O Papa figo

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Essa história aconteceu com meu avô Júlio, quando ele era criança e morava em... Ih!, esqueci o nome da cidade que ele morava, só sei que ficava no nordeste e era no interior. Lá nessa cidade, as pessoas contavam sobre um tal de Papa figo.

Vô Júlio disse que tudo que era criança na cidade se pelava de medo do Papa figo. Isso porque algumas pessoas diziam que esse Papa figo chupava o sangue e comia o figado das crianças. Outras diziam que ele parecia um homem comum, que andava pela pela cidade carregando um saco nas costas, e ainda contavam que ele tinha orelhas grandes e era meio deformado. No fundo, acho que ninguém sabia a verdadeira aparência do Papa figo, muito menos a sua verdadeira história.

Mas o Papa figo que andava pela cidade do meu avô era um sujeito estranho, esquálido, com olheiras profundas, e muito, mas muito pálido. Usava roupas rasgadas, estava sempre com a barba por fazer e levava um saco de estopa nas costas. Ele sofria de uma doença rara e incurável, e os adultos diziam que ele só ficava vivo porque comia o fígado de crianças saldáveis, e isso lhe dava força e saúde. Se a criança fosse mentirosa, o efeito era ainda melhor: o Papa figo ficava mais forte. E, como meu avô tinha sido uma criança meio mentirosa, sempre ouvia seus pais falando que mais dia menos dia ele seria pego pelo Papa figo.

Pra piorar o clima de horror, rezava a lenda que os lugares onde o danado mais gostava de aparecer eram a porta das escolas ou as praças. Chegava oferecendo brinquedos ou doces, para capturar a criança. Depois levava pro mato e devorava seu fígado.

Vô Júlio sabia de duas crianças da cidade que tinham desaparecido depois de ir atraz de um moço estranho que apareceu oferecendo brinquedos.
Por isso, apesar de fingir que não tinha medo do Papa figo, agradecia nunca ter visto o danado, no fundo morria de pavor só de pensar em dar de cara com ele.

Por causa dessa história, meu avô e seus amigos ficaram superpreocupados quando perseberam que, todos os dias, na hora da saída da escola, havia um homem muito magro, malvestido, esquisito e com um saco nas mãos. Ficava escondido atrás da árvore da esquina, olhava desfarçado, depois sumia, sem ninguém perseber, e reaparecia no dia seguinte. Foi assim durante mais de uma semana. A turma pensou que aquele homem só podia ser o Papa figo. Mas como ter certeza se ele não se aproximava de
ninguém?

Não conseguiram descobrir. Até que um dia o Zequinha, um menino da turma anterior à do meu avô, sumiu da escola e da cidade. Vários dias se passaram e nada do Zequinha voltar.

E o pior é que, depois do sumiço do Zequinha , o homem esquizito tambem não apareceu mais na saída da escola. Vô Júlio e seus amigos tinham certeza de que o Zequinha tinha sido pego pelo Papa figo, mas eles não entendiam por que nenhum adulto da cidade estava tocando naquele assunto. Por que não usavam aquela história pra meter medo? Havia alguma coisa muito estranha no ar.

Os dias foram passando e nada acontecia. Ninguém falava no Zequinha, e nem ele reaparecia. Mas, um dia, quando vô Júlio tava saindo da mercearia com sua mãe, escutou a converssa dela com a mãe de Zequinha. A coitada chegou a chorar dizendo que aquele homem malvado, violento, tinha levado o menino dela. Vô Júlio só conseguiu escutar essa parte da converssa, porque quando as duas viram que ele estava escutando começaram a cochichar.
Vô Júlio ficou desesperado e foi correndo contar tudo pros amigos. Afinal, tinha um mistério na cidade e eles precisavam resolver.

Os meninos bolaram um plano pra tentar sulicionar o mistério do sumiço do Zequinha. E, mesmo com muito medo do que pudesse acontecer, a vontade de viver uma aventura foi mais forte. Então, eles esperaram a noite cair, os pais durmirem, as casas ficarem em silêncio, e sairam escondidos para tentar salvar o Zequinha, se é que ele ainda estava vivo depois de tantos dias desaparecido...

Vô Júlio contou que ele e sua turma achavam que o Zequinha poderia estar vivo, porque era meio magrinho, e, então, o coisa ruim devia estar dando comida pra ele engordar antes de comer seu fígado.

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