- Ah! - ela força um sorriso depois de ler o rótulo. - Eu confundi. Desculpa.

Sua cara desolada é de dar pena, mas não consigo esconder o meu divertimento.

Pietra não comete mais nenhuma gafe grande, apenas me olha atenta e tenta seguir o que eu falo. Ela tem zero talento para culinária.

Pietra esbarra na farinha quando puxava as cenouras distraída, o pacote cai e faz uma pequena nuvem branca pelo ar, suja o chão e Pietra fica estática, com os olhos arregalados e com poucos resquícios da farinha branca. Parece uma criança que foi pega fazendo arte.

- Juro que foi sem querer! - ela se defende realmente magoada, eu só fico parado olhando para ela e tentando decifrar de onde vem tanto desastre.

É linda, maluca, me tira do sério as vezes mas me faz rir a maior parte do tempo e me ajuda. Eu a amo e isso fica claro para mim, não me assusta, apenas me faz ter um pouco mais de esperança.

Que jeito mais estranho de descobrir que ama alguém.

Um dia vou dizer, vou ter a confiança suficiente para mostrar como realmente me sinto, mas por agora posso demonstrar, deixar que minhas atitudes mostrem a ela como me sinto.

- Tá tudo bem. - a
tranquilizo enquanto ela vai tirando a farinha seu corpo e dos cabelos com alguns tapinhas.

- Quando eu falo que cozinha não é meu lugar ninguém acredita. - ela reclama agora rindo.

Jantamos no chão da sala assistindo a um filme de ação. Pietra elogia minha comida o tempo todo e gosto que faça isso.

Depois ela lava as louças e eu seco. No final da noite sentamos na espreguiçadeira que fica na varanda e ela brinca sobre colocar uma flor aqui, não digo nada. Tenho planos para ajudar ela e isso permite com que ela faça qualquer coisa que quiser nesse loft.

Ela encosta sua cabeça no meu ombro, as pernas sobre a minha e eu acariciando suas costas.

Noites românticas. Quem diria que eu ainda passaria por isso.

- Anthony, eu quero te contar uma coisa, não iria fazer isso hoje mas... mas não vejo o porque esperar até amanhã. - ela não me olha mas sinto sua insegurança. - Eu procurei um psicólogo essa semana.

- Porque? - fico curioso e ela finalmente cria coragem para me olhar. – Sei que tem uns parafusos a menos, mas não acho que precise de um psicólogo.

- Anthony, estou falando sério. O assunto é sério. - ela me encara, toca meu rosto com carinho, as coisas começando a clarear minha mente. - O psicólogo não é pra mim.

- Pietra... - Não consigo encontrar nenhuma palavra, nada. Só fico olhando em seus olhos, um tanto indeciso sobre o que sentir.

- Conversei com seu pai no dia da festa dele... - ela busca meus olhos, toca meu rosto com duas mãos. - Ele me contou que procurou ajuda, terapia para você, mas você sempre negava... e ele também me contou sobre o seu transtorno...

- Não é transtorno nenhum! - quase grito e nem ela parece ter se incomodado. - Meu pai fica tentando acabar com a minha culpa, fica tentando fazer com que eu tenha a ilusão de que eu não matei minha mãe!

- Você não matou! Para com isso. - ela pede com a voz calma. - Anthony, eu não aguento te ver assim, se culpando por tudo. Será que você nunca leu sobre transtorno de estresse pós-traumático? Os sintomas...

- Vocês ficam tentando se consolar, não enxergam a realidade.

- Anthony, por favor, escuta. - suas mãos seguram meu rosto me fazendo olha-la. - Você pode ir em uma sessão, vê com seus próprios olhos que o tratamento não é um bicho de sete cabeças, que é bom.

Duologia: Curados Pelo Amor - Um Novo ComeçoWhere stories live. Discover now