The happy pill

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   Abri os olhos e já não estava no pequeno apartamento destruído e manchado pelo sangue dos que amo. Não fazia ideia de quanto tempo havia se passado desde aquele acontecimento macabro e também não fazia ideia de onde estava. Parecia uma daquelas sonecas da tarde quando acordamos sem saber se quer nossos nomes, mas não que eu as tirasse com frequência.

Olhei a minha volta e tentei levantar-me, não demorou para que impedissem minha ação. Olhei assustada para a pessoa que segurava meus ombros e me fazia deitar novamente e dei de cara com uma senhora que conhecia muito bem. Senhora Constâncio e seu filho, Connor, estavam bem ali. Eram nossos vizinhos e, por fim, concluí que haviam me tirado de casa depois que perdi os sentidos e me trouxeram para o lar deles. Os dois conheciam a minha família a muito tempo. Minha mãe constumava conversar bastante com a idosa, dividiam experiências, se ajudavam na fome e no frio, duas mães amáveis que faziam de tudo por seus filhos. Já Connor e eu eramos amigos de infância. Costuvamos brincar juntos, viver aventuras pelas vielas da cidade enquanto eramos desbravadores do novo mundo e faziamos varias cicatrizes cujas tenho as marcas até hoje. Quando crescemos fomos ficando mais distantes já que com empregos a manter, comida para providenciar, impostos a pagar e fugas para realizar era difícil arrumar tempo para socializar com as pessoas.

— Como se sente, querida? — Constâncio perguntou-me e eu só consegui emitir um apelo com minha garganta completamente seca e uma voz extremamente rouca que soava como um sussurro.

— Água... — Connor, ao ouvir-me, se apressou ao pegar um pouco de água com uma tigela de alumínio e a aproximar de meus lábios. Logo tratei de beber todo o líquido dali.

— Eles te machucaram, Mack? — o garoto, que nem tinha porte para ser chamado assim, começou com as perguntas.

Eu estava confusa demais. Tentava assimilar suas palavras, sem sucesso.

— Mackenzie, responda-me! — Ele disse mais alto — eles te machucaram?

— Não... Eu estava no trabalho e quando eu voltei... Eu... Eu não vi mais ninguém — Minhas palavras soavam como súplicas de socorro, eram sussurros dolororos para quem os ouvia — Eu... Meu deus Connor... Eles estão todos mortos.

Connor e sua mãe me olhavam e seus olhares transmitiam uma única coisa, e era nítido: Pena.

— Eles estão mortos... Todos eles. — Repetia a frase sem controle. Acredito que dizia mais para mim do que para Connor e Sra. Constâncio. Eu, Mackenzie Daren, não queria acreditar. Era a negação.

Pude ouvir a suplica por silêncio de Connor e em seguida senti seus braços me envolvendo enquanto me sentava no chão gelido do cômodo escuro. Seus "vai ficar tudo bem" e "shh... Não está sozinha" não me faziam sentir melhora alguma.

A partir daquele momento eu já sentia falta de algo. Algo que eu achava ser minha mãe, meu irmão. Não era mentira, mas o que me faltava de verdade naquele instante e eu só fui dar-me conta tempos depois era um propósito. Eu o havia perdido quando balas foram disparadas dentro do lugar que chamava de lar, e elas ceifaram a vida dos que mais prezava. O que eu faria agora? Pra onde iria? Eu não tinha mais nada; nem uma casa, nem uma família, nem uma identidade. O que aconteceria comigo se uma Blitz me achasse e me identificassem? Eu morreria, talvez de uma forma bem dolorosa. Me sentia tão covarde, tão diferente do que era  na maior parte do tempo. Era como se aqueles malditos disparos tivessem levado minha confiança e coragem junto com a vida da minha família.

— Mack querida — Constâncio me chamou — Você precisa sumir daqui, não pode deixar que te peguem.

— O que? Ela não pode ir assim, olha o estado dela! — Connor protestou — Está de madrugada! Ela não vai durar muitoai fora.

The Rest Of Us // H.S.Où les histoires vivent. Découvrez maintenant