Dia 7 - Descontinuidade

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Vestimos a carapaça, pois somos permanentemente rotulados, seja por outras pessoas ou por nós mesmos. Esses rótulos definem um arcabouço fixo de comportamentos ao qual, intencionalmente ou não, acabamos nos encaixando. Eles servem como scripts para os diversos personagens que temos que interpretar ao longo da vida, sendo muito difícil alterar um rótulo ou crescer e superar os padrões de comportamento associados a ele.

Se pensamos ser solitários, ou nos dizem que somos, acabamos agindo de forma a reduzir nossos contatos, seja nos relacionando com menos pessoas e por menos tempo, ou por estabelecermos relacionamentos mais rasos, em que não nos abrimos ao outro, somos evasivos, omissos ou simplesmente mentirosos. É uma tendência natural agirmos para nos encaixar nas características que acreditamos ter.

Da mesma forma, em nosso relacionamentos cotidianos, vestimos o outro com a imagem que fazemos deles. Amarramos sua evolução com frases do tipo: "Não liga não, ele é assim mesmo". Quando dizemos isso sobre alguém que nos tem como amigo ou parceiro, estamos fechando a porta da evolução e solidificando uma conduta, ainda que nociva. De fato é cruel colocarmos uns aos outros nessa posição, por vezes a pessoa tem plena consciência de que sua vida seria melhor se não repetisse determinados padrões, mas sugerimos, ainda que sem intenção, que isso é parte de quem ela é, de sua identidade.

Construir relacionamentos mais sadios é aceitar a permanente mutabilidade de quem está ao nosso redor. É entender que algumas coisas que achamos que a pessoa faz ou é vai se alterar, principalmente se não reforçarmos essa característica a cada oportunidade. É aceitar também a descontinuidade de qualidades que enxergamos no outro, tanto porque as vezes até o que é bom tem que abrir caminho para que coisas ainda melhores floresçam.

Para isso, temos que abrir mão do orgulho sádico, aquele que eleva nossa moral ao apontar o defeito no outro. Também, do relacionamento destrutivo que nos faz sentir íntimos de alguém, pois conhecemos seus defeitos. Defeitos que nunca poderão deixar de ser, para que nós não percamos o sentimento de conhecer o outro como a palma de nossa mão. Deixe-se surpreender pela novidade que é o outro.


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