Pressiono os lábios com força e solto uma exclamação de irritação. Será que não posso beber o meu chá sem que tenha alguém a observar-me. Já estou bem farta de olhar para o seu rosto bonitinho e pelos vistos vou continuar a vê-lo por algum tempo, mas espero que esse tempo tenha os dias contados.

Giro o rosto para a janela e olho seriamente. Prontamente, Dominick forma uma posição vertical mais séria, juntando as mãos na frente do seu saco de box. Riu. Saco de box. Sim, é a palavra mais explicativa e mais concreta para o que aconteceu há pouco. Descarreguei a minha fúria com o meu joelho na parte sensível de um homem. Além de ser sensível é um dos pontos mais fracos deles.

Como é que eu sei? Bem... A vida no colégio de freiras não era assim tão negativa. Todas as sextas-feiras, havia uma sessão de leitura na biblioteca principal. Uma sessão secreta que envolvia livros eróticos e bem explicativos. Tudo começou quando uma aluna do último ano trouxe das férias um livro bem picante e emprestou a uma das minhas colegas de aula. Nessa altura andávamos no décimo primeiro ano e aquele livro que ainda bem me lembro do seu nome, andou a circular secretamente pelas alunas que se sentavam atrás na sala de aula. Eu e a Phoebe eramos duas delas. O livro chamava-se After, foi o primeiro livro que li com cenas eróticas e logo depois veio o segundo, o terceiro e assim continuo até hoje. Quem me começou a fornecer os livros a partir daquele dia foi a namorada de Noah, o meu meio irmão. Os livros que ela os lia, mandava depois para mim.

Tenho uma mala cheia deles, graças a ela, que só a vi uma vez, mas que telefonava todos os dias para o colégio, ao contrário de Noah.

Com os olhos ainda postos nos de Dominick, ouço uma pessoa a entrar na cozinha. Não olho para verificar de quem se trata, mas uma coisa é certa, os meus irmãos não são.

— Minha querida...

Estanco a respiração ao ouvir uma voz muito conhecida da minha infância. Ela era uma das pessoas que via regularmente enquanto ainda tinha liberdade para viver nesta casa.

Giro lentamente a cabeça na sua direção passando a ignorar Dominick. Lá estava ela. Com o seu famoso cabelo castanho atado num rabo de cavalo e dentro da sua farda cinzenta habitual. A minha Blenda. A minha cozinheira favorita, na qual tenho um carinho muito especial.

— Blenda...— Sussurro o seu nome numa voz trémula ao sentir a emoção a crescer dentro do meu peito a cada compasso que ela dá na minha direção.

Desencosto-me da bancada colocando a caneca sobre ela. Blenda pára na minha frente e sorri com ternura. Aperto os lábios e aguento firme no lugar, mas mesmo assim começo a sentir as lágrimas a atrapalhar a visão.

— Como está meu moranguinho?

Mostro-lhe um pequeno sorriso e limpo a pequena lágrima que acaba de escorrer pelo o canto do olho. Mordo o lábio quando este começa a tremer comunicando-me que estou a ponto de pisar a minha linha de risco. Inspiro profundamente e dou-lhe mais um sorriso ao ouvi-la a chamar-me, mais uma vez de moranguinho. O meu famoso apelido que ficou gravado em mim quando comecei a apaixonar-me pela sua deliciosa tarte de morangos. Se não fosse por essa razão, o apelido ficaria na mesma. Adoro comer morangos a toda a hora.

Blenda abre os braços, convidando-me a entrar neles. Olho os durante algum tempo tentando tomar a iniciativa de avançar, mas não consigo. É Blenda que toma a iniciativa e avança para me abraçar. Os seus braços magros envolvem o meu corpo com cuidado e com bastante ternura. E ali, naquele preciso momento desmancho-me em lágrimas envolvendo o seu corpo num abraço forte, com medo que ela se vá e deixe-me sozinha para enfrentar a vida que tenho daqui para a frente. Porque a outra vida, de à onze anos atrás, foi desmanchada e pintada em tons de vermelho e preto. E essa vida está presente no passado e presa no futuro.

PERIGOSAMENTE TENTADORWhere stories live. Discover now