo, como se estivesse envergonhado do que tinha acabado de dizer. 

Olhei o meu celular e vi que já passavam de seis horas. Falei que eu precisava ir porque já estava tarde e ele me perguntou se eu iria querer que ele me levasse para casa. Recusei e disse que não precisava, que minha mãe já viria me buscar mas isso não era verdade. Fiquei com vergonha de aceitar porque sei que iria ficar o maior climão. Nos despedimos e cada um foi para um lado. 

Decidi que não ia pedir um Uber para voltar para casa, apesar da hora. Precisava andar para digerir tudo isso que tinha acabado de acontecer. Precisava organizar minha cabeça para eu entender tudo o que ele tinha me contado, tudo o que realmente aconteceu desde que eu fui embora. Precisava separar tudo o que era verdade e tudo o que era só invenção. 

Ele realmente tinha usado a Grazi para me esquecer, porque ele não conseguiu lidar com a minha ausência. Namorou-a por dois anos mesmo não gostando dela e se afastou dos amigos dele por minha causa. Ele basicamente mudou toda a vida dele e foi infeliz por dois anos por minha causa, ou melhor, porque ele não conseguiu lidar com o fato de que só iria me ver dali a muito tempo. Ele admitiu que eu era o amor da vida dele, ou seja, ele ainda gosta de mim. Mas o que tudo isso significa? Ele não mudou? Tudo o que ele fez pra mim durante o tempo que eu estive aqui depois que eu voltei, não era quem ele realmente é? Mas, se ele fez isso tudo porque eu não estava aqui, porque ele continuou quando eu voltei? Percebi que nós ainda precisávamos conversar muito para realmente ter tudo claro, mas essa conversa já ajudou muito. Eu percebi que, apesar de tudo o que ele fez, o Lucas que eu conheço ainda existe. Eu também percebi que ele está realmente arrependido das coisas que ele fez e que está realmente disposto a lidar com as consequências. 

Cheguei em casa e meus pais e meu irmão estavam lanchando. Falei que não estava com fome e subi para o meu quarto. Tomei um banho, comi alguma coisa e deitei. Me perdi nos meus pensamentos e, quando percebi, eu já estava dormindo. 

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Oi gente!

Desculpa por, de novo, atrasar o capítulo. Mas, pra compensar, o cap tá bem grande. Espero muito que tenham gostado e comentem o que vocês acham que vai acontecer nos próximos caps. 

<3<3<3

XxMeMyselfAndIxX



A Distância Não Pode Nos SepararWhere stories live. Discover now