Capítulo 28- Antes da meia-noite (parte 2)

4.8K 380 409
                                    

Elas me guiaram pela mata por um caminho diferente. A Noite já tinha caído trazendo consigo toda a sua escureza, seu brilho preto infinito. Mesmo assim o caminho estava surpreendentemente acessível, sendo iluminado pelos milhares de vagalumes. A trilha que seguíamos estava deliciosamente limpa sem lama pros meus saltos radiantes se afundarem e pra barra do meu vestido se sujar ou troncos de árvores caídos no meio do caminho.

Vi algo voando a frente logo a frente. Uma flor brilhante flutuando no meio do nada. Tem como esse lugar parecer mais estranho? Os passos das duas não param mesmo que eu insista em perguntar porque diabos tem uma flor flutuante no meio do caminho (nunca se sabe onde encontrará os perigos por aqui) e vamos nos aproximando cada vez mais até que a imagem se torne nítida.

Não, não é uma flor fantasma brilhante flutuando, é uma flor sendo carregada pelo cabo por uma fadinha que a usa como se fosse um guarda-chuva. Quando nos aproximamos a fadinha com rosto de menina, uma garotinha minúscula do tamanho de um polegar vestida da mesma maneira que Sininho esticou os braços me oferecendo a flor.

Meus dedos mal envolveram o caule delicado e ela havia sumido. Então mais adiante outra flor e outra fada. Dessa vez roxa e não branca como a outra. Vieram mais e mais flores e fadas, azuis, rosas, amarelas, roxas, brancas, vermelhas...Cada flor enfeitava o buquê que se formava nas minhas mãos. Um buquê colorido com flores de todos os tipos pequenas, grandes, de folhas largas ou em forma de copo ou taças...Azaleias, tulipas, margaridas, rosas, lírio, hortênsias e mais milhares de tipos que eu não sei dizer o nome...

Todas formando uma trilha cada vez mais enfeitada com vagalumes e uma música leve e distante que aumentava conforme avançávamos. Isso tem cheiro de surpresa. Isso tem cheiro de Peter Pan armando alguma coisa.

É só citar o nome dele que o meu coração dispara. Garota estúpida. Somos só amigos.

-Tchau garotas.- ouço a voz da Hamadríade atrás de mim seguido de um "vush" e a ninfa agora era uma pantera que disparou a correr por entre a floresta.

Sininho deu de ombros quando olhei pra ela arqueando a sobrancelha. Estávamos finalmente sozinhas depois de muito tempo e resolvi dizer algo que nunca tinha explicitado antes, mas afinal depois de tanta coisa pra quê ficar segurando as palavras...

-Sabe eu senti muito a sua falta. Por mais estranho que isso possa parecer eu senti saudades desse seu jeitinho meio grosso.

A fada voava de costas para o caminho que seguíamos, focando toda a sua atenção em mim. Vejo quando ela arquea a sobrancelha loira e o lábio superior se ergue em resposta.

-Você é masoquista ou algo assim?- sua voz diz delicada e estridente soando como um tilintar de sinos. O que me faz sorrir sem conseguir leva-la a sério.

É impossível levar a Sininho a sério por mais que o que ela diga seja cruel e ordinário. Primeiramente porque ela tem o tamanho do meu dedo do meio e é tão fofa que tenho a sensação de que ela realmente foi tirada de um filme da Disney. Em segundo lugar a voz dela é fina e delicada e lembra realmente o som dos sinos tocando e não tem como você ficar brava com um sino. Em terceiro lugar as expressões dela conseguem ser as mais didáticas possíveis, ela nunca consegue disfarçar um sentimento, nada. Até quando fica nervosa a bochecha começa a ficar fortemente vermelha e ela no final vira um pimentão voador. Impossível não achar engraçado.

-Já decidiu se pode me contar ou não pra onde estamos indo e por que estou tão arrumada assim?- indago para a fada.

-Hoje comemoramos o início da primavera nas regiões sul. E digamos que tem alguém muito interessado em ter você presente no baile de comemoração. - ela falou sorrindo se lembrando de outros bailes antigos.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora