The wise boy

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Eu mal podia acreditar no meu azar. Eu trabalhava a meses naquela casa enorme, servindo, cozinhando, lavando, passando, e eu nunca presenciei todos da família de pé e dentro da casa ao mesmo tempo. Mas aquele era o dia, afinal. Sr. e Sra. Styles estavam de pé, Hendrick tomava café sob o teto sobre a minha cabeça, e ali estava, bem na minha frente e usando um sobretudo molhado, que denunciava sua fuga noturna, Harry Styles.

O herdeiro era um pouco diferente dos retratos que haviam pela casa com seu rosto estampado neles. Harry parecia muito mais velho, e seu cabelo estava bem maior que nas representações. Ao contrário de Hendrick, que quase sempre usava roupas formais e tinha uma aparência impecável, Harry usava roupas encharcadas, velhas e abaixo de seus olhos podia-se ver olheiras quase roxas indicando que ele estava dedicando seu tempo para algo que com certeza não era o sono. 

Me olhava de forma curiosa e com cautela, como se tivesse medo de mim, como se eu fosse um animal encurralado prestes a atacar, e eu de fato poderia ser, mas o frio e a atmosfera daquele comodo escuro me deixavam estática. 

  —  Eu vou te ajudar com seu problema de audição e vou repetir um pouco mais alto. —  O garoto pálido já não estava sussurrando —   O que faz aqui? 

  —  Eu posso explicar, por favor, não me denuncie. 

E foi só o que eu conseguir dizer depois de segundos olhando para a cara do Styles, que a todo momento ameaçava me molhar com a água de novo. A impressão que dava é que ele tinha mais medo de mim do que o contrario. 

— Eu espero que possa, porque pelo que eu sei meus pais não contrataram ninguém para ficar aqui a noite.  

Ta de brincadeira comigo? Até ontem eu achava que esse cara era invenção dos pais malucos dele, ou quem sabe que ele era um falecido filho, e agora ele sabe até quantos são e onde estão todos os empregados da casa dele? Matematicamente falando, quais são as chances? Eu respirei fundo e consegui levantar. Harry respondeu ao meu movimento se afastando. A cena era ridícula, uma garota negra, baixa e magricela colocando medo num cara branco, alto e bem mais forte fisicamente do que ela; quais eram as chances? Deixei minhas mãos no alcance de seus olhos para que ele pudesse se sentir mais seguro próximo a monstruosidade que eu era.

  — Eu...

Fui interrompida ao ouvir a porta do porão ser aberta e, num movimento rápido, fui empurrada sobre um pilha de cobertores antigos por Harry. Me encolhi e escondi torcendo para ficar camuflada ali, minhas pernas tremiam só de pensar na possibilidade de ser pega.

Parcialmente iluminado pela luz que vinha de fora do cômodo eu pude ver os sapatos que, a poucos dias, haviam sido polidos por mim. Era Hendrick.

— O que faz aqui, irmãozinho? — A ironia e o desgosto na sua voz eram quase palpáveis de tão densos.

— Eu vim pegar um dos mapas geográficos antigos, para estudo. — Harry disse prontamente da forma mais natural. Eu acreditaria naquilo, e eu estou acostumada a desconfiar até da minha sombra.

— Harry, Harry, Harry. — Hendrick falava pausadamente, adentrou alguns passos no porão e eu me encolhi mais sob a pilha de tecidos empoeirados. — Sempre tão dedicado! Mamãe me mandou aqui, ela te espera para tornarmos café da manhã todos juntos.

Eu não via nada, mas podia jurar que aquele ser desprezível revirava os olhos, com aquele ar de superioridade. Eu sentia tanta repulsa dele, Deus.

— Eu já estou subindo. Avise que vou tomar um banho antes. — Ele falava sem muita emoção.

Uma coisa que não pude deixar de notar era essa forma como os irmãos se tratavam, sem nenhum tipo de emoção. Era como se fossem maquinas funcionando no automático. Isso sem contar que por mais que tivessem traços parecidos, os irmãos Styles eram completamente diferentes, até o momento. Hendrick, impiedoso, repulsivo e debochado. Harry, dedicado, cauteloso e frio. Eram como um contraste eterno, não dava para acreditar que compartilhavam do mesmo sangue, e isso considerando que eu conhecia o segundo herdeiro a menos de 10 minutos.

Hendrick saiu do porão, depois de segundos de silencio, e eu pude parar de tremer. 

  — Saia dai, ele já foi. 

Ouvi a voz sussurrada de Harry e finalmente pude sair daquele amontoado de poeira. Ele continuava a me olhar de cima a baixo como se me examinasse, tipo mercadoria antes de ser comprada. Ele realmente me temia ou só sentia repulsa? 

  — Por favor, me permita uma explicação. — eu pedi — Eu só precisava de um lugar para passar a noite porque minha casa pegou fogo. Estou sem teto! E a chuva ontem castigou muito! —  Eu menti mesmo, e estaria mentindo mais uma vez se eu dissesse que  eu me arrependi no momento seguinte. Sarcasmo e astucia eram as melhores armas que gente como eu podiam portar, talvez fossem as únicas. 

  — Shh! — o moreno fez sinal com o dedo sobre os lábios e se aproximou —    Mas que droga, fale baixo. Se Hendrick sonhar que está aqui vai achar que eu tenho algo a ver com isso. Não posso me arriscar com isso... —  Era possível sentir que a voz de Harry vacilava, quase como se estivesse num conflito interno. Talvez ele estivesse. Talvez fosse muito bom em mascarar as coisas, como o resto da sua família.  

Eu suspiro e vou até os sapatos velhos de couro que havia tirado dos pés no meio da madrugada. Começo a os calçar enquanto Harry observava em silêncio. Naquela fração de segundos em pensava em muita coisa. Pensava sobre Connor, se ele havia chegado bem em casa, pensava nos objetos de valor sentimental (e meramente sentimental) que estava deixando para trás, pensava em para onde eu iria. Eu não tinha uma ideia de como responder aquela pergunta. Era péssimo estar sem perspectiva, e não era como se aquilo fosse algo novo para mim. Desconforto também não era algo novo, mas não deixava de incomodar, de qualquer forma. 

  —  Você não tem mesmo para onde ir, porque tenho certeza de que se tivesse esse porão fedorento seria o ultimo lugar que você pensaria para passar a noite.

Ouvi Harry falar ainda sem muita emoção na voz,de forma lenta, pausada, grave. Que garoto esperto, não é? Me limitei a assentir, saber a hora de usar o sarcasmo também fazia parte de toda a estrategia e o usar como arma. Me coloquei de pé depois que amarrei bem os cadarços das botas marrons, mais surradas que o meu ego (e acredite, isso é muito). 

  — Talvez eu conheça um cara que pode te ajudar. — Ouvi Harry dizer e não pude deixar de o olhar no rosto de forma surpresa. Ele ia me ajudar? — Ele é líder de uma comunidade. Vai poder te dar suporte. Onde está a sua família?

  — Eu não tenho uma. Vivo sozinha.   —  disparei. 

 Aquilo me deixava desconfiada. Nunca havia presenciado tal comportamento vindo de ninguém com a arvore genealógica ou histórico de caráter da família de Harry. Na verdade, eu já estava surpresa o suficiente por ele não ter me exposto na primeira oportunidade, mas aquilo? Eu não confiava, mas eu sabia que estava nas mãos dele, e não podia fazer nada para mudar isso. Aquilo, para mim, era mais perigoso que tudo: Confiar. 

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Pois é, queridos, eu voltei. Mil desculpas pela minha demora, mas tive um bloqueio de criatividade ai e eu realmente espero que o próximo capítulo não demore tanto para sair. ME DIGAM O QUE ESTÃO ACHANDO DA HISTÓRIA! ISSO, PARA MIM, É O MAIS IMPORTANTE DE TUDO!

The Rest Of Us // H.S.حيث تعيش القصص. اكتشف الآن