Capítulo 3 - Maria

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- EM REVISÃO


O sol começou a subir no horizonte, logo eu poderia me levantar sem chamar a atenção de ninguém da casa e não precisaria mais me virar na cama com todos esses pensamentos me assombrando.

Eu não havia conseguido dormir muito bem nesses últimos três meses, mas essa noite fora a pior. Tentei dormir logo que me deitei, mas minha cabeça ficava remoendo os momentos antes de eu chegar a Espanha, na casa de vovó, com intensidade. Eu teria de voltar hoje a Nova York e enfrentar James, rever Daniel e recomeçar a minha vida.

Não colocava meus pés lá desde a noite que saímos para nossa estranha segunda lua de mel, a qual eu nem ao menos deixei começar. Lembro-me bem como James estava empolgado no carro a caminho do aeroporto e como a culpa me dominava durante o trajeto, minha cabeça parecia ferver e eu me sentia indo em direção a um precipício.

James passava instruções a Thomas para que ele pudesse passar quantos dias desejasse longe da empresa sem ser importunado, tudo que eu sempre quis, mas meu coração estava pesado. Pensava em Daniel que eu havia deixado mais cedo com a promessa que voltaria, que estaria com ele naquela noite com tudo muito esclarecido a James.

— Pronta, meu amor? — James me fitou assim que o carro parou quase em frente ao pequeno avião que pertencia a James. — Prometo que eu serei todo seu por quanto tempo você desejar. – Plantou um beijo rápido em meus lábios e saiu do carro dando a volta para abrir minha porta.

Eu me sentia cada vez mais em pânico. Como poderia partir com James sem uma explicação a Daniel? Como eu poderia não ir e jogar tudo para o alto, meu casamento, meu marido, como? Meu coração parecia que estava batendo em minha garganta e minha vontade era me jogar no chão e chorar até que alguém viesse em meu socorro com a solução de toda essa bagunça em que eu estava metida.

Desci do carro com a respiração irregular e não consegui dar nem um passo adiante, não podia continuar com isso. Dave Latoy, nosso motorista, percebeu minha inquietação e veio ao meu lado.

— A Senhora está bem? Precisa de alguma coisa?

— Sim, Dave. Que você entre no carro e ligue o motor imediatamente!

James se virou no momento que Dave girou a chave do carro e eu apenas consegui sussurrar:

— Eu sinto muito! — Entrei no carro e pedi que Dave fosse em direção ao Grand Maison, precisava ver Daniel.

Minha garganta continuava fechada eu ainda fazia força para respirar e para conter as lágrimas, Dave me olhava a cada segundo pelo espelho, era discreto demais para fazer qualquer comentário, mas eu sabia que ele estava preocupado. Quando finalmente ele estacionou em frente ao Grand Maison, liberei Dave.

— Obrigada Dave, pode ir agora.

— Ficarei por um tempo aqui na frente Senhora Montgomery, caso precise de mim.
Assenti com a cabeça e praticamente voei para o elevador. Tinha o cartão de acesso da suíte de Daniel, então não foi preciso parar na recepção. O elevador se abriu e ao sair eu a vi, Melissa, vestida em uma das camisas de Daniel.

— Maria! O que você faz aqui? — Ela parecia surpresa e eu estática. — Você precisa de algo, aconteceu alguma coisa?

Eu não conseguia me mexer, não conseguia mais ver nada na minha frente, as lágrimas que começaram a cair me impediam de focar no que quer que fosse, ouvi de longe Daniel chamando Melissa para se juntar a ele no chuveiro e nesse momento eu virei de volta ao elevador e corri. Entrei no carro com Dave e fiz o que qualquer criança machucada faria, corri para meu pai.
Fechei os olhos com força tentando afastar mais uma vez essas lembranças. 

Entre Nós  - DegustaçãoWhere stories live. Discover now